A queda dos juros vai ao encontro da preocupação dos investidores com o baixo crescimento do país em relação a outros países do BRIC e América Latina (Germano Lüders/Você S/A)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2012 às 11h51.
Rio de Janeiro - A queda dos juros no Brasil é estrutural e sustentável, e os investidores em geral estão mudando a alocação de recursos para se adaptar. Na avaliação do presidente do HSBC Global Asset Management, Pedro Bastos, esse movimento dos investidores já está sendo sentido pelo mercado e os juros mais baixos mudam totalmente o cenário. "Os juros finalmente estão caindo de forma estrutural e serão ainda mais baixos no futuro", afirmou Bastos, após participar de seminário Brazil Economic Summit, na capital fluminense, nesta terça-feira.
Segundo ele, mesmo que haja aumentos na taxa básica de juros, a Selic, que hoje está em 8%, por causa de repiques inflacionários, os juros estarão em patamares mais baixos, pois "repiques inflacionários e ajustes monetários" fazem parte de economias desenvolvidas.
A mudança na alocação de recursos tenderá para títulos de dívida corporativa de perfil mais longo. "Os dados da Anbima mostram claramente uma diminuição dos fundos DI e aumento nos multimercados e fundos atrelados à inflação de mais longo prazo", completou Bastos.
Segundo o executivo, o investidor estrangeiro faz essa mudança mais rapidamente. O processo, porém, está em curso e o mercado ainda é marcado por muita volatilidade. No caso dos estrangeiros, apesar de um receio generalizado dos investidores por causa da crise internacional, há um movimento global de ida para mercados emergentes.
"Existe uma aversão a risco, está todo mundo muito cauteloso, mas as mudanças estruturais estão beneficiando o Brasil e outros países emergentes", afirmou Bastos, citando o crescimento dos emergentes como um diferencial.
Para Sebastián Briozzo, diretor de Rating Soberano da S&P, a redução da taxa Selic é um fator incorporado positivamente à perspectiva estável da agência para o País, elevado de BBB- para BBB em novembro de 2011.
"É muito importante do ponto de vista do crescimento e fiscal, porque 25% da dívida brasileira está atrelada à Selic. O difícil desse jogo é que tem de ser feito mantendo a força das metas de inflação", diz. A S&P prevê a necessidade de alguma alta da Selic no segundo semestre de 2013, mas acredita que a redução dos juros é uma tendência de longo prazo.
A queda dos juros vai ao encontro da preocupação dos investidores com o baixo crescimento do país em relação a outros países do BRIC e América Latina, diz Briozzo.
Embora admita que a atração de capital de curto prazo tenha perdido força, o executivo avalia isso como um fator positivo para o País, que ganha mais ao atrair a renda fixa de longo prazo e investimento estrangeiro direto, que vem batendo recordes.
Ele minimizou as preocupações com o nível de endividamento das famílias brasileiras. "O aumento da dívida das famílias não é fator de preocupação, mas de atenção. O Brasil precisa manter um nível de intermediação financeira mais alto", disse.