Parque eólico no Ceará: as necessidades de infraestrutura do Brasil são grandes; e o Brasil está construindo mais parques eólicos do que parques de qualquer outra tecnologia de energia (Gentil Barreira/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2013 às 11h02.
São Paulo - O Brasil está buscando aumentar o investimento em infraestrutura ao mesmo tempo que controla os empréstimos subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES.
Os maiores desenvolvedores de parques eólicos do país estão colocando essas metas à prova ao procurarem vender bônus isentos de impostos no mercado local pela primeira vez.
A Eletrosul e a Rio Bravo Investimentos SA, a gestora de ativos fundada pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, planejam vender R$ 200 milhões (US$ 86 milhões) em bônus de infraestrutura com vencimento em até 14 anos para 21 parques eólicos até junho, disse a Eólicas do Sul, um joint venture criado para gerenciar os projetos.
A HSBC Holdings Plc prevê que os desenvolvedores pagarão uma taxa de juros de 13 por cento, maior que os 8 por cento dos empréstimos do BNDES.
Os produtores de energia, que estão buscando financiar R$ 200 bilhões em projetos até 2022, estão enfrentando a perspectiva de apoio financeiro limitado do BNDES, o maior financiador de projetos de infraestrutura do Brasil, depois que o governo disse que o banco reduzirá os empréstimos em 20 por cento como parte de um esforço para conter o maior déficit orçamentário desde 2009.
A presidente Dilma Rousseff transformou em lei uma medida de 2011 para incentivar estrangeiros e investidores individuais a comprarem dívida corporativa local ligada à infraestrutura eliminando um imposto sobre lucros provenientes dos títulos. Até agora, apenas R$ 4,28 bilhões em bônus foram emitidos a investidores.
“As necessidades de infraestrutura do Brasil são enormes e para lidar com elas o BNDES está tentando desenvolver um financiamento alternativo por meio dos mercados de capital”, disse Antonio Marques de Oliveira Neto, vice-presidente sênior para mercados de capital de dívida local do HSBC no Brasil, em entrevista por telefone.
“As empresas eólicas precisarão misturar diferentes tipos de financiamento” e bônus de infraestrutura para oferecer as taxas mais atrativas depois dos empréstimos do BNDES.
‘Ciclo virtuoso’
A Eletrosul, uma unidade da usina de energia estatal oficialmente chamada Eletrosul Centrais Elétricas SA, e a Rio Bravo Investimentos decidiram vender bônus por meio de três holdings depois que o BNDES ofereceu cobrir 65 por cento de seus custos, disse Fábio Maimoni Gonçalves, diretor financeiro da Eólicas do Sul.
O banco “poderia ter me dado R$ 100 milhões a mais em dívida” para financiar a construção de 10 parques eólicos na cidade de Santa Vitória do Palmar (RS)”, disse Gonçalves em entrevista. “Mas forneceu R$ 600 milhões em vez de R$ 700 milhões, então eu tive que encontrar outros R$ 100 milhões no mercado.
O BNDES está tentando criar um ciclo virtuoso no qual você tem um mercado demandando bônus e, consequentemente, mais bônus sendo vendidos. Com isso, ao longo do tempo, o BNDES pode reduzir sua participação no apoio a projetos”.
Cerca de R$ 100 milhões em vendas de bônus de infraestrutura foram aprovados pelo governo até julho deste ano e mais de quatro quintos desse total foram destinados a projetos de geração de energia, segundo o Ministério da Fazenda.
Parques eólicos
O Brasil está construindo mais parques eólicos do que parques de qualquer outra tecnologia de energia, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os desenvolvedores receberam 55 por cento dos contratos para vender energia a distribuidoras nos leilões organizados pelo governo desde 2011.
Os parques eólicos fornecerão 9,5 por cento da eletricidade do país em 2022, acima do 1,5 por cento do ano passado, disse a agência nacional de energia Empresa de Pesquisa Energética em seu site na internet.
“Ao promover um mercado de bônus local, o BNDES está tentando reduzir de 80 por cento para 70 por cento o montante máximo de custos de projeto que financia”, disse Neto, do HSBC. “Nós temos a expectativa de que, daqui para frente, o BNDES financiará apenas, no melhor dos casos, 50 por cento” dos custos dos parques eólicos.