Economia

Renda cai para 7 em cada 10 famílias nas favelas

Levantamento realizado pela empresa de pesquisas Data Favela indica risco de convulsão social em virtude da pandemia

Renato Meirelles, do Locomotiva: há risco de convulsão social (Divulgação/Divulgação)

Renato Meirelles, do Locomotiva: há risco de convulsão social (Divulgação/Divulgação)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 24 de março de 2020 às 11h19.

Última atualização em 25 de março de 2020 às 09h35.

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, 70% das famílias que moram em favelas tiveram a renda diminuída, segundo um levantamento realizado pela empresa de pesquisa Data Favela, com mais de mil moradores de 262 comunidades. “Por mais que isso soe alarmista, esse quadro pode indicar uma situação de convulsão social num futuro próximo”, afirma Renato Meirelles, fundador do Instituo Locomotiva, que criou o Data Favela em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa).

A pesquisa também indica que 84% dos moradores desses territórios projetam uma redução na renda. No Brasil existem 13,6 milhões de pessoas morando em favelas. Para 71%, o trabalho é a principal fonte de renda e 86% já sentem uma queda no movimento ou nas vendas da empresa onde exercem sua atividade profissional.

Por conta da situação, 80% estão cortando gastos. Caso percam a principal fonte de renda, 2 em cada 3 moradores de favelas não conseguiriam pagar as contas, 86% afirmam que teriam dificuldades para comprar comida, no período de um mês, e 72% não conseguiriam manter o padrão de vida por nenhum período.

Para Celso Athayde, fundador da Cufa, a pandemia atinge a população de forma desigual. “A pesquisa deixa claro que milhões de brasileiros vão permanecer em casa com a geladeira vazia”, afirma.

A situação é agravada pelo fechamento das escolas e pela informalidade. Quase a totalidade (97%) dos moradores de favelas mudaram a rotina em função do vírus. Mais da metade deles têm filhos e 86% das crianças não estão frequentando a escola. Com os filhos em casa, 84% das famílias relatam que os gastos aumentaram.

Entre os que possuem emprego, apenas 19% têm carteira assinada e 47% trabalham de maneira autônoma. Para Meirelles, do Locomotiva, a única forma de ajudar essa população é por meio da transferência direta de renda.

“Cesta básica ajuda, mas é, de novo, um morador da cidade dizendo para o morador da Favela o que ele tem direito. Mais efetivo seria transferir renda diretamente para que eles pudessem comprar o que precisam”, afirma Meirelles. “Se não houver ações efetivas, públicas e privadas, para garantir uma renda mínima, o adiamento de contas, garantindo provimento de produtos básicos, como alimentos, internet e produtos de limpeza, pode haver revolta das favelas”.

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