Economia

Real desvalorizado faz Príncipe da Noruega virar vendedor

No Rio de Janeiro, um homem com uma bandeja de bacalhau grelhado com azeitonas cortadas entregava o petisco a clientes. Ele era o Príncipe Herdeiro da Noruega

O Príncipe Herdeiro da Noruega, Magnus Haakon, no Rio de Janeiro: volumes de exportação de bacalhau da Noruega para o Brasil caíram 37% (Eduardo Zappia/Bloomberg)

O Príncipe Herdeiro da Noruega, Magnus Haakon, no Rio de Janeiro: volumes de exportação de bacalhau da Noruega para o Brasil caíram 37% (Eduardo Zappia/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2015 às 20h15.

Em um supermercado do Rio de Janeiro, um homem de terno azul-marinho carregava uma bandeja de bacalhau grelhado com azeitonas cortadas e entregava o petisco aos clientes.

A degustação não seria tão fora do comum se não fosse pela identidade desse vendedor de peixe: era o Príncipe Herdeiro da Noruega.

A escala do príncipe herdeiro Haakon, na terça-feira, faz parte de uma viagem de quatro dias pelo Brasil para ajudar a intensificar a demanda naquele que foi um dia um próspero mercado de importação. Isso aumenta a evidência de que os efeitos da recessão no Brasil estão sendo sentidos muito além de suas fronteiras.

A desvalorização cambial foi tão severa no Brasil -- de 30 por cento neste ano, a maior entre 24 economias emergentes -- que está alterando os hábitos de compra dos consumidores.

À medida que os preços das importações aumentam, estimulando uma inflação de quase 10 por cento, os brasileiros estão comprando menos de tudo, de eletrônicos fabricados no exterior até bacalhau Norueguês, um dos produtos favoritos desde que a corte real portuguesa mudou a capital do império para o Rio de Janeiro nos anos 1800.

Hoje, os bolinhos de bacalhau fritos são um petisco comum nos bares e o peixe é um dos pratos tradicionais da ceia de Natal.

“Desde que era criança, a minha mãe sempre comprava um pedacinho para pôr na mesa”, disse Neusa Fonseca, uma atendente de estacionamento, de 65 anos, de uma favela próxima.

Ela disse que fará o que for preciso para juntar o dinheiro para poder pagar a ceia de Natal.

Para piorar os problemas dos consumidores brasileiros, a recessão deverá se arrastar até o ano que vem e o desemprego atingiu o nível mais alto nesta década. Issotorna mais desafiadora a excursão do príncipe Haakon para reanimar a demanda no quinto maior mercado de bacalhau da Noruega.

Os volumes de exportação de bacalhau da Noruega para o Brasil caíram 37 por cento nos 10 primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Conselho Norueguês da Pesca.

O país da Europa Ocidental também está sofrendo com a queda da indústria de petróleo e gás do Brasil. O Brasil é o maior mercado offshore para empresas norueguesas como a Aker Solutions ASA, que vendem sistemas submarinos e serviços de perfuração.

Apesar de o IBGE não monitorar o preço do bacalhau individualmente, Arlison Martins, chefe de pericíveis da rede de supermercados brasileira Zona Sul, disse que o preço subiu 40 por cento em relação ao ano passado.

Isso levou à maior queda nos volumes de vendas entre todas as carnes que ele supervisiona.

“As pessoas vão optando por outros tipos de consumo de proteína -- isso acontece muito”, disse Martins, por telefone, do Rio. “Começam a migrar”.

O supermercado do Rio que o Príncipe Haakon visitou oferecia um desconto de 17 por cento sobre os novos “cortes nobres” em promoção.

A redução ainda deixou os filés noruegueses cerca de duas vezes mais caros que o salmão e o bacalhau do Alasca.

“Eu adoro bacalhau”, disse Conceição da Glória Barradas Fonseca, uma brasileira de 77 anos que reduziu seu consumo de bacalhau de três vezes por semana, antes da crise, para uma vez.

“Não posso comprar sempre, porque é muito caro. Está mais agora, por causa do dólar”.

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