Economia

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo

O valor leva em conta a quantidade de trabalhadores que precisarão ser contratados para manter a produtividade atual das empresas

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 14 de novembro de 2024 às 17h57.

Tudo sobreMercado de trabalho
Saiba mais

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que sugere o fim da escala 6x1 e a implementação da 4x3 pode custar R$ 115,9 bilhões ao ano para a indústria nacional, segundo cálculo realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

O valor leva em conta a quantidade de trabalhadores que precisarão ser contratados para manter a produtividade atual das empresas. Para realizar o cálculo, o levantamento considerou a carga horária média e os custos com salários e encargos trabalhistas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o estudo, que analisa os diferentes setores industriais, o custo total com gastos com pessoal pode aumentar em 15,1%. Em setores como Extração de Petróleo e Gás Natural, esse impacto pode ser ainda maior, de crescimento de 19,3%.

O texto sugere o fim da escala 6x1, que oferece apenas uma folga semanal ao trabalhador, e propõe que o limite de 44 horas semanais seja reduzido para 36 horas, sem alterar a carga máxima diária de oito horas. Com isso, o Brasil poderia adotar o modelo de quatro dias de trabalho e três dias de descanso.

Pela Constituição e pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a jornada de trabalho não deve ultrapassar oito horas diárias e 44 horas semanais, permitindo a compensação de horários e a redução de jornada mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.

Na quinta-feira, 14, a PEC atingiu a quantidade de assinaturas necessárias para ser protocolada e começar a tramitar na Câmara dos Deputados.

O início das discussões no Congresso, porém, dependem de acordo e consenso entre líderes partidários. Para avançar, a medida precisa ser pautada nas comissões e no Plenário, conforme decisão dos presidentes das comissões e, especialmente, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).

Discussão sobre produtividade

A Firjan afirma que, além do aumento de custo, a indústria enfrentaria o desafio da mão de obra qualificada. A federação destaca pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mostra que a falta ou o alto custo do trabalhador qualificado está entre os três principais entraves que impedem o crescimento sustentado da indústria.

Segundo dados da CNI, entre 2013 e 2023 a produtividade da indústria brasileira acumulou queda de 1,2%. Para a federação, o aumento da produtividade requer que os governos ofereçam um ambiente de negócios favorável, com trabalhadores qualificados, carga tributária competitiva, segurança institucional e jurídica, fomento à inovação, sustentabilidade fiscal e socioambiental, infraestrutura adequada e simplificação da burocracia.

A federação afirma que o momento atual não permite uma discussão sobre a redução da jornada de trabalho pela via da reforma da Constituição. A Firjan ressalta que é necessário um aperfeiçoamento e ampliação do uso dos instrumentos já existentes, como a adequação setorial das jornadas de cada categoria profissional, por meio das convenções coletivas de trabalho.

Acompanhe tudo sobre:Mercado de trabalho

Mais de Economia

Haddad diz que consignado privado pelo eSocial terá juro "menos da metade" do que se paga hoje

Desafio não vai ser isentar, vai ser compensar com quem não paga, diz Haddad, sobre isenção de IR

Dino intima governo a explicar se emendas Pix para eventos cumprem regras de transparência

Governo deverá bloquear R$ 18,6 bilhões no Orçamento de 2025 para cumprir regras fiscais, diz Senado