BCE: com o objetivo de conter a inflação descontrolada, este aumento terá repercussões para muitos agentes econômicos (Kai Pfaffenbach/Reuters)
AFP
Publicado em 18 de julho de 2022 às 09h08.
Última atualização em 18 de julho de 2022 às 10h55.
O Banco Central Europeu (BCE) encerrará, na próxima quinta-feira (21), um capítulo de sua política monetária elevando suas principais taxas de juros, com o objetivo de conter a inflação descontrolada. Este aumento, o primeiro desde 2011, terá repercussões para muitos agentes econômicos.
Os bancos comerciais obtêm sua liquidez do Banco Central Europeu. Ao aumentar sua taxa de refinanciamento, uma de suas três principais taxas, o BCE cobrará mais por essa liquidez. E por causa do efeito dominó, os bancos repassarão esses aumentos para seus clientes.
A compra de uma casa será mais complicada: o aumento dos preços dos imóveis, que já é perceptível há vários meses, deve continuar.
As empresas, que tiveram fácil acesso ao crédito nos últimos anos, também devem ser afetadas. Os bancos podem, por exemplo, recusar empréstimos para projetos arriscados.
No entanto, "os custos de financiamento imobiliário dependem apenas parcialmente das taxas de juros oficiais do BCE e também são determinados pela oferta e demanda ou pela credibilidade do mutuário", diz Andreas Lipkow, analista da Comdirect.
Nos últimos anos, os bancos tinham que pagar 0,5% quando depositavam dinheiro no BCE. Era uma forma de incentivá-los a injetar sua liquidez na economia.
O resultado foi que muitas entidades repassavam essa cobrança a seus clientes na forma de "comissão de custódia" caso o saldo de suas contas correntes ultrapassasse determinado valor.
Agora esse custo adicional vai desaparecer.
O corte das taxas de juros restabelecerá as margens das entidades bancárias, que devem ser capazes de oferecer um retorno mais atrativo em determinados investimentos.
No entanto, provavelmente levará algum tempo até que juros significativos possam ser obtidos novamente com as poupanças, alerta Elmar Völker, analista do LBBW.
"Espera-se que o aumento das taxas básicas de juros [e das taxas de poupança] não seja grande o suficiente para compensar as altas taxas de inflação", aponta.
Assim como os tomadores de empréstimos e as empresas, os governos que se financiam nos mercados sairão perdendo.
Após anos de taxas de juros nulas – ou mesmo negativas –, o peso da dívida aumentará, reduzindo a margem de manobra orçamentária dos governos, justamente em um momento em que as medidas de apoio ao poder de compra custam bilhões de euros.
Durante anos, os mercados de ações se beneficiaram das baixas taxas de juros e do fluxo de dinheiro dos principais bancos centrais.
Diante dos baixos rendimentos dos títulos do governo, os investidores correram para ativos de risco, especialmente de renda variável, e os mercados de ações dispararam.
Nas últimas semanas, os mercados de ações mundiais despencaram à medida que os bancos centrais apertaram seu controle sobre a inflação.
As ações de tecnologia foram particularmente atingidas: o índice Nasdaq já caiu 30% em relação às máximas do final de 2021. Junho foi o pior mês da história do bitcoin, com queda de mais de 40%.
Como o BCE "age muito devagar e comunica antecipadamente os aumentos das taxas, os investidores estão preparados há muito tempo, o que vai contra grandes oscilações" nos mercados de ações, observa Elmar Völker.
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