Bolívia: com 80 mil bolivianos no Brasil, o país é um dos principais destinos das remessas (Friedman Rudovsky/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2014 às 08h33.
São Paulo - No dia 6 de agosto, bolivianos que foram ao Memorial da América Latina comemorar os 189 anos da independência do país puderam não só ver desfiles e bandas com música tradicional como também enviar dinheiro para os familiares que ainda vivem na Bolívia. O valor enviado ao exterior via remessas aumentou 89,8% em um ano, segundo dados do Banco Central. Desde abril, as remessas somam mais de R$ 100 milhões por mês, batendo recordes consecutivos de volume.
A Bolívia, com seus quase 80 mil imigrantes no Brasil, figura como um dos principais destinos de remessas. Dê olho nesse filão, corretoras tentam cada vez mais entrar nas comunidades de imigrantes. Na festa boliviana, no início do mês passado, o Remessa Expressa, serviço da corretora Cotação, participou das celebrações com um estande.
O investimento das corretoras na ampliação do número de pontos de remessa é constante. Pela Remessa Expressa, é possível fazer a transferência em algumas lojas da própria corretora, mas também em lojas parceiras, que podem ser lan houses, locutórios (empresas de serviço onde é possível fazer, por exemplo, ligações internacionais), varejistas do setor têxtil, cabeleireiros, agências de turismo e de venda de passagens e outras. "A aproximação do local onde o imigrante mora ou trabalha facilita o serviço", diz o diretor da Cotação, Alexandre Fialho.
Na Cotação, a quantidade de remessas cresceu 65% em julho deste ano em relação a julho de 2013, informou Fialho. O correspondente ganha na fidelização do cliente, já que passa a oferecer mais um serviço ao imigrante, e também financeiramente, pois recebe uma comissão por remessa. "A demanda é tão grande que, para alguns correspondentes, o serviço se torna a principal fonte de receita."
Na Western Union, é possível fazer o envio de dinheiro em 13 mil pontos no Brasil. Para se aproximar do público, além de participar de comemorações locais como festas folclóricas, foram feitas parcerias com redes do varejo como Riachuelo e Gazin. "O mercado de remessas está intimamente ligado à dinâmica da imigração. A partir de 2007, em razão do boom econômico e do pleno emprego, o Brasil se tornou um polo atrativo de imigrantes", diz o diretor de desenvolvimento de negócios para América Latina da Western Union, Luiz Eduardo Citro.
No ano passado, o mercado de remessas movimentou US$ 580 bilhões. "Se fosse um país, seria o 21.º PIB mundial, à frente de nações como Suécia e Noruega", compara Citro, que também é presidente da Associação Brasileira das Empresas Prestadoras de Serviços de Microtransferência de Dinheiro (ABM Transf).
Envio seguro
Os ganhos dos imigrantes ao usar o serviço são na agilidade - as corretoras afirmam que em até uma hora o familiar já pode retirar o dinheiro em algum ponto parceiro no país de destino - , além da segurança do envio. Foi justamente isso que levou o boliviano Juan Marcelo Cabello, há oito anos no Brasil, a começar a utilizar o serviço. "No começo, fiz uma transferência para uma pessoa que repassava o dinheiro na Bolívia para meus familiares, mas não senti segurança no sistema. Anotavam o valor em um caderno, não tinha comprovante."
Com mulher e filha brasileiras, há seis anos o médico boliviano de 37 anos passou a usar a remessa para enviar mensalmente de US$ 1 mil a US$ 1.300 para os pais e a irmã que moram em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia). "Há meses de emergência em que transfiro mais."
Além de toda a operação ser registrada, outra medida de segurança adotada pelo mercado é informar no momento da operação o nome e os dados de quem vai sacar o dinheiro, o que inibe desvios do valor. Em média, a remessa custa 5% do valor transferido e tem IOF de 0,38%. O tempo para poder sacar varia de acordo com o local de destino, mas em geral em menos de 24 horas o dinheiro fica disponível. O saque pode ser feito em algum agente conveniado, como instituições financeiras ou mesmo lojas parceiras.
Comunidades
Cabello soube do serviço de remessa por conhecidos na Rua Coimbra, local onde se concentra a comunidade e onde há até uma feira boliviana, na qual a Remessa Expressa participa com correspondente. Se o imigrante quiser ir até uma loja da corretora em vez de enviar o dinheiro pelo correspondente, ele não precisa andar muito. A proximidade com a comunidade fez com que a corretora abrisse, por exemplo, uma loja no Shopping D, na qual a maior parte do público é formada por imigrantes residentes do Brás e Pari.
Para tentar ganhar a confiança do cliente, alguns atendentes são de outros países que falam espanhol. Outra estratégia de aproximação se dá na divulgação do serviço. No jornal em espanhol El Chasqui, que circula nas comunidades de imigrantes, a Cotação faz alguns anúncios. A maior divulgação, porém, ainda se dá no boca a boca, por conhecidos e familiares que utilizam o serviço.
As remessas de imigrantes costumam ter um tíquete médio mais baixo do que a de brasileiros, segundo as corretoras. Na Confidence, por exemplo, a média é de US$ 400, ante US$ 3 mil nas remessas feitas por brasileiros. Na Cotação, a média é de US$ 300. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.