São Paulo – Visualize o seguinte ciclo: uma usina de bioenergia usa biomassa, que inclui árvores, restos de plantas, ou lascas de madeira, para gerar eletricidade ou combustível e, em seguida, captura o carbono liberado na atmosfera pelo processo de transformação, bombeando-o para reservatórios geológicos subterrâneos.
A técnica descrita acima chama-se Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, ou simplesmente BECCS, na sigla em inglês. Ela vem ganhando apelo nos últimos anos por ser uma “tecnologia negativa em carbono”.
Por esta característica, a técnica é apontada pela terceira parte do quinto relatório do IPCC, o painel de experts do clima da ONU, como uma alternativa para conter as mudanças climáticas, segundo consta em um rascunho do documento obtido pelo jornal britânico The Guardian.
Além de não emitir gás de efeito estufa na geração de energia (já que suga e armazena toda emissão), essa técnica também reduz a concentração de CO2 no ar através do repetido processo de cultivo de espécimes vegetais – que vão crescer e absorver dióxido de carbono – para posterior conversão da biomassa em energia.
Críticos da tecnologia já se manifestam, questionando, principalmente, os efeitos ainda desconhecidos do processo de armazenamento do dióxido de carbono na terra.
Eles argumentam que as chamadas técnicas de "emissões negativas" não estão bem fundamentadas cientificamente e que seus riscos ao meio ambiente e à saúde humana (podem ocorrer vazamentos, por exemplo), precisam ser melhor conhecidos.
Outra preocupação é com a conversão em grande escala de terras para a tecnologia, que poderia ameaçar os meios de vida de milhões de pessoas em países em desenvolvimento, da mesma forma que os biocombustíveis têm sido associados à grilagem de terras e aumentos de preços de alimentos.
“São propostas fantasiosas que distraem a atenção da solução óbvia, que é reduzir o uso de combustível fóssil", disse ao jornal Almuth Ernsting, co-diretor do observatório de bioenergia da Ong Biofuelwatch.
O rascunho do relatório da ONU admite que "os custos e riscos potenciais de BECCS estão sujeitos a considerável incerteza científica", e pondera que tais tecnologias de remoção de CO2 "podem convidar à complacência no tocante aos esforços de mitigação".
Em abril de 2013, segundo um relatório especializado da Universidade de Stanford, existiam 16 projetos de BECCS em pequena escala e em vários níveis de desenvolvimento pelo mundo.
Terceira parte do IPCC – a mitigação
De hoje até o próximo sábado (12), líderes governamentais e cientistas se reúnem em Berlim, na Alemanha, para rever a terceira parte do quinto relatório do IPCC.
O sumário para formuladores de politica será divulgado no domingo e apontará caminhos para a mitigação das mudanças climáticas.
O lançamento ocorre duas semanas após a divulgação da segunda parte do relatório, que fez um diagnóstico do clima extremo e seus efeitos para a vida no planeta.
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1. Uma janela para o futuro
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1/9 (Getty Images)
São Paulo - É comum ouvir no debate sobre
mudanças climáticas que o pior ainda está por vir. Ao olhar para foto de uma mãe em prantos com uma criança no colo, na cidade de Tacloban, nas Filipinas, que foi detruída por um tufão no ano passado, não dá para ignorar o óbvio: nós já vivemos o pior que poderíamos em nossa geração. E nossos filhos e nossos netos enfrentarão - se nada for feito até lá - o que de pior poderão viver no seu tempo. É exatamente isso o que mostra a segunda parte do
IPCC, o painel de cientistas da
ONU, que faz um diagnóstico do clima e de seus efeitos para o
meio ambiente, as pessoas, as cidades, os governos, o mundo como o conhecemos hoje. O alerta vem na forma de previsões que consideram o aumento de 2 a 4 graus Celsius na temperatura do globo. Nos próximos slides, você vai conhecer os principais perigos que o futuro nos reserva em frente da atual falta de ação dos governos.
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2. 1 – Ameaças à mesa
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2/9 (Getty Images)
O relatório traz uma conta que, além de salgada, não fecha: a produtividade agrícola pode cair 2% por década até o final do século, ao passo que a demanda deverá aumentar 14% até 2050. É uma perda preocupante contra a qual será preciso lutar, sob a dura pena de mergulhar bilhões de pessoas na fome – um mal que atinge um em cada sete habitantes do planeta.
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3. 2 - Mais pobres e mais famintos
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3/9 (Christopher Furlong/Getty Images)
A escalada dos preços dos alimentos é uma questão de vida e morte para as populações que vivem em países em desenvolvimento e que gastam até 75% de sua renda para conseguir comer. Como se não bastasse, os mais pobres também são os mais afetados pelos extremos do clima, uma vez que seus países estão menos preparados para lidar com essas alterações.
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4. 3 – Imigrações em massa
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4/9 (Getty Images)
Segundo o documento, "centenas de milhões de pessoas" serão forçadas a migrar por causa de inundações costeiras e cheias fluviais e outras catástrofes que afetarão suas terras. São os chamados refugiados climáticos.
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5. 4 - Escassez de água
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5/9 (Nacho Doce/Reuters)
A água também se tornará mais escassa. Considerando um cenário com uma população mundial 7% maior do que a de hoje, para cada aumento de um grau na temperatura, haverá 20% menos disponibilidade de água.
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6. 6 – Riscos à saúde humana
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6/9 (Greenpeace/Divulgação)
As ameaças à saúde são um tema comumente negligenciado nas discussões sobre mudanças climáticas, que costumam focar no debate sobre o meio ambiente e efeitos econômicos. Mas o novo relatório do IPCC mostra que os riscos à saúde são reais e precisam ser encarados. Na lista, entram o aumento de doenças transmitidas por mosquitos ou típicas de zonas úmidas e incremento da mortalidade e de doenças provocadas pelo calor. Outro perigo vem da contaminação de alimentos e da água consumidos nas regiões mais vulneráveis do globo.
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7. 6 - Aumento de cheias
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7/9 (REUTERS/Supri)
Não são poucas as regiões no mudo vulneráveis à elevação do nível do mar e às cheias de rios, e a situação pode piorar. Segundo o novo relatório do IPCC, centenas de milhões de pessoas correm risco de ser afetadas por cheias no litoral, a maior parte na Ásia, até 2100. Até lá, o número de vulneráveis poderá triplicar considerando o pior cenário de aquecimento, de mais 4.8 graus Celsius, em comparação com o cenário mais brando, de até 1,7 graus.
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8. 8 - Oceanos pedem ajuda
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8/9 (Jenny W / SXC)
Como a água, que ajuda a regular a temperatura do corpo humano, os oceanos são os maiores aliados da Terra para manutenção do seu equilíbrio climático. Eles absorvem grande parte da radiação solar que atinge o Planeta e também funcionam como sumidouros de dióxido de carbono (CO2). Mas esses heróis do clima já se revelam vítimas do aquecimento global. Desde o início da era industrial, a acidez das águas do planeta aumentou 30% alcançando um nível sem igual nos últimos 55 milhões de anos. Várias formas de vida marinhas podem ser prejudicadas. O relatório destaca que a acidificação interfere principalmente no desenvolvimento das espécies com carapaça ou esqueleto de carbonato cálcico, como corais e moluscos. O estudo também alerta para uma grande redistribuição pelos oceanos em todo o mundo até 2060, diminuindo nas regiões tropicais e crescendo nas latitudes médias e altas, em decorrência das mudanças climáticas.
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9. 9 - Prejuízos econômicos
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9/9 (AFP)
O Painel da ONU não define com exatidão as possíveis perdas econômicas decorrentes das mudanças climáticas e catástrofes naturais. Mas faz uma estimativa conservadora, que dá uma ideia dos riscos ennolvidos: as perdas econômicas podem variar de 0,2% a 2% do PIB mundial. Considerando a pior hipótese, estamos falando de US$ 1,4 trilhão de dólares por ano.