Economia

Reservas podem e devem ser utilizadas, diz Tombini

"As reservas são um seguro. Pode e deve ser utilizado", afirmou durante uma entrevista que surpreendeu os jornalistas por não estar agendada


	Alexandre Tombini: o presidente do BC concede poucas entrevistas à imprensa, mas aproveitou a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação nesta quinta-feira, 24, para deixar o seu recado para o mercado
 (REUTERS/Sergio Moraes)

Alexandre Tombini: o presidente do BC concede poucas entrevistas à imprensa, mas aproveitou a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação nesta quinta-feira, 24, para deixar o seu recado para o mercado (REUTERS/Sergio Moraes)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2015 às 17h13.

Brasília - Após deixar em aberto por várias vezes as insistentes perguntas dos jornalistas sobre o uso das reservas internacionais para conter a alta do dólar, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, acabou dando uma sinalização um pouco mais clara a respeito do seu pensamento sobre o uso dessa ferramenta.

"As reservas são um seguro. Pode e deve ser utilizado", afirmou durante uma entrevista que surpreendeu os jornalistas por não estar agendada.

Tombini concede poucas entrevistas à imprensa, mas aproveitou a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação nesta quinta-feira, 24, para deixar o seu recado para o mercado, que apresentava alta do dólar e dos Dis.

Ele acrescentou que o BC vem atuando em algumas frentes, como a venda de swaps, cuja posição da instituição é de US$ 100 bilhões ou cerca de 28% das reservas internacionais.

"Instrumento é bastante útil e vem sendo reciclado. Temos visto isso nas nossas avaliações internas. Programa tem objetivo de segurar a estabilidade da economia brasileira", explicou.

Até então, o presidente vinha desconversando sobre o uso efetivo das reservas, dizendo que "certamente" nesse processo de tentar reduzir volatilidade todos os instrumentos estão à disposição do BC e que continuam no seu raio de ação num período à frente.

"A atuação do BC deve ser no sentido de fazer com que os mercados funcionem. No Brasil, temos um mercado de câmbio flutuante. E expressa toda a sorte de variáveis econômicas e não econômicas e a lógica é a da flexibilidade da taxa de câmbio", afirmou.

Ao repetir numa das vezes que todos os instrumentos estão à disposição da autoridade, Tombini disse que como se dará, quando e se o BC realmente vai utilizar esse ou aquele instrumento é algo que se verá no acompanhamento diário do mercado de câmbio.

"Todos os instrumentos estão no raio de ação do BC, caso seja necessário à frente", repetiu. Questionado sobre se sofre pressão do governo, além do mercado para usar as reservas, Tombini disse que não vê o BC limitado ou compelido a usar determinado instrumento.

Volatilidade

O presidente do Banco Central fez questão de frisar que trabalha em parceria com o Ministério da Fazenda e com o Tesouro Nacional para reduzir a volatilidade do mercado.

Segundo ele, o BC e o Tesouro e a Fazenda estão trabalhando em coordenação. "Ambas as instituições têm instrumentos adequados para fazer esse processo de retirada de volatilidade e ansiedade desses mercados", disse.

Selic inalterada

Tombini afirmou que uma de suas mensagens, ao participar da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, é reafirmar sua estratégia de política monetária, de manutenção do atual nível, em 14,25% ao ano, por um período suficiente prolongado.

"Essa é a estratégia do BC. As recentes elevações observadas em taxas de mercado, movimento que vem se intensificando nos últimos dias, na nossa visão refletem aumento dos prêmios de risco aos olhos do mercado e na visão do BC não devem ser entendidas como expectativa para trajetória futura das decisões BC", comentou.

Em seguida, ele fez questão de repetir que a estratégia é a manutenção da Selic no nível atual. "De outra forma, a elevação da taxa de juros nos mercados não servirá de guia para a política monetária nos próximos meses. A política monetária é de estabilidade da Selic por um período suficiente prolongado", disse.

'Folga'

O presidente do Banco Central avaliou a "folga" na economia brasileira tem aumentado. Isso ocorre, de acordo com ele, tanto pela evolução mais recente do mercado de trabalho quanto por mais espaço no setor industrial.

"Podemos ver isso por meio da capacidade da indústria e a evolução do PIB é de 2,7% para este ano. Qualquer que seja o potencial, a economia brasileira está abaixo, essa folga tem se ampliado e esse fator também milita para a contenção das expectativas", pontuou.

Para o presidente do BC, as expectativas podem estar contaminadas por esse novo padrão de volatilidade. "Há fatores que podem tirar esse excesso de premio que temos visto nos mercados financeiros e vamos avaliar isso ao longo do tempo", afirmou.

"Vamos ver logo mais ideia de vigilância do BC aos desvios significativos da inflação em 2016", disse, referindo-se à apresentação do RTI.

Tombini ressaltou o aumento das expectativas, que , segundo ele, não são formadas isoladamente e refletem momento específico dos mercados financeiros.

De um lado, conforme o presidente, tem-se um real mais depreciado e, de outro, um aperto nas condições financeiras do mercado.

O primeiro fator, conforme Tombini, milita no sentido de aumentar a trajetória de inflação o segundo limita esse processo.

Acompanhe tudo sobre:Alexandre TombiniBanco CentralCâmbioDólarEconomistasMercado financeiroMoedasPersonalidades

Mais de Economia

Haddad: reação do governo aos comentários do CEO global do Carrefour é “justificada”

Contas externas têm saldo negativo de US$ 5,88 bilhões em outubro

Mais energia nuclear para garantir a transição energética

Boletim Focus: mercado reduz para 4,63% expectativa de inflação para 2024