Economia

Quem é quem no time liberal de Paulo Guedes

O superministro da Economia está formando para 2019 uma equipe com pessoas que seguem a mesma cartilha, a do liberalismo econômico

A sociedade e o mercado reconhecem os valores liberais de Paulo Guedes em sua equipe econômica (Sergio Moraes/Reuters)

A sociedade e o mercado reconhecem os valores liberais de Paulo Guedes em sua equipe econômica (Sergio Moraes/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 25 de novembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 25 de novembro de 2018 às 06h00.

São Paulo – O futuro superministro da Economia, Paulo Guedes, é o homem todo poderoso do governo de Jair Bolsonaro. Ele está se cercando de pessoas que congregam do mesmo pensamento liberal que defendeu desde sempre.

Para o economista-chefe da Spinelli Corretora, André Perfeito, a nova equipe econômica é formada por nomes com muita unidade, que seguem a “mesma cartilha”: a do liberalismo ortodoxo.

“A sociedade e mercado reconhecem neles esses valores liberais. Um dos princípios desse pensamento é que o crescimento econômico não deve ser estimulado pelo aumento da demanda e sim pela geração da oferta. Agora, é um desafio implementar essa agenda liberal de forma intensa. Pode gerar um efeito contrário”, disse Perfeito.

A nova agenda econômica prevê privatizações e ajuste fiscal profundo, com reformas, principalmente da Previdência, para colocar a economia nos eixos novamente.

“Essa agenda precisa ser definida com clareza. Ainda não está clara. Mas, mesmo assim, depende de uma negociação política forte para que ela se concretize. A sociedade brasileira apoia as iniciativas liberais até um certo ponto, até interferir em seus interesses, nos interesses de alguns setores”, afirmou o economista-chefe.

Perfeito citou a mudança de visão de uma política menos assistencialista do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para uma estratégia mais voltada para o mercado. A instituição será comandado por Joaquim Levy, um “Chicago boy” como Guedes. Levy, que foi ex-ministro da Fazenda do governo Dilma, tentou implementar o ajuste fiscal para tirar o país da recessão econômica em 2015.

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, também acredita que o presidente eleito deverá ter habilidade política para implementar a agenda liberal tocada por Guedes.

“Estamos em boas mãos. Sempre acreditamos que o governo Bolsonaro conseguiria atrair talentos para a equipe econômica. A preocupação maior é o desafio político. É muito importante que medidas mais duras, como a reforma da Previdência, sejam aprovadas já no início do governo, no ano que vem. Bolsonaro tem que aproveitar esse capital político de início de governo”, ressaltou Latif.

Para ela, o núcleo dos militares terá um papel importante nessas negociações políticas. “Não temos tanto um pensamento liberal como se pensa. Todo mundo gosta de um subsídio, de medidas protecionistas. Cada medida dessa agenda liberal será um teste para a classe política brasileira porque será, algumas vezes, impopular mas necessária”, afirma a economista-chefe da XP.

A equipe econômica

Na última sexta-feira (23), Paulo Guedes anunciou o nome de Salim Matar para assumir a Secretaria-Geral de Desestatização e Desimobilização. Matar é o fundador e presidente do conselho de administração da locadora de veículos Localiza.

Ele chefiará o órgão responsável pelas privatizações que serão feitas na gestão de Bolsonaro. "A nova secretaria vai ser responsável pelos desinvestimentos, desimobilização e busca de maior eficiência na gestão dos ativos da União", disse em nota oficial a assessoria de Guedes.

Mattar fundou a Localiza em 1974, quando tinha 24 anos, e ocupou o cargo de diretor presidente da companhia, atualmente a maior locadora de veículos da América Latina, até maio de 2013.

Guedes, que ocupará um "superministério" da Economia na gestão de Bolsonaro, tem defendido um programa de privatizações no governo federal, tese que também é do presidente eleito.

Entre os ativos da União que podem passar às mãos da iniciativa privada estão a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, além de atividades de refino da petroleira estatal. Unidades de bancos públicos, como o Banco do Brasil, também podem ser privatizados.

Petrobras

Roberto Castello Branco será o novo presidente da Petrobras. Ele é economista e ex-membro do conselho administrativo da Petrobras, em 2015-2016, por indicação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Além da Petrobras, Castello Branco também foi diretor do Banco Central e diretor executivo de instituições financeiras e da Vale. Ele tem pós-doutorado pela Universidade de Chicago e é professor da Fundação Getúlio Vargas.

Castello Branco fazia parte do time de especialistas que participava das discussões com Paulo Guedes durante a campanha. Foi Guedes, de quem é amigo de longa data, que o indicou para o cargo.

Banco Central

Roberto Campos Neto, 49, executivo do banco Santander, substituirá Ilan Goldfajn, que não aceitou o convite para permanecer no cargo. Ele está no banco espanhol desde 2005, quando foi contratado como operador. Formado em economia pela Universidade da Califórnia, ele é neto de Roberto Campos, considerado um dos maiores economistas do Brasil e expoente da corrente liberal - ele foi ministro do Planejamento durante o governo de Castelo Branco (1964-1967).

BNDES

De perfil liberal e doutor pela Universidade de Chicago, Joaquim Levy foi indicado para ocupar a presidência do BNDES. Em sua última experiência no governo, Levy foi convidado por Dilma Rousseff para assumir o Ministério da Fazenda logo após a reeleição. A ideia era que ele realizasse um duro programa de ajuste das contas públicas.

Já como ministro, afirmou na cerimônia de apresentação em 27 de novembro de 2014, que teria como objetivo imediato estabelecer uma meta de superávit primário para os três primeiros anos de sua gestão, que seria 1,2% do PIB em 2015 e de pelo menos 2% em 2016 e 2017. Não descartou a possibilidade de cortes no orçamento e pediu o apoio da iniciativa privada para que a economia volte a crescer.

Em seguida, foi para o Banco Mundial, onde estava até hoje. Seu mandato na instituição acabaria em 2021. Levy também foi secretário do Tesouro durante o governo Lula, quando Antônio Palocci comandava o Ministério da Fazenda. Após deixar a chefia do Tesouro Nacional, em 2006, Levy foi vice-presidente de Finanças e Administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), posição que ocupou por oito meses. Ele se desligou do BID no final do mesmo ano e, em janeiro de 2007, foi convidado pelo então governador do Rio, Sérgio Cabral, a assumir a Secretaria de Fazenda do estado.

Tesouro Nacional

Mansueto de Almeida será mantido no comando do Tesouro Nacional. Ele é um dos idealizadores da regra do teto de gastos e um crítico feroz da política de subsídios implementada nos governos petistas.

Considerado um especialista competente em finanças públicas, Mansueto saiu da função de pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2016 para integrar o "dream team" formado pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Assumiu primeiro a Secretaria de Acompanhamento Econômico e depois o Tesouro Nacional.

Banco do Brasil

Rubem Novaes, assim como Paulo Guedes e Joaquim Levy, é oriundo da Universidade de Chicago. Ele integrou a equipe do futuro ministro da Economia sendo responsável pela formulação do programa de desestatização do novo governo. Novaes esteve à frente das entidades patronais, como Confederação Nacional da Indústria (CNI), além de ter sido diretor do BNDES.

Caixa Econômica Federal

Pedro Guimarães assumirá a presidência da Caixa. O economista é sócio do banco de investimentos Brasil Plural e tem uma vasta experiência no mercado financeiro. Doutor em Economia pela Universidade de Rochester (EUA), especializou-se em privatizações e participou de diversos processos de venda de empresas no Brasil, como a do Banespa.

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