Christine Lagarde: presidente do Banco Central Europeu (Francois Lenoir/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de setembro de 2020 às 15h52.
Última atualização em 13 de setembro de 2020 às 16h54.
Apesar de a recuperação econômica substancial que o mundo vem tendo desde o maio, em função das medidas que governos estão tomando para amenizar os impactos da pandemia do novo coronavírus, essa retomada está sendo "desigual, incerta e incompleta" na visão de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE).
Durante participação em evento online do Conselho de Diretores de Bancos Centrais e Autoridades Monetárias Árabes, Christine diz que a desigualdade se dá por dois fatores principais: a maneira como o vírus se espalhou e também os efeitos diversos que as medidas de isolamento social tiveram nos setores da economia.
Ela citou a China, que teve recuperação econômica acelerada no segundo trimestre, mas que o setor industrial avança mais que o varejo. Também mencionou os países árabes, que devem ter efeitos prolongados da pandemia em seus Produtos Internos Brutos (PIB) com a queda acentuada em receitas com turismo e a lenta recuperação nos preços do petróleo.
"A incerteza na recuperação global se dá principalmente em como a pandemia se comporta e em quanto tempo termos uma solução médica eficaz", diz a presidente do BCE, afirmando que apesar da taxa global de infecções ter se estabilizado desde o início de agosto, surtos esporádicos nos países continuam e podem prejudicar a capacidade dos países de responder efetivamente com novos estímulos.
Em termos gerais, Christine Lagarde diz que a recuperação ainda é incompleta "porque ainda há muito o que se fazer". A mandatária da autoridade monetária da Europa afirma que os indicadores econômicos se mantêm em níveis abaixo de patamares pré-pandemia e há uma diferença entre a retomada do setor industrial, que vem sendo mais acelerada, enquanto serviços se recuperam lentamente, ao contrário do que foi visto na crise econômica global de 2008.
A presidente do BCE aponta que as incertezas trazidas pela pandemia e falta de uma cura estão represando o consumo e investimentos de famílias e empresas, o que reduz o ritmo da recuperação econômica. "Está cada vez mais claro que a pandemia vai trazer uma mudança considerável em como organizamos a produção, trabalho e consumo", pondera. Ela diz que uma maior resiliência em cadeias de produção pode encorajar uma retomada na produção mundial e a digitalização acelerada "facilitou a provisão de serviços a distância".
Falando sobre a recuperação econômica na Europa, Lagarde aponta que, após o primeiro passo, que foi garantir a estabilidade do mercado financeiro e gerar medidas para evitar uma desfragmentação total da economia na União Europeia, o próximo passo é garantir que a inflação retome o curso pré-pandemia e que chegue a esse ponto de uma maneira sustentável.
"O cenário econômico desafiador continua a causar pressões em preços", fala Christine, dizendo que a queda de 0,2% na inflação na Zona do Euro em agosto, ante crescimento de 0,4% em julho, refletem uma demanda reduzida e um mercado de trabalho ainda deprimido, além da valorização recente do euro.
Para isso, diz a presidente do BCE, a continuação nas políticas fiscais expansionistas e reformas estruturais na Zona do Bloco serão essenciais até que a recuperação econômica se torne mais robusta. "Hoje, a confiança no setor privado está muito ligada à confiança nessas medidas fiscais", comenta. Já as reformas, diz Lagarde, devem ser feitas para garantir que trabalhadores tenham as condições ideais para prosperar em um ambiente de maior digitalização na economia.
"As políticas monetárias vão continuar a desempenhar seu papel na Zona do Euro até o fim do nosso mandato", afirma Lagarde, apontando que as medidas já tomadas pelo BCE vão adicionar 1,3 ponto porcentual no crescimento real do PIB da Zona do Euro e 0 8 p.p. na taxa de inflação. "Dito isso, outros fatores já ditos, como a valorização recente do euro, deslocam os efeitos positivos de nossas medidas."