Os analistas estimam que o governo reduza a taxa Selic para não menos que 10% até maio, tornando este o mais breve ciclo de redução da taxa desde 2002 (Elza Fiúza/ABr)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2012 às 08h32.
Brasília - A resistência da economia brasileira em meio ao desaquecimento mundial está limitando o espaço para o Banco Central ampliar o corte da taxa básica de juros, levando investidores a ampliar apostas de que o ciclo de afrouxamento monetário será o mais curto em uma década.
A taxa do contrato de juros futuros para janeiro de 2013, o mais negociado, subiu 39 pontos-base, ou 0,39 ponto percentual, para 9,63 por cento desde o final de novembro, após vendas no varejo acima das expectativas e taxa de desemprego em patamar recorde de baixa sugerirem que a contração vista no terceiro trimestre foi um ponto fora da curva, e não um processo de desaceleração duradouro.
Os analistas estimam que o governo reduza a taxa Selic para não menos que 10 por cento até maio, tornando este o mais breve ciclo de redução da taxa desde 2002. Em novembro, eles esperavam que a taxa fosse reduzida para 9,5 por cento.
Enquanto os analistas esperam que o Banco Central reduza a taxa básica de juros pela quarta vez consecutiva na reunião que termina amanhã, levando a Selic para 10,5 por cento ao ano, a economia mostra cada vez menos necessidade de estímulos monetários. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central de novembro mostrou a maior alta em 19 meses.
“O impacto da situação internacional na economia brasileira foi superestimado”, disse Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank. “A atividade continua a se expandir em ritmo robusto, apesar da estabilização que vimos no terceiro trimestre.”
O Brasil foi o segundo membro do Grupo das 20 nações mais ricas, depois da Turquia, a começar a reduzir a taxa básica de juros para proteger a economia local da crise da dívida na Europa. Indonésia, Israel, Chile e Noruega seguiram a decisão, enquanto o governo da presidente Dilma Rousseff intensificou esforços para fortalecer o crescimento econômico com redução de impostos e retirada das restrições à expansão do crédito.
Força surpreendente
O BC divulgou ontem que o IBC-Br, uma referência para o Produto Interno Bruto, deu um salto de 1,15 por cento em novembro, superando as estimativas de 20 dos 21 analistas sondados pela Bloomberg. A expectativa mediana na pesquisa era de alta de 0,9 por cento. O resultado reverteu três meses de queda na atividade, no que foi a contração mais longa desde o período que seguiu a quebra do Lehman Brothers Holdings Inc. em 2008.
Sinais de que a demanda doméstica segue robusta levaram operadores a subir projeções para inflação. A taxa implícita de inflação, a diferença entre o rendimento dos títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo e dos papéis prefixados com vencimento em 2015, mostra investidores apostando que a alta de preços ao consumidor vai ficar em média em 5,72 por cento nos próximos quatro anos, comparado a 5,57 por cento no fim de novembro.
Ao fim do atual ciclo, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, terá reduzido a Selic em 250 pontos-base, ou 2,5 pontos percentuais, de acordo com estimativas da Bloomberg baseadas nos contratos de juros futuros. Em novembro, os operadores apostavam em um corte total de 3 pontos percentuais.
Em 2002, o então presidente do BC, Armínio Fraga, baixou o juro básico em 100 pontos-base num período de seis meses e inverteu subitamente a direção da política monetária, em reação à queda de 40 por cento do real diante da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais.
Mesmo com o relaxamento monetário, o juro ajustado pela inflação no Brasil, de 4,5 por cento, continua sendo o mais alto do Grupo dos 20. O juro real é de 2,5 por cento na China, 1,9 por cento na Rússia e -1,8 por cento na Índia.