Em Hefei, na China, menina brinca na neve (REUTERS/Stringer)
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de outubro de 2016 às 16h59.
Última atualização em 24 de outubro de 2016 às 17h06.
São Paulo - A decisão da China de acabar com a política de filho único vai colocar dinheiro no bolso de muita gente dentro e fora do país.
De acordo com a consultoria Euromonitor, o mercado estima 26 milhões novos bebês chineses por ano entre 2016 e 2020, o que deve levar a um crescimento real anual de 11% nos mercados de roupas e sapatos infantis.
Nenhum outro setor de vestuário chinês tem uma perspectiva tão boa - e isso sobre uma base que já é alta e conseguiu crescer cerca de 8% no ano passado.
A Agabang & Co Ltd, segunda maior empresa de vestuário infantil da Coreia do Sul, teve parte de suas ações adquiridas no ano passado pela Lancy Co, marca chinesa de vestuário feminina, e outras parcerias assim devem surgir.
É natural que o dinheiro caminhe para setores como esse em meio a uma economia onde os grandes motores de crescimento do passado, como indústria pesada e infraestrutura, cedem espaço a áreas como varejo e saúde.
Era essa, inclusiva, uma das intenções do governo com a mudança. Mas a transição não é suave e apesar dos últimos números mostrarem sinais de estabilização no PIB, o crescimento nunca mais deve registrar as taxas de dois dígitos do passado recente.
Também não dá para ver um país com 1 bilhão de habitantes sem olhar para as diferenças regionais. A Euromonitor aponta que nas grandes cidades, os casais já hesitam em ter mais de um filho diante da falta de tempo e do alto custo de vida.
Como há menos pressão nas cidades menores e nas áreas rurais, é nelas que o fim da política de filho único deve ter mais impacto comercial - e onde as empresas devem focar.
Histórico
A política do filho único foi imposta em 1979, quando a taxa de fertilidade era de 2,81 filhos por mulher e o governo temia que o crescimento populacional fosse fugir do controle.
Poucas exceções eram permitidas e a fiscalização era intensa. No longo prazo, a preferência pelo sexo masculino gerou um excedente de homens solteiros que deve chegar a 30 milhões já em 2020 e causa tensões sociais.
Em 2013, a taxa de fertilidade já havia caído para 1,17 filho por mulher, abaixo do nível de substituição, e o governo começou a flexibilizar a regra – mas não conseguiu atingir a meta de gerar 2 milhões de novos nascimentos desde então. No ano passado, a política foi abolida de vez.
A preocupação é econômica: o boom demográfico do país já passou, o que significa cada vez menos jovens sustentando cada vez mais idosos.
É o desafio das pensões, generalizado nos países desenvolvidos e que agora chega aos emergentes - incluindo o Brasil, que não por acaso discute atualmente uma Reforma da Previdência.