Economia

Out/2008 - Quem são e o que querem os empresários que apóiam Lula

Para Sérgio Haberfeld, Lula é o melhor nome para fazer o Brasil passar pela terceira fase de sua reforma, a retomada do crescimento

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h51.

Última atualização em 4 de novembro de 2022 às 13h53.

Empresários de um lado, trabalhadores do outro. A tradicional queda de braço parece perder força na primeira eleição do século 21. Mas por quê? Em 1994, um pequeno comitê com pouco mais de 10 empresários apoiando a candidatura Lula provocou reações dentro e fora do PT. Os petistas não queriam aliança com o patrão, e o empresariado reprovava a cartilha do partido. Em 2002, o comitê de empresários de apoio a Lula tem 500 nomes entre grandes, médias e pequenas e microempresas. O que elas esperam de Lula e do Partido dos Trabalhadores?

Primeiro, é preciso lembrar que Lula não é o candidato dos sonhos da maior parte do empresariado. O nome favorito continua sendo José Serra, do PSDB. Em julho, EXAME consultou os presidentes de 100 das 500 maiores empresas do Brasil: 71% apoiavam o tucano e, como segunda escolha, aparecia Ciro Gomes. Lula tinha apenas 1%. Os meses passaram, a candidatura de Serra não decolou como todos esperavam e Lula parece ter aprendido a falar a língua dos empresários. Mais do que isso: muitos perderam o medo de apoiar o petista. "Teremos agora uma enxurrada de gente apoiando Lula. Muitos tinham medo de falar sobre o assunto", diz Sérgio Haberfeld, industrial do setor de embalagens. "Fui duramente criticado quando anunciei, em fevereiro, que iria apoiá-lo". O cenário agora parece outro. Recentemente, o presidente da Gradiente, Eugênio Staub, amigo de José Serra há 20 anos, decidiu votar em Lula depois que a campanha do tucano começou a atacar o petista no horário eleitoral. Mais do que votar, Staub foi à TV e declarou apoio à candidatura do PT.

O que gente como Staub e Haberfeld vê no petista? Em poucas palavras, a possibilidade de diálogo com o poder. "Lula promete conversar com cada setor empresarial antes de tomar decisões. Sempre ressalta o pacto social", diz José Carlos de Almeida, coordenador do comitê. "Os empresários estão sabendo que terão voz na discussão." A maior queixa dos empresários pró-Lula é que Fernando Henrique Cardoso, principalmente no segundo mandato, deu pouca atenção ao setor produtivo, privilegiou o mercado financeiro e arrefeceu o crescimento econômico. Com o jeito de negociar que aprendeu nos tempos de sindicalista do ABC, Lula deu aos empresários a esperança que eles queriam: diálogo com o Planalto e incentivo à produção.

Palavra-chave: crescimento

Para Sérgio Haberfeld, Lula é o melhor nome para fazer o Brasil passar pela terceira fase de sua reforma, a retomada do crescimento. A primeira fase, de abertura da economia, foi feita com competência por Fernando Collor, diz o empresário. A segunda, o controle inflacionário, foi executada de maneira brilhante por Fernando Henrique. "Para a retomada do crescimento é preciso uma cabeça desenvolvimentista e com poder de negociação. Como o que o Brasil teve nos tempos de JK", diz Haberfeld. "O Lula foi criado em negociação. Quem sai de um sindicato aprende que o segredo é negociar. Isso o Serra não sabe fazer."

Em 98, afirma Haberfeld, o empresariado apostou que Fernando Henrique, depois de controlada a inflação, iria incentivar o crescimento. "Não veio. Fernando Henrique deu estabilidade política e econômica ao país. Ele merece uma estátua para a posteridade. Mas, agora, o Brasil precisa crescer", diz o empresário, que não esconde seu interesse particular no crescimento econômico. O bom desempenho do setor de embalagens está intimamente ligado ao aumento da produção e aquecimento do consumo. O país crescendo, ele, como empresário, sai ganhando com aumento das encomendas.

Outra vantagem alguns parecem ver no candidato petista é, evidentemente, a volta de uma mãozinha do Estado a setores que se viram abandonados no governo de Fernando Henrique. Apóiam Lula não apenas nomes ligados à Zona Franca de Manaus, como Staub, mas também alguns representantes dos setores internacionalmente mais competitivos da economia, como o agronegócio, a indústria têxtil ou de alimentos.

"O projeto de governo de Lula à política industrial é muito melhor para o empresário nacional", diz José Pessoa de Queiroz Bisneto, dono de sete usinas de açúcar, o Grupo José Pessoa, o terceiro maior complexo sucro-alcooleiro do Brasil. Na prática, ele espera que Lula defenda o açúcar brasileiro no exterior e derrube as barreiras que o produto encontra nos mercados europeu e americano. "Queremos um presidente que faça pela indústria nacional o que o Fernando Henrique fez de maneira exemplar só no caso Embraer-Bombardier", diz. "Nosso açúcar não entra nos EUA, União Européia e Japão. Até no Mercosul o açúcar está na lista de exceções. É uma incompetência do nosso governo."

O setor de alimentos também faz eco a essas queixas. "Para nós é interessante que os laços comerciais com a Argentina sejam reforçados", diz Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, tradicional empresário petista que também aderiu à campanha de Lula. De acordo com o empresário, cerca de 75% do trigo consumido pelo Brasil é importado, e 95% vêm da Argentina. Estreitar as relações com o país vizinho seria muito bem visto pela indústria alimentícia. Para Pih, Lula poderá criar condições melhores para aumentar a produção nacional e as exportações. "Hoje não há recursos de longo prazo nem juros compatíveis para aumentar a produção. É preciso diminuir o custo-Brasil", diz.

A indústria química é outra que também parece de olho nas vantagens que um eventual governo Lula pode trazer. Michael Haradon, presidente da Fersol, fabricante de fertilizantes, produtos veterinários e para saúde pública, defende a política agrícola do petista: "Se a agricultura crescer, melhora a indústria de transformação ligada a ela. O programa do PT considera fazer uma reforma agrária séria, o que significa mais empregos".

Caravana do empresariado

O comitê de empresários, coordenado por José Carlos de Almeida, não parou o trabalho de catequese de antigos industriais arredios a Lula. Nesta terça-feira, depois de um almoço em Dourados e um jantar em Campo Grande, José Carlos voltou para São Paulo com a adesão de mais 190 empresários da região, desde microempresas até grandes companhias. "Boa parte do PIB da região esteve presente aos encontros", diz ele. "Ganhamos o apoio de nomes importantes do setor agropecuário, frigorífico, de construção civil e dos transportes."

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