Roberto Azevedo: o diretor-geral da OMC espera que a contração do PIB nacional perca força em 2017 (Fabrice Coffrini/AFP/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de abril de 2017 às 17h54.
Última atualização em 12 de abril de 2017 às 17h57.
A recessão no Brasil leva o país a sofrer a maior queda de importações entre as grandes economias do mundo e uma recuperação não deve vir até 2019.
A contração, segundo a OMC, já havia começado em 2013, 2014 e 2015, mas foi mantida em 2016.
O resultado já coloca a economia brasileira como a que viu a maior redução de compras até meados da atual década.
Em termos acumulados, a recessão já representou uma queda de 28% nos volumes importados e que passaram pelos portos do País em três anos.
Para a entidade, essa contração é sinal de debilidade da economia, e não pode ser considerada como um ponto positivo.
No ano passado, a queda foi de quase 20% no valor nas importações, bem acima da média de uma redução de 3% no mundo.
O resultado, de US$ 143 bilhões, levou o Brasil a despencar no ranking dos maiores importadores.
Em 2013 e 2014, o Brasil aparecia na 21a posição entre as economias que mais importavam. Ao final de 2016, o País estava na 28a posição, superado até mesmo pela pequena economia da Áustria.
Em valores, a queda das importações no Brasil foi uma constante nos últimos três anos.
Em 2014, a contração havia sido de 4,5%, contra uma queda de 25% em 2015 e 19,8% no ano passado.
Em média a redução foi de 4,7% entre 2010 e 2016, a maior do mundo entre as grandes economias.
Em volume, a queda também foi substancial.
Ela foi de 2,7% em 2014, 15,1% e mais 12,8% de contração em 2016.
Para 2017, a previsão não é das melhores.
O ano pode acabar com uma importação em baixa ainda de -0,6% na América do Sul, em grande parte dominada pelo Brasil.
Para 2018, a expansão seria de apenas 1% a 3%.
"A recessão teve grande papel", disse Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC, que espera que a contração do PIB nacional perca força em 2017.
"Isso vai ser um fator para avaliar como a economia e o comércio vão se comportar no mundo. Importação é significativa. Se ela cai rapidamente, é um indicador avançado de uma desaceleração. Às vezes, essa queda é comemorada. Mas isso não é uma boa notícia. Apenas quer dizer que uma economia está se desacelerando", disse o brasileiro.
"Muito vai depender do comportamento do PIB (brasileiro)", estima.
Segundo a OMC, a situação brasileira contaminou os resultados de toda a América do Sul, que acabou tendo o pior resultado entre todas as regiões.
"A queda nas importações da América do Sul foi mais persistente e profunda, levadas em grande parte por quedas nos preços de commodities", disse a entidade.
"Grande parte do declínio ocorreu por conta do Brasil, que continuou enfrentando uma severa recessão", apontou.
Em volume, a importação da América do Sul foi também a que registrou a maior queda do mundo, com uma contração de 8,7%.
O Mercosul ainda foi o bloco econômico com os piores resultados, com queda de 20,9% de redução nas importações em termos de valores.
Contraste
A queda brasileira se contrasta com a expansão registrada até 2012, com saltos de mais de 20% por ano nas importações.
A tendência levou centenas de multinacionais a cobiçar o mercado brasileiro, investir e compensar suas fracas vendas na Europa com apostas no Brasil.
Com a contração na economia brasileira, o impacto foi sentido pelo setor industrial e por consumidores que deixaram de importar nos mesmos níveis dos últimos anos.
As importações de serviços no Brasil também caíram de forma dramática, com redução de 19,8% em 2015 e somando US$ 69 bilhões. Em 2016, mais uma contração, de 10,8%.
O maior importador do mundo continua sendo os EUA, com compras em 2016 de US$ 2,2 trilhões, uma queda de 3% em comparação a 2015.
A China vem em segundo lugar, com US$ 1,5 trilhão, mas com uma queda de 5% nas compras diante da desaceleração de sua economia.
Exportação
No lado das vendas ao exterior, o Brasil também registrou uma queda, com uma contração de 3% em valores e colocando o país na 25ª posição entre os exportadores.
Hoje, os produtos nacionais representam apenas 1,2% do mercado mundial e mesmo a Polônia e Malásia já exportam mais que o Brasil ao mundo.
Mesmo com a recuperação parcial dos preços de algumas commodities, a tendência não foi suficiente para evitar a contração.
O Brasil, que chegou a ser o 22o maior exportador do mundo, previa estar entre os 20 primeiros se a crise não tivesse atingido os preços de sua pauta exportadora.
Nesse ranking, a líder é a China, com US$ 2 trilhões em vendas em 2016, mas também com uma queda de 8%.
Os americanos aparecem com US$ 1,4 trilhão.