Economia

Recessão global prolongada é provável, diz Fórum Econômico Mundial

Com a crise do coronavírus, metade dos gerentes de risco estimam altos níveis de desemprego, particularmente entre os jovens

"A crise devastou vidas e os meios de subsistência", disse a diretora-gerente do Fórum Econômico Mundial (Stephane Cardinale/Getty Images)

"A crise devastou vidas e os meios de subsistência", disse a diretora-gerente do Fórum Econômico Mundial (Stephane Cardinale/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de maio de 2020 às 08h33.

Última atualização em 19 de maio de 2020 às 09h53.

A pandemia de coronavírus terá efeitos duradouros, pois o alto desemprego afeta a confiança do consumidor, a desigualdade e o bem-estar, e desafia a eficácia dos sistemas de proteção social. "Com pressões significativas sobre emprego e educação - mais de 1,6 bilhão de estudantes perderam a escolaridade durante a pandemia -, estamos enfrentando o risco de outra geração perdida", avaliou o Diretor de Risco do grupo, Zurich Insurance Group, Peter Giger.

A partir de Zurique, na Suíça, ele participou de uma teleconferência realizada nesta terça-feira, 19, pelo Fórum Econômico Mundial para divulgar o relatório "Covid-19 Risks Outlook: Um mapeamento preliminar e suas implicações", publicado hoje. A empresa é uma das patrocinadoras do documento.

Durante a apresentação, Giger comentou que as pessoas têm visto mais o céu azul porque as emissões de carbono caíram 80% no início do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Ele recomendou também mais atenção com as ações de desmatamento no mundo e salientou que o planeta continua a se aquecer. "As decisões tomadas agora determinarão como esses riscos ou oportunidades ocorrerão", disse.

Riscos

O temor com o aumento do desemprego e mudanças profundas na cadeia produtiva tende a subir na lista de riscos apontados pelo levantamento realizado sistematicamente pelo Fórum Econômico Mundial, na avaliação da sua diretora administrativa, Saadia Zahidi. Na teleconferência, ela disse que as preocupações para a próxima década apontadas em janeiro por 350 profissionais de risco seniores já passam por transformação e tendem a mudar ainda mais depois da covid-19.

A partir de Genebra, Saadia avaliou que, dado o cenário global, essas mudanças não são surpreendentes. "Claro que isso tudo virá à tona nos próximos meses", previu. Para ela, o momento também é de ampliar as ações para que se reconstrua um mundo melhor a partir da pandemia. Uma boa oportunidade, de acordo com a diretora, é dar mais estímulos verdes à economia.

Saadia afirmou que está mais preocupada com o que acontecerá no médio prazo, em relação aos riscos apontados pela pesquisa. Ela comentou, também, que a crise mostrou que profissões muito pouco valorizadas até o momento acabaram se tornando essenciais, como a de enfermeiros e professores, por exemplo.

"Mesmo antes da crise da covid-19, as organizações enfrentavam um cenário de risco global altamente complexo e interconectado", comentou John Doyle, presidente e CEO da Marsh, que é uma das empresas que contribuíram para a confecção do "Covid-19 Risks Outlook: Um mapeamento preliminar e suas implicações".

Segundo Doyle, desde ameaças cibernéticas a cadeias de suprimentos e passando pelo bem-estar de seus funcionários, as empresas agora repensam muitas das estruturas nas quais antes confiavam. "Para criar condições para uma recuperação mais rápida e um futuro mais resiliente, os governos e o setor privado precisam trabalhar juntos de maneira mais eficaz. Juntamente com os grandes investimentos para melhorar os sistemas, a infraestrutura e a tecnologia da saúde, um dos resultados dessa crise deve ser que as sociedades se tornem mais resistentes e capazes de suportar pandemias futuras e outros grandes choques", considerou.

Protecionismo

Na mesma conferência, o diretor Executivo da Marsh & McLennan, Richard Smith-Bingham, previu que reações de protecionismo devem acelerar com a covid-19. Ele lembrou que meses antes da pandemia o mundo assistia a uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas do mundo, e também o processo de separação do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit. "São coisas que vão acelerar com a covid-19", salientou.

Já a reitora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Ngaire Woods, chamou a atenção para a construção que o mundo fará de suas economias após a crise. Ela avaliou, por exemplo, ser fundamental dar apoio a empresas e países com ratings baixos de crédito. "Se não fizermos isso, o resultado será ainda mais negativo", projetou.

A reitora comentou que um aprendizado que o mundo tem recebido da covid-19 é a possibilidade de reunião de pessoas que estão longe umas das outras por meio de teleconferências, como a que foi organizada pelo Fórum. "Eventos como este, por vídeo, mostram como as pessoas podem colaborar umas com as outras mesmo estando distante. Esta é uma grande oportunidade para o setor público em torno do globo", apontou.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusCrise econômicaFórum Econômico MundialRecessão

Mais de Economia

Morre Ibrahim Eris, um dos idealizadores do Plano Collor, aos 80 anos

Febraban: para 72% da população, país está melhor ou igual a 2023

Petróleo lidera pauta de exportação do país no 3º trimestre

Brasil impulsiona corporate venturing para atrair investimentos e fortalecer startups