Economia

Recuperação judicial de aéreas pode prejudicar retomada da América Latina

Avaliação é da Associação Internacional de Transporte Aéreo; no final de maio, o grupo Latam e suas afiliadas entraram com pedido de recuperação judicial

Latam: empresa foi a segunda aérea da América Latina a entrar com pedido de recuperação judicial (John Milner/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Latam: empresa foi a segunda aérea da América Latina a entrar com pedido de recuperação judicial (John Milner/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de junho de 2020 às 16h36.

Última atualização em 9 de junho de 2020 às 18h40.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) vê riscos para a conectividade da América Latina com o resto do mundo diante dos recentes pedidos de recuperação judicial de aéreas da região.

"Há um risco aqui para a conectividade. Já vimos outras empresas quebrarem na região, mas o desafio dessa vez é que os governos devem continuar a oferecer apoio para o setor. A conectividade é essencial para uma recuperação econômica mais ampla", afirmou Brian Pearce, economista-chefe da entidade, durante teleconferência com a imprensa.

No final de maio, o grupo Latam e suas afiliadas no Chile, no Peru, na Colômbia, no Equador e nos Estados Unidos entraram com pedido de recuperação judicial (Chapter 11) nos Estados Unidos. Foi a segunda aérea da América Latina a fazer a solicitação em meio à crise da pandemia da covid-19. Semanas antes, a Avianca Holdings havia feito pedido similar.

No Brasil, em particular, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem negociado com as três principais companhias aéreas do País, Gol, Azul e a operação brasileira da Latam, um apoio emergencial, mesmo após o pedido de recuperação judicial da empresa chileno-brasileira nos Estados Unidos.

A Iata não vê um retorno a lucratividade para as aéreas já em 2021, mas talvez apenas em 2022. "Falamos aqui de projeções apenas para este ano e o próximo, mas acredito que esse retorno à lucratividade poderia acontecer em 2022", disse Pearce.

No momento, as aéreas enfrentam um recomeço bastante "atípico", nas palavras do economista, com queda abrupta da receita em razão da pandemia do novo coronavírus, tendo de melhorar sua posição financeira e buscando gerar caixa para saldar dívidas. "Essa não é uma fase de recuperação típica. É um grande desafio e a situação que não pode se sustentar por muito tempo", afirmou.

Alexandre de Juniac, diretor-geral e CEO da entidade, reafirmou que a crise atual é sem precedentes na história da indústria e que os governos estão trabalhando em conjunto para que todos estejam prontos para a retomada assim que as fronteiras forem abertas, com garantia de segurança para todos.

Pior momento

As projeções da Iata são de que o pior momento para as aéreas, em termos de demanda, deve ter sido atingido em abril, mas tudo ainda depende da evolução da pandemia nos próximos meses.

"Mas isso ainda dependente fortemente de não acontecer uma segunda onda da covid-19", disse Brian Pearce.

As margens de lucro das companhias aéreas, segundo o executivo, devem cair substancialmente este ano, entre 15% e 30%, em todas as regiões. Apesar das perdas sem precedentes previstas para 2020, de US$ 84 bilhões, em 2021 a entidade ainda prevê uma perda adicional de US$ 15 bilhões em 2021.

Segundo Pearce, a demanda tanto para tráfego de carga como de passageiros deve voltar a acelerar em 2021. Já no segmento de passageiros, porém, a demanda deve continuar abaixo dos níveis de 2019.

A expectativa da Iata para demanda no segmento de carga para o próximo ano é de crescimento de 25% ante 2020 e de 3% frente aos números de 2019. No segmento de passageiros, as projeções apontam para um aumento de 55% na demanda em 2021 ante 2020, mas queda de 29% ante 2019.

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