Economia

Questão Macro: incertezas fiscais que rondam o Brasil agora são globais

Renda Cidadã, teto de gastos e a trava no pacote de estímulo fiscal nos EUA foram alguns dos temas do Questão Macro desta quarta (7)

Álvaro Frasson, Fabiane Stefano e Arthur Mota apresentam Questão Macro a partir desta semana (Divulgação/Exame)

Álvaro Frasson, Fabiane Stefano e Arthur Mota apresentam Questão Macro a partir desta semana (Divulgação/Exame)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 7 de outubro de 2020 às 15h31.

Nesta terça-feira (6), Donald Trump anunciou em seu Twitter que cancelou as negociações de um pacote de estímulo fiscal até, pelo menos, depois das eleições - que deve chegar ao fim em menos de um mês. A declaração de Trump, que está isolado em tratamento da Covid-19, foi um baque para o mercado: após os tweets, o índice Dow Jonas recuou mais de 1%.

Para o economista Arthur Mota, da Exame Research, a recusa de Trump em seguir com as negociações pegou o mercado de surpresa, trazendo mais incertezas para a economia global.

"Esse pacote fiscal era a cartada que o mercado estava esperando ansiosamente. Já era sabido que o valor ficaria entre o que os republicanos queriam e o que os democratas pediam, mas a trava nas negociações pegou todo mundo desprevenido", explicou o economista, ressaltando a diferença crescente entre Trump e Biden nas pesquisas eleitorais, que já colocam o democrata 16 pontos à frente do republicano.

Com esse adiamento do pacote, as incertezas fiscais que já rondam a economia brasileira ganham uma dimensão global, gerando mais dúvida sobre o ritmo de recuperação da economia

Arthur Mota, economista da Exame Research

Economista do BTG Pactual, Álvaro Frasson destacou que os tweets de Trump sobre o pacote fiscal podem ter sido um recado a Jerome Powell, presidente do Banco Central americano, que pediu ao Congresso que aprovasse o pacote de uma vez por todas.

"Acredito que Trump quis reagir a essa fala, sinalizando que quem definirá os rumos da economia americana será ele próprio, e não o Powell", explica Frasson. "Acabou pegando mal para o mercado, que não viu com bons olhos a maneira como Trump se posicionou."

Enquanto isso, no Brasil...

Citadas por Mota, as incertezas que rondam o Brasil estão relacionadas ao programa Renda Cidadã e o respeito ao teto de gastos, um paradigma que tem tirado o sono do governo e mexendo com os ânimos do mercado brasileiro.

Nesta segunda (5), Paulo Guedes e Rodrigo Maia se reuniram para um jantar na casa do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas. O ministro e o presidente da Câmara pediram desculpas mútuas e defenderam a agenda de reformas e o respeito ao teto de gastos.

"Até por ser na casa de um ministro do TCU, esse encontro sinaliza que o governo pretende achar uma solução para o Renda Cidadã que não seja vista como uma pedalada fiscal ou um furo do teto. Mas falta efetividade política", analisou Álvaro, lembrando que, de segunda até hoje, tanto a nova PEC emergencial quanto a votação dos vetos presidenciais foram adiadas. "Não tem nada realizado, em termos práticos. O mercado está cansando dos discursos apenas."

Segundo Mota, o Brasil deve ter uma definição mais clara sobre a questão do teto de gastos ainda esse ano, assim que o Orçamento de 2021 e os vetos presidenciais - especialmente o que trata sobre desoneração da folha de pagamento - sejam votados no Congresso.

"Se já começarmos o ano com uma previsão de estouro do teto, o mercado não deve gostar", complementou Álvaro Frasson, lembrando que o Brasil tem dívidas que vencem em Abril e que, caso sejam roladas, devem prejudicar a imagem do país. "Não só o orçamento, mas a própria morosidade da política brasileira já preocupa as agências de rating, que estão de olho em como o Brasil vai lidar com essa questão."

Esses e outros assuntos foram debatidos nesta tarde, no programa semanal Questão Macro, apresentado pelos economistas Arthur Maia, da Exame Research, e Álvaro Frasson, do BTG Digital. A conversa é mediada pela jornalista Fabiane Stefano, editora de macroeconomia da Exame. 

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