Rua 25 de Março, no centro da cidade de São Paulo. (Eduardo Frazão/Exame)
Ligia Tuon
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 16h01.
Última atualização em 13 de novembro de 2020 às 16h49.
A atividade econômica seguiu em setembro num ritmo mais acelerado que o previsto em abril, pior momento da crise do coronavírus.
A divulgação de uma bateria de dados sobre o terceiro trimestre, concluída nessa sexta-feira, 13, confirma esse cenário. Para os três últimos meses do ano, porém, as preocupações só crescem, o que pode fazer com que o bom desempenho não seja refletido no resultado do ano.
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O IBC-BR divulgado hoje — uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB) — reforça a ideia de recuperação acelerada, com alta de 9,5% no trimestre. E, embora ainda esteja 2,5% abaixo do nível pré-pandemia, já avançou 14,2% desde abril.
Da mesma forma, a performance de setembro vista em indústria, comércio varejista e serviços também passaram recados positivos.
Nos cálculos da Necton, a economia avançou 11,22% de julho a setembro ante o período que foi de abril a junho. A projeção anterior da corretora era uma alta de 6%. Com a mudança, a casa revisou o PIB esperado para 2020 de uma queda de 5,9% para um recuo de 4,2%.
Os fatores que determinaram o cenário mais positivo são a interrupção mais curta do que a esperada num primeiro momento das atividades não essenciais, e o montante significativo de gasto público para estimular a economia: "Não fosse este conjunto de recursos estaríamos facilmente discutindo uma queda de 10% do PIB em 2020", diz a corretora em nota.
Da mesma forma, a MB Associados, também melhorou significativamente sua expectativa para o PIB do ano, para um recuo de 3,8% ante uma queda de 4,8% anteriormente. Aos gastos do governo, cujo principal destino foi a distribuição do auxílio emergencial, a consultoria acrescenta o valor da exportação de commodities, inflado por conta do dólar valorizado, ao pacote de benesses para o PIB.
A Exame Research, braço de investimento da Exame, por sua vez, também melhorou o resultado previsto para o terceiro trimestre para uma expansão de 9,6% da economia brasileira ante 8,6%.
O resultado do ano, atualmente previsto em uma queda de 4,8%, poderá ser melhorado no fim deste mês, segundo o economista da casa, Arthur Mota, mas vai depender da previsão do quarto trimestre, que ainda pode piorar.
Os efeitos da redução do auxilío emergencial na confiança do consumidor e do empresário serão determinantes para essa análise, segundo Mota, assim como uma eventual segunda onda de contágio de covid-19, ainda que pequena.
A Kairós Capital melhorou sua previsão para o terceiro trimestre, para um avanço de 9,2% a partir de uma queda pouco maior que 8%. Para o ano, a expectativa segue em recuo de 5%, por causa das incertezas ligadas ao quarto trimestre, com destaque para a preocupação de uma segunda onda de contágio e decisões da política fiscal.
Apesar da queda recente no número de casos e óbitos de covid-19 no Brasil — passados meses de um persistente cenário de platô — há um sinal de alerta às autoridades. Nove das 27 capitais brasileiras tiveram tendência de alta em casos de coronavírus, segundo boletim de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz.
"Governo e Congresso têm dado sinais de que vão respeitar o teto na aprovação do Orçamento. Podem aumentar um pouco o Bolsa Família, mas dificilmente vão conseguir seguir o plano que estava sendo estudado, de um programa mais amplo", diz Andre Loes, sócio da Kairós. Isso fará com que haja uma queda da renda das famílias sem que a renda do trabalho tenha voltado completamente, diz. "Não está claro o ritmo de recuperação da população ocupada", diz.
Pela base de comparação, o quarto trimestre terá um desempenho muito inferior ao do terceiro, que pode ser de um PIB menor que 1%, segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB. A grande dúvida ainda é como o varejo e os serviços vão se comportar com a redução do valor das parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 depois de setembro:
"Alguma sinalização nos indicadores de confiança já está aparecendo de forma negativa", diz Vale. O quarto trimestre vai ser muito importante para sinalizar o que significará para a atividade a saída do auxílio e no ano que vem. Se o governo optar por manter no ano que vem apenas um Bolsa Família estendido, segundo o economista, poderemos até ter ver uma retração no primeiro trimestre.
"Ou seja você continua sinalizando um 2021 muito ruim de crescimento voltando, mas muito pouco, de recuperação muito lenta e dificuldades crescentes do lado fiscal, não vejo mudanças nesse sentido, só piora, na verdade.
O resultado efetivo para o PIB brasileiro no terceiro trimestre será divulgado apenas dia 3 de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).