Economia

Reformas são movidas pela "mão invisível do medo", diz Eurasia

Temer virou parte do problema para aprovar o "cálice sagrado" da agenda fiscal, de acordo com analista João Augusto de Castro Neves

O presidente Michel Temer o ministro Henrique Meirelles em novembro de 2016 (Ueslei Marcelino/Reuters)

O presidente Michel Temer o ministro Henrique Meirelles em novembro de 2016 (Ueslei Marcelino/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 24 de maio de 2017 às 13h30.

Última atualização em 24 de maio de 2017 às 14h04.

São Paulo - As reformas econômicas no Brasil são importantes e impopulares, mas o que as conduz é a "mão invisível do medo", segundo João Augusto de Castro Neves, analista da Eurasia.

A consultoria de risco político, uma das mais importantes do mundo, promoveu um debate ao vivo no Facebook nesta quarta-feira (24) entre Neves e Risa Grais-Targow, analista de Venezuela.

"A maior parte da classe política está com medo de que não fazer reformas leve o país a um estado de crise premente e de recessão, lembrando que o país viveu quase uma década perdida em 3 anos em termos de crescimento", disse Neves.

Ele classifica a reforma da Previdência como um dos "cálices sagrados" da agenda fiscal. Mais da metade da despesa primária do governo federal está nessa rubrica e a previsão é que a trajetória de crescimento dos gastos será explosiva sem uma reforma.

Apesar da urgência, o analista da Eurasia não acredita que alguma versão do texto hoje em análise, cuja aprovação era até pouco tempo dada como certa por investidores, possa passar no cenário atual:

"Esperamos que a agenda volte aos trilhos quando a crise se resolver. Outras reformas menores, microeconômicas e mais específicas vão se mover mais lentamente. A crise política veio para o centro e colocou uma pausa em muitas delas de um ou dois meses, até que um novo presidente esteja instalado".

Dias decisivos

Na segunda-feira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s colocou a nota do Brasil em observação e condicionou um não rebaixamento ao prosseguimento das reformas.

Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, garantiu que "a agenda em que o Brasil está engajado vai continuar, independentemente de qualquer coisa.”

No mesmo dia, o governo teve relativo sucesso em impor um dia de votações no Congresso para passar um ar de “normalidade” mesmo que sob protestos da oposição.

Mas na visão da Eurasia, que estimou recentemente em 70% a chance de queda de Temer, o presidente que era visto como a resposta para a crise passou a associado à continuidade dela.

Neves está prevendo uma "transição de alguns meses". Considerando que impeachment é um processo demorado e que a renúncia vem sendo descartada pelo presidente, ele vê a cassação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) da chapa eleita em 2014 como o jeito mais fácil:

"É uma saída conveniente, uma válvula de escape". O início do julgamento está marcado para 6 de junho, mas mesmo que Temer saia derrotado, cabe recurso.

Eleições 2018

Se a crise se arrastar por tempo demais, surge um outro problema para as reformas: a proximidade com as próximas eleições presidenciais.

"O quanto mais perto ficamos da eleição de 2018, esse ímpeto [para aprovação das reformas] começa a se dissipar. A janela começa a se fechar mais tarde nesse ano, ou início do ano que vem, e por isso essa crise precisa ser resolvida rapidamente."

A previsão sobre o processo eleitoral de 2018 é que ele será "menos sobre esquerda contra direita do que sobre o novo contra o velho".

É um "cenário aberto para surpresas" marcado pelo sentimento anti-establishment, parte inclusive de uma tendência mundial.

Veja o vídeo completo do debate (em inglês):

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