Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, no EXAME Fórum em São Paulo (Germano Luders/Site Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 8 de junho de 2017 às 16h59.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2018 às 18h03.
São Paulo - Paulo Rabello de Castro é presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) há poucos dias e não sabe até quando fica no cargo.
"Sou o primeiro presidente diarista: cada dia que passa pode ser o último (...) Todo dia limpo minha mesa, não deixo nada nas gavetas", brincou durante palestra no EXAME Fórum, que debateu PPPs e concessões nesta quinta-feira (08) em São Paulo.
Rabello assumiu na última quinta-feira (01) um órgão que completa 65 anos “mas não tem a mínima pretensão de se aposentar", brincou em referência à idade mínima para homens definida pela reforma da Previdência.
Ele disse que o “rio de lama” da corrupção política é "muito pior do que o de Mariana", desastre recente em Minas Gerais, mas que o Brasil, apesar de enojado, não deve "jogar o bebê junto com a água suja do banho”.
Apesar de ter dito que não teve tempo nem de abrir o computador, o novo presidente do BNDES sinalizou como deve ser sua gestão no banco.
Diretrizes
“Nós queremos entrar, induzir, sair e entrar no próximo [projeto]. Queremos risco, porque se não queremos risco, não queremos desenvolvimento”, disse Rabello.
Isso significa "deslizar do corporate finance para o project finance, e para isso estudamos o que é moderno".
A orientação é "fritar o porco na própria banha" ou partir do princípio de que "o conjunto de recebíveis deve ser capaz de sustentar o projeto".
Ele se classificou como "um gastador" mas notou que o banco tem o papel de "tirar o ponche na hora que está todo mundo tomando o porre".
Rabello também prometeu interiorizar o desenvolvimento: "nós vamos visitar os clientes onde eles estiverem”.
Sobre Luciano Coutinho, presidente do banco entre 2007 e 2016, comentou que “estava na estabilidade por tempo de serviço e portanto na antiga lei trabalhista”.
No entanto, classificou a política anterior do BNDES como "muito mais rica" do que sua face mais visível: a política de "campeões nacionais" que alavancou a JBS, entre outras.
Rabello fez provocações de que "agora é moderno você ser político não sendo” e de que o país é um "manicômio tributário".
Também disse que o Brasil vem colocando tudo no "altar" da estabilização: “só tem estabilizador nesse país, se é que estabiliza”.
Política interna
Ele aproveitou para classificar o corpo de funcionários do BNDES como "talvez o celeiro mais importante de técnicos e técnicas de altíssimo nível do qual o Brasil dispõe".
O aceno vem após atritos na gestão Maria Silvia Bastos Marques, que deixou a presidência do banco recentemente após um ano no comando.
Os funcionários chegaram a protestar abertamente contra ela pelo que consideraram ser uma defesa insuficiente dos funcionários após denúncias de corrupção citarem o banco.
"Eu com 3 dias de presidente já estou orgulhoso, imagina quem tem 30 anos de dedicação", completou Rabello.
Mas Rabello também aproveitou para notar que Maria Silvia não é culpada pelo aperto dos financiamentos para empresários, outro dos motivos citados na mídia pela sua queda.
Ele atribuiu a queda dos financiamentos a um desmonte gradual do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) que começou em 2015 e está ficando mais evidente agora.
"Coitada, a Maria Silvia era quem estava lá quando o aperto da pinça foi mais sentido".
Para André Lahóz Mendonça de Barros, diretor editorial de EXAME, que comandava o debate, ele sugeriu: "Um título para sua coluna: 'não foi Maria!'", ganhando aplausos dos presentes.
Rabello classificou sua gestão como de continuidade e destacou que manteve integralmente a diretoria colocada por sua antecessora.