Economia

Reajustes não dão trégua: em 12 meses, cebola sobe 43%; batata inglesa, 67%

Entre os grupos, alimentação foi o que mais pesou na inflação de janeiro. Com impacto maior para os pobres, gás de botijão subiu pelo 8º mês seguido

A categoria de alimentos, entretanto, se destacou na Black Friday, com aumento entre 2% e 5% (Pilar Olivares/Reuters)

A categoria de alimentos, entretanto, se destacou na Black Friday, com aumento entre 2% e 5% (Pilar Olivares/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 20h59.

A despeito de a inflação ter perdido fôlego em janeiro, a alta no preço dos alimentos não dá trégua. Alimentação e bebidas subiram em média 1,02% em janeiro, uma variação abaixo da registrada em dezembro, mas ainda assim o grupo teve o maior peso na inflação do mês.

E, em alguns itens, a alta acelerou. Foi o caso da batata, que saiu de uma variação de 7,29% em dezembro para 10,84% agora. Cebola e tomate, cujos preços caíram no fim do ano, tiveram forte alta em janeiro.

Em 12 meses, a cebola subiu 43,3%, enquanto a batata inglesa ficou 67% mais cara e o tomate, 40,90%. São itens que pesam no bolso do consumidor, sobretudo de baixa renda, e aumentam a sensação de inflação, já que fazem parte das compras recorrentes de todas as famílias.

A pressão dos alimentos ocorre justamente num momento de queda na renda do brasileiro, com o fim do pagamento do auxílio emergencial. Em janeiro, as vendas dos supermercados já sentiram impacto do término do benefício pago pelo governo.

Por outro lado, alguns alimentos registram forte queda nos últimos 12 meses. É o caso do leite longa vida, com recuo de 25,69% no preço, e do óleo de soja, com menos 96,20%.

Em janeiro, as carnes, que vinham subindo ao longo de 2020, recuaram 0,08%. Na avaliação do gerente da pesquisa de preços do IBGE, Pedro Kislanov, isso pode ser reflexo do fim do pagamento do auxílio emergencial, ou seja, os mais pobres estariam reduzindo o consumo de carne, um item mais caro entre os alimentos.

— O auxílio emergencial ajudou a sustentar uma alta dos produtos alimentícios ao longo do ano passado. Essa deflação das carnes em janeiro pode ter relação com o benefício, mas podem ter outras influências do próprio mercado que a gente precisa aguardar para analisar melhor — afirma Kislanov.

Lisandra Barbero, economista da XP Investimentos, concorda com Kislanov e acrescenta outros fatores:

— Ainda é cedo para falar que a deflação foi caracterizada pelo fim do auxílio porque ela está associada a outras questões como a demanda internacional e o preço de fertilizantes. Mas vimos atipicamente em janeiro uma pressão menor vinda dos preços de carne no atacado e, por consequência, o atacado repassou menos ao consumidor.

Apesar da desaceleração, Barbero avalia que os alimentos continuarão pressionando os preços nos próximos meses. Por outro lado, sinaliza, a tendência é de normalização dos preços a partir do segundo trimestre do ano.

— Com a melhora gradual da pandemia ao longo de 2021, devemos começar a ver a retomada de algumas ocupações, principalmente as informais. Assim, é esperado um ciclo de normalização conforme a pandemia comece a melhorar. Por consequência, os indivíduos que trabalham na informalidade devem capturar essa recuperação.

Já o Itaú Unibanco estima que os preços dos alimentos continuarão pressionados por mais tempo. O grupo alimentos e bebidas, que teve alta de 14,09% em 2020, deve subir 5,5% em 2021, projeta a companhia.

A expectativa é que a alimentação exerça pressão ao longo do ano, ainda que com certa desaceleração. Júlia Passabom, economista da entidade, afirma ser uma alta expressiva vinda na sequência de um choque já forte no ano passado:

— A alimentação no domicílio deve subir 6% por conta dos preços de commodities mais pressionados lá fora. Ou seja, é uma alta relevante de inflação e não tem muito alívio, o que indica mais pressão no orçamento das famílias que já gastam uma parcela relevante da renda com alimento.

Além dos alimentos, outros itens com forte peso no orçamento das famílias mais pobres tiveram alta em janeiro. É o caso do gás de botijão, que subiu 3,19%, a oitava alta mensal seguida. Em 12 meses, o gás de botijão já subiu 11,75%.

O preço do botijão depende do câmbio internacional. Com o real desvalorizado em relação ao dólar e ao euro, o gás fica mais caro para o consumidor brasileiro e deve continuar pressionando as famílias de menor renda.

Nas projeções de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, os preços do gás tendem a se acomodar a partir do segundo semestre.

— Com o avanço das commodities, principalmente do propano e butano, e do dólar, temos uma perspectiva de que não se arrefeça o preço do gás. E estamos falando de um item básico para sobrevivência humana, que deve refletir na vida das pessoas com menos poder aquisitivo — sinaliza Sanchez.

As tarifas de ônibus urbano também subiram, como costuma ocorrer nos primeiros meses após novos mandatos nas prefeituras. Em média, a alta foi de 0,04%, refletindo reajustes de 2,44% em Campo Grande e 2,61% em Vitória, além de aumentos em tarifas intermunicipais em várias regiões metropolitanas.

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