Economia

Redes de eletrônicos e móveis demitem mais que montadoras

O varejo cortou 40 mil postos de trabalho neste ano até setembro: é quase 4 vezes o total de vagas eliminadas pelas montadoras


	O varejo cortou 40 mil postos de trabalho neste ano até setembro: é quase 4 vezes o total de vagas eliminadas pelas montadoras
 (José Cruz/ABr)

O varejo cortou 40 mil postos de trabalho neste ano até setembro: é quase 4 vezes o total de vagas eliminadas pelas montadoras (José Cruz/ABr)

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Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2015 às 08h00.

São Paulo - Depois do boom do consumo de eletrodomésticos e móveis entre 2008 e 2012, a ressaca bateu forte este ano no setor.

Sem os embalos do crédito farto, juros baixos e programas de incentivos fiscais do governo, as vendas desabaram e fizeram o varejo cortar cerca de 40 mil postos de trabalho neste ano até setembro. É quase quatro vezes o total das vagas eliminadas pela indústria automobilística no mesmo período (10,9 mil).

Só a líder de mercado, a Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, cortou 11 mil trabalhadores. Magazine Luíza e Máquina de Vendas, segunda e terceira no ranking, respectivamente, por enquanto, decidiram não repor as vagas de quem saiu da empresa.

E não descartam a possibilidade de demitir nos próximos meses, apurou a reportagem.

A falta de confiança do consumidor afeta especialmente a venda de itens de maior valor e deve levar o comércio varejista este ano para o pior desempenho desde 2000, prevê o economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes (CNC).

Esse movimento já é nítido no último resultado da Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE. As vendas em 12 meses até setembro do varejo como um todo caíram 6%. No ano, recuaram 7,4%.

Depois das concessionárias de veículos, as lojas de eletrodomésticos e móveis foram as que tiveram o pior desempenho. As vendas desse setor caíram 13% no ano até setembro, e 9,6% em 12 meses.

"A compra de eletroeletrônicos e móveis não é por impulso. A crise de confiança do consumidor e o medo de desemprego afastam a clientela", diz Guilherme Assis, analista de varejo do banco Brasil Plural.

Se as grandes do setor sentiram o baque, as redes menores, mesmo as mais relevantes nos mercados regionais, não tinham como ficar imunes.

A Eletro Zema e a Eletrosom (em recuperação judicial), por exemplo, que têm presença no interior de Minas Gerais, fecharam 17 e 36 pontos de venda, respectivamente.

A Darom, de Arapongas (PR), também em recuperação judicial, fechou duas unidades; e a Cybelar, no interior de São Paulo, deve encerrar o ano com dez lojas a menos.

"O número de lojas fechadas este ano até setembro é quase o triplo do que o registrado no ano passado inteiro", afirma o economista da CNC.

Nos primeiros nove meses deste ano, 4.317 lojas de eletrodomésticos e móveis encerraram as atividades no País. No ano inteiro de 2014, foram fechados 1.503 pontos de venda, segundo Bentes.

Para chegar a esses números, o economista cruzou os dados de lojas informantes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com o total de funcionários que tinha no período.

As lojas de eletrodomésticos e móveis deixaram de informar o número de empregados para o Caged porque fecharam as portas ou foram para informalidade.

Crédito

Outra dificuldade enfrentada por essas redes é a escassez de crédito, tanto para os clientes como para financiar suas compras com a indústria. "A falta de crédito está penalizando as varejistas pelos dois lados", diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo.

Atraídos pelo rendimento dos títulos do governo praticamente sem risco, os bancos não estão renovando financiamentos de capital de giro para as varejistas.

Diante da falta de recursos, as redes estão se financiando com os fornecedores. Elas buscam prazo mais longos de pagamento e operações de crédito para compra de mercadorias nas quais a indústria entra como avalista do empréstimo obtido no banco.

A operação, conhecida como Vendor, era comum nos anos 80, quando o crédito era escasso. Em setembro, segundo o Banco Central, as operações de Vendor atingiram R$ 1,8 bilhão, alta de 34,3% ante agosto.

A reportagem apurou que as varejistas estão negociando prazos maiores para pagar fornecedores.

"Qualquer cinco dias a mais é lucro. É mais dinheiro em caixa", diz um gestor de uma gigante do setor. Fontes da indústria confirmaram que o pedido de maior prazo é generalizado entre as redes e que a prática do Vendor foi retomada.

Com perspectivas de um Natal magro e a economia fraca, varejistas admitem que um movimento de consolidação está a caminho em 2016. "A consolidação vai acontecer e será positiva", diz uma fonte do mercado.

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