Economia

"Quem não reformar Previdência não termina mandato", diz Zeina Latif

"O Brasil só faz reforma quando tá no sufoco. Se não por convicção, por necessidade", disse a economista-chefe da XP Investimento em evento em São Paulo

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, está cautelosamente otimista (Divulgação/Divulgação)

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, está cautelosamente otimista (Divulgação/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de agosto de 2018 às 18h36.

Última atualização em 6 de agosto de 2018 às 19h44.

São Paulo - "Não fazer uma reforma da Previdência é não terminar o mandato. A discussão não é se faz ou não, é de quem entrega mais", disse nesta segunda-feira (06) a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

A declaração foi dada durante palestra no evento "Perspectiva da Economia Global e do Brasil", organizado pela agência de classificação de risco Fitch Ratings.

A receita liquida já está 101% comprometida com gasto obrigatório e mais da metade disso é com a Previdência.

"Não tem mais brincadeira: acabou o dinheiro e estamos ficando velhos e pobres, o que não é uma boa combinação", disse Zeina, citando também o fim do bônus demográfico.

Depois do evento, ela disse à EXAME que a reforma é essencial para a estabilidade política porque manter a trajetória de gastos atual levaria a uma turbulência nos mercados nos moldes de 2015, e uma forte deterioração do ambiente macroeconômico.

O descontrole fiscal acabaria descambando inevitavelmente em alta da carga tributária e/ou um novo espiral inflacionário, ambas "soluções" que já foram rejeitadas historicamente pela sociedade brasileira.

O Fiat Elba e as pedaladas fiscais, que no papel serviram para encerrar os mandatos de Fernando Collor e Dilma Rousseff, teriam sido "secundários"; o que contou mais foi a crise econômica.

Uma volta para a recessão em 2019 e 2020 só entra no cenário de Latif se o próximo presidente "falhar miseravelmente", o que ela acha ser possível mas não o mais provável.

A falta de alternativas é o motivo pelo qual ela é cautelosamente otimista com os resultados das eleições presidenciais.

Ela acredita que o crescimento econômico, ainda que decepcionante, reduz o apelo dos discursos populistas e que aprendeu-se com os erros de Dilma e a negação dos problemas na campanha de 2014:

"Agora todas as discussões estruturais estão em cima da mesa (...) Vejo propostas equivocadas, por isso o risco da mediocridade, mas não vejo ninguém negando necessidade de reforma da Previdência".

A experiência dos últimos dois anos de pós-impeachment também teria mostrado que políticos e órgãos de controle estão entendendo a falta de recursos:

"O MDB ter ficado reformista diz algo sobre nosso momento (...) O Brasil só faz reforma quando tá no sufoco. Se não fizer por convicção, faz por necessidade", completou.

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