Homem segura sacolas: o indicador já acumula oito quedas seguidas e está no pior patamar desde o início da série histórica, em 2010 (MagMos/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2015 às 16h23.
Rio de Janeiro - O ajuste fiscal do governo federal e o enxugamento de programas sociais já se reflete em uma menor confiança do consumidor nas regiões Norte e Nordeste, avalia a assessora econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Juliana Serapio.
Em setembro, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) recuou 2,4% no País ante o mês anterior, mas a análise regional revela quedas mais acentuadas no Norte e no Nordeste: de 4,8% e 3,4%, respectivamente.
"Há um enfraquecimento pronunciado da intenção de consumo nessas regiões, onde programas de benefícios do governo federal estão sendo enxugados ou extintos como efeito do ajuste fiscal", diz a economista, mencionando a suspensão em março do Minha Casa Melhor - que facilita as compras de móveis e eletrodomésticos - e a maior dificuldade no acesso ao Bolsa Família.
Ao lado do Sudeste, a Região Norte foi a que mostrou também menor nível de confiança em relação a situação do componente Emprego Atual.
O índice regional no Norte, entretanto, ainda está acima de 100 pontos - abaixo desse limite, revela-se uma percepção de insatisfação.
Pelos dados divulgados na manhã desta terça-feira, 22, pela CNC, o ICF recuou 34,5% na comparação com setembro do ano passado.
O indicador já acumula oito quedas seguidas e está no pior patamar desde o início da série histórica, em 2010.
Juliana destaca que as compras de bens duráveis, mais dependentes do crédito, são as mais atingidas. Em relação a 2014, o componente mostrou recuo de 51,8%.
A CNC destaca que a taxa de juros para o consumidor, representada pela taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas e divulgada pelo Banco Central, está em um patamar muito elevado: 59,46% ao ano na última divulgação, em julho, maior valor da série até o momento.
"Os juros continuam muito altos para o consumidor, por isso mesmo com a inflação mais baixa em agosto ele teve que segurar o consumo e preservar seu orçamento", diz.
Com a corrosão do poder de compra pela alta de preços, Juliana destaca que o crédito já está sendo usado para financiar a aquisição de bens não duráveis, como as compras de mês nos supermercados.
Isso reduz ainda mais o espaço para compras de duráveis. A economista diz que a disparada do dólar preocupa porque pode se traduzir em repasses aos preços e trazer mais desânimo ao consumidor. Diante disso, a intenção de consumo das famílias deve continuar se deteriorando.
"A perspectiva ainda é de inflação crescente, o que não dá espaço para a redução da taxa básica de juros (Selic). Não há nada que sinalize a reversão desse quadro", diz.