Economia

Recuperação econômica depende mais da ciência do que de bancos centrais

Enquanto a vacina não chega, a nova onda da pandemia causa preocupações de saúde e restrições governamentais continuam a limitar o dia a dia e o comércio

Vacinação em massa pode estar disponível somente no fim de 2021 (Ammar Awad/Reuters)

Vacinação em massa pode estar disponível somente no fim de 2021 (Ammar Awad/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 15h39.

Última atualização em 26 de outubro de 2020 às 15h47.

Investidores que apostam em uma vacina contra o coronavírus para salvar a economia mundial em 2021 precisam moderar as ambições, pois cientistas alertam cada vez mais sobre um longo e difícil caminho pela frente.

Embora farmacêuticas estejam avançando na busca pela cura da covid-19, que provocou a pior recessão desde a Grande Depressão, permanecem dúvidas sobre a eficácia da primeira onda de vacinas, como será a distribuição para mais de 7 bilhões de pessoas e quantas aceitarão ser vacinadas.

O futuro do crescimento global depende das respostas a essas perguntas, pois a nova onda da pandemia causa preocupações de saúde e restrições governamentais que continuam a limitar o dia a dia e o comércio. Mesmo quando um sistema de imunização eficaz estiver disponível, não será uma panaceia econômica instantânea, diz Chris Chapman, gestor da Manulife Investment, que administra mais de 660 bilhões de dólares.

“Em termos de realmente voltar ao pré-covid ou tendência de crescimento, pode levar mais de um ano”, disse Chapman. “O prazo da recuperação será adiado, mas ainda há expectativa de uma vacina em algum momento do próximo ano.”

Por décadas, a economia mundial dependeu de bancos centrais e ministros das Finanças para resolver crises sob a premissa de que, se a quantidade certa de dinheiro for injetada na economia, a recuperação acabará ocorrendo.

Desta vez é diferente, pois investidores olham para cientistas e dados de testes de vacinas e tratamentos em busca de sinais de esperança tanto quanto se debruçam sobre planos de estímulo vindos de Washington, Pequim ou capitais europeias. Quanto mais tempo durar a busca por uma vacina eficaz, mais fraca será a expansão econômica.

Sem dúvida, a ciência ainda pode fazer grandes descobertas no curto prazo. Mesmo se apenas uma pequena proporção da população, como profissionais de saúde e pessoas mais vulneráveis, for imunizada, isso pode fazer grande diferença na retomada do dia a dia. O dinheiro economizado por famílias e empresas em 2020 pode ser liberado em 2021.

A Pfizer anunciou neste mês que pode solicitar até o final de novembro autorização de uso emergencial nos Estados Unidos para sua vacina com a parceira alemã BioNTech. A Moderna, outra líder na corrida, também considera a possibilidade de aprovação de emergência neste ano se tiver resultados provisórios positivos no próximo mês.

“Há uma boa perspectiva de que, até o final da primavera, as vacinas estarão disponíveis em quantidades suficientes para proteger os grupos mais vulneráveis”, disse Neil Ferguson, epidemiologista do Imperial College London e ex-conselheiro para covid-19 do governo do Reino Unido. “Mas, pelo menos até lá, a vida infelizmente continuará sendo um equilíbrio entre reabrir a sociedade e manter o vírus sob controle.”

Com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, já não se fala em recuperação em forma de V, diante do risco de o coronavírus se espalhar mais facilmente. Indicadores de dados de alta frequência da Bloomberg Economics já apontam para um enfraquecimento da atividade em muitos países industrializados em outubro, especialmente os da Europa.

“O vírus está criando um elemento importante de incerteza”, disse o ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, em entrevista à Bloomberg Television na semana passada. “A previsão é muito precária.”

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