Economia

Reunião do G20 começa com temor sobre guerra comercial de Trump

Além da questão do protecionismo, outros dois temas que farão parte do encontro são o financiamento da infraestrutura e as criptomoedas

Trump: o protecionismo do presidente dos EUA é tema central do G20 (Kevin Lamarque/Reuters)

Trump: o protecionismo do presidente dos EUA é tema central do G20 (Kevin Lamarque/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de março de 2018 às 10h51.

Última atualização em 19 de março de 2018 às 10h53.

Buenos Aires - A reunião dos ministros das finanças do G20, o grupo dos países mais ricos do mundo, começa nesta segunda-feira, 19, em Buenos Aires marcada pelo otimismo com a recuperação da economia mundial, que deve crescer perto de 4% em 2018, mas com crescente temor de uma guerra comercial, após a decisão dos Estados Unidos de sobretaxar as importações do aço e alumínio.

Além da questão do protecionismo, outros dois temas que farão parte do encontro são o financiamento da infraestrutura e as criptomoedas.

O encontro do G20 vai reunir nesta segunda e terça-feira, em Buenos Aires, 22 ministros de finanças, 17 presidentes de bancos centrais e dez titulares de organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Brasil será representado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que chegou na noite de do domingo à capital argentina, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, que está na cidade desde sexta-feira.

No final de semana, documentos do FMI e do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que é formado pelos 500 maiores bancos do mundo, alertaram para os riscos da crescente onda protecionista na economia mundial.

O presidente do IIF, Tim Adams, ressaltou que práticas protecionistas estão aumentando não apenas nos EUA, mas em várias regiões do planeta.

No ano passado, foram nada menos que 700 medidas protecionistas ao comércio internacional levantadas pelos países, afirmou o executivo. Por causa disso, o tema vai estar "no topo" das preocupações dos ministros que se reúnem a partir desta segunda, disse ele.

O diretor do departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, vê baixa probabilidade de uma guerra comercial que provoque distorções nos fluxos internacionais de capital, mas ressaltou que alguns países já pagam um preço por algumas mudanças no comércio mundial.

O México, que está em renegociação com a Casa Branca e o Canadá sobre o Nafta já registra dois anos de investimento com crescimento negativo, ressaltou o diretor do FMI.

Documento do FMI para a reunião do G-20 divulgado no fim de semana alerta que o reaparecimento de restrições unilaterais ao comércio internacional pode contribuir para aumentar a tensão e estimular o aumento do protecionismo mundial, afetando as cadeias de fornecimento mundial e, no longo prazo, a produtividade.

Se as preocupações com o comércio internacional são crescentes, os dirigentes têm se mostrado mais otimistas quando o assunto é crescimento da economia mundial.

"A expansão continua a se fortalecer", afirma o relatório do FMI, que prevê expansão de 3,9% este ano e em 2019. Em 2016, o PIB havia crescido 3,2% e no ano seguinte, 3,7%.

Para o economista e vice-chairman do Morgan Stanley, Reza Moghadam, o quadro atual da atividade econômica mundial é muito favorável e vários países estão crescendo acima do potencial.

Os bancos centrais das principais economias mundiais foram bem sucedidos em estimular a expansão da atividade no pós-crise financeira mundial e agora essa estratégia está chegando ao seu final.

A dúvida, porém, é em que velocidade esta normalização da política monetária vai ocorrer, o que coloca riscos para o cenário. O economista também ressalta que outro risco para o cenário é o de retaliações comerciais.

A estrategista da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, Isabelle Mateos y Lago, afirma que há a preocupação de retaliações vindas da China e da União Europeia após a decisão de Donald Trump de sobretaxar as importações de aço e alumínio.

Uma maior turbulência no comércio mundial pode afetar a inflação mundial, o que significa taxas de juros mais alta, reduzir os volumes de exportação e importação e, pior, pode ter efeito danoso na confiança dos agentes. "A confiança é o transmissor número um de choques pelo mundo", afirmou.

Já para a normalização da política monetária dos bancos centrais o cenário é um pouco menos incerto. A estrategista do BlackRock ressalta que a expectativa é que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) continue a agir de forma gradual no processo de elevar os juros. Também não há pressa para o Banco do Japão e o Banco Central Europeu mudarem suas políticas.

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