Economia

Recessão na Alemanha: o que acontece no país que é motor econômico da Europa?

Apesar do cenário, a economia alemã pareceu suportar melhor do que o esperado as crises, graças à enorme ajuda pública

Berlim: Alemanha enfrenta dificuldades no fornecimento de gás. (Sean Gallup/Getty Images)

Berlim: Alemanha enfrenta dificuldades no fornecimento de gás. (Sean Gallup/Getty Images)

Publicado em 25 de maio de 2023 às 12h05.

Última atualização em 25 de maio de 2023 às 12h06.

A Alemanha entrou em recessão técnica no primeiro trimestre de 2023, após a segunda contração consecutiva do Produto Interno Bruto (PIB), em um cenário de queda da demanda na indústria, inflação e taxas de juros elevadas.
O PIB da maior economia da Europa registrou queda de 0,3% entre janeiro e março na comparação com os três meses anteriores. No quarto trimestre de 2022, a Alemanha registrou contração de 0,5%, de acordo com os dados corrigidos por variações sazonais e divulgados pelo instituto Destatis.

Em ritmo anual, o PIB alemão teve contração 0,5% nos três primeiros meses do ano. Com o resultado, a Alemanha entrou em recessão técnica, que é definida como a queda da atividade durante dois trimestres consecutivos. Esta é a primeira vez que isto acontece no país desde a pandemia de coronavírus, que provocou a queda do PIB no primeiro e segundo trimestres de 2020.

Gás russo

A indústria alemã, que durante muito tempo foi dependente do gás russo, foi muito afetada no ano passado depois que Moscou, em consequência das sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia, cortou o fornecimento e os preços registraram forte alta.

Apesar do cenário, a economia alemã pareceu suportar melhor do que o esperado, graças à enorme ajuda pública, ao aumento do uso de gás liquefeito e a uma queda dos preços do gás no início do ano. A indústria também foi beneficiada pela reabertura da China após a pandemia.

Produção industrial

Vários indicadores econômicos do mês de março ilustram a situação, com destaque para a produção industrial, central para o modelo econômico alemão, que teve queda de 3,4% na comparação com fevereiro.

Os pedidos industriais também registraram forte queda em março, com recuo de 10,7% na comparação com o mês anterior, resultado sem precedentes desde o pior momento da pandemia. As exportações, essenciais para este setor, caíram 5,2%.

E tudo isso em um cenário de desaceleração do consumo interno, devido à inflação, que permanece muito elevada par aos padrões alemães, acima de 7%.

Os aliados comerciais do país importaram menos produtos fabricados na Alemanha devido às "turbulências geopolíticas, a inflação elevada e a perda de poder aquisitivo", afirmou o instituto econômico DIHK.

Apesar dos resultados, o governo alemão projeta uma recuperação progressiva da atividade durante o ano e um crescimento de 0,4% para 2023.

"A economia enfrentou uma fragilidade no inverno (hemisfério norte). Mas continuamos esperando uma melhora considerável ao longo do ano", afirmou o ministério da Economia.

Mas nem todos são tão otimistas. O FMI previu em abril que a atividade econômica alemã registrará contração de 0,1% este ano, antes de uma recuperação de 1,1% em 2024.

Inflação no bloco europeu

Em plena guerra contra a inflação, o Banco Central Europeu (BCE) comemorou, na quarta-feira, 24, seu primeiro quarto de século, um período marcado por crises, que obrigaram a instituição a aumentar seu campo de ação.

Cerca de 200 convidados são aguardados esta noite na torre de vidro e aço do BCE, às margens do rio Main, em Frankfurt.

A festa aconteceu, no entanto, enquanto a inflação na zona do euro atinge um nível recorde, levando em conta que a instituição, criada em 1º de junho de 1998, tem como missão principal controlá-la dentro do possível a um nível próximo de 2%. A inflação atingiu 7% em abril, impulsionada pelos preços da energia e dos produtos importados.

"Garantiremos o retorno da inflação para o nosso objetivo", assegurou Lagarde, nesta quarta, à imprensa europeia.

A inflação anual foi de 2,05%, em média, nos últimos 25 anos, durante os quais nove países entraram na zona do euro, que chegou, assim a 20 membros.

Além disso, o BCE assume, agora, a supervisão dos grandes bancos europeus e o euro é a segunda moeda mundial, atrás do dólar.

Crises na zona do euro

Apesar da boa qualificação, o BCE também passou por momentos difíceis. Precisou atravessar várias tempestades, como a ameaça de ver o euro implodir na década de 2010, devido à crise das dívidas públicas. A uma longa fase de inflação estável, seguiu-se uma forte aceleração da alta dos preços, devido à guerra na Ucrânia.

Pensando que seria um fenômeno passageiro, o BCE a princípio esperou antes de elevar as taxas básicas de juros a um nível inédito de 3,75 pontos percentuais desde julho, correndo o risco de afetar um crescimento que já era frágil.

As dificuldades enfrentadas pela zona do euro fizeram com que o arsenal monetário do BCE se estendesse para além da arma clássica das taxas de juros: programas de compra de dívidas públicas e privadas, flertando com a proibição que tem de financiar os países, e ondas de empréstimos gigantescos aos bancos.

A instituição também cometeu erros terríveis. Em 2011, Jean-Claude Trichet elevou os juros quando uma crise estava em gestação. Seu sucessor, Mario Draghi, corrigiu a tendência desde que assumiu o cargo e ganhou o apelido de "Super Mario", salvador da zona do euro.

Mas a gestão solitária do italiano acabou por gerar uma desavença no conselho de governadores, onde trabalham os chefes dos bancos centrais nacionais, que têm ideias divergentes.

(Com AFP)

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