Após o reajuste da Petrobras na última semana, em São Paulo o valor do litro chega a ultrapassar os R$ 7,50 (Alexandre Battibugli/Exame)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 15 de março de 2022 às 17h17.
Última atualização em 16 de março de 2022 às 09h57.
Com incertezas mundiais frente a um novo surto de covid-19 na China, que fez o país confinar milhões de pessoas, a guerra na Ucrânia, e uma provável subida dos juros nos Estados Unidos, as bolsas mundiais fecharam em forte queda nesta terça-feira, 15. Seguindo este clima de freio na expectativa de crescimento da economia mundial, o barril do petróleo teve uma queda forte, de quase 8%, sendo cotado abaixo dos US$ 100.
Quando o preço da commodity no mercado internacional sobe, há um aumento na gasolina no posto mais perto de sua casa aqui no Brasil, já que a Petrobras tem uma política de cotação dos combustíveis atrelada ao que é praticado no exterior, em dólar. Seguindo esta lógica, quando há queda no mercado internacional, o preço é reajustado para baixo em solo brasileiro também?
A resposta é: não necessariamente, como explica André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. “Apesar da forte queda do barril de petróleo nos últimos dias, basta lembrar que não faz pouco tempo este mesmo contrato do tipo brent [o mais comum] era cotado a US$ 139. Não devemos ver recuo de preços no país uma vez que há ainda alguma diferença entre os preços domésticos e externos”, diz.
Segundo cálculos do economista, uma comparação dolarizada mostra que no período de um ano, a gasolina subiu 29,3%, em média, no Brasil, enquanto o barril do petróleo teve um aumento de 44%, contando com a última queda.
“Esta é uma aproximação da paridade do barril fora do país e os preços internos podendo variar da metodologia de cálculo da Petrobras, mas que nos dá uma noção de grandeza”, afirma.
O professor de economia da FGV Rio de Janeiro, Mauro Rochlin, lembra quem em outros momentos em que o barril do petróleo teve queda no mercado internacional houve uma diminuição no preço ao consumidor. Mas que, neste momento, o cenário é outro porque a Petrobras segurou aumentos que ocorreram depois do último reajuste, em janeiro.
A queda do preço do petróleo no mercado internacional e os últimos aumentos concedidos no mercado interno reduziram a defasagem dos preços dos combustíveis da Petrobras, que com isso tem menos demanda para novos aumentos, em um momento que se especula sobre uma possível pressão para que o presidente da estatal renuncie, o que não deve acontecer, segundo fontes próximas ao assunto.
Dados da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) informam que a defasagem do preço do diesel passou de uma diferença de 40% em relação ao praticado no Golfo do México (EUA) há uma semana, para 2% nesta terça-feira, 15, enquanto a gasolina passou de 30% para 6% na mesma comparação.
Já a Refinaria de Mataripe, na Bahia, vendida pela Petrobras em dezembro para o fundo de investimentos árabe Mubadala, está praticamente alinhada com os preços externos, com defasagem de apenas 1% em relação aos preços internacionais praticados no Golfo do México, segundo levantamento da Abicom.
O professor de economia da FGV, Mauro Rochlin, explica que é justamente por conta da diminuição dessa defasagem que o preço da gasolina deve ficar mais estável nos próximos meses e ainda impeça uma diminuição no valor das bombas.
"Após o aumento feito pela Petrobras em janeiro, o preço do barril de petróleo se elevou muito e a estatal não fez o ajuste desse valor. Essa queda agora pode significar não ter uma diminuição no preço na bomba porque está compensando a alta que não foi repassada", afirma.
Na semana passada, no dia 11 de março, a Petrobras reajustou os preços da gasolina e do diesel após 57 dias de valores congelados. O GLP, mais conhecido como o gás de cozinha, também teve alteração depois de 152 dias sem sofrer reajuste nos preços.
"Esse movimento da Petrobras vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes em seus preços de venda", disse a estatal em nota.
A gasolina foi reajustada em 18,7%, o diesel, em 24,9% e o gás de cozinha em 16%. Os aumentos foram nas refinarias da empresa, mas se refletiram diretamente nas bombas dos postos de combustíveis. Muitos motoristas correram para abastecer antes do aumento, formando imensas filas em diversas capitais brasileiras. Após o reajuste, em São Paulo, o valor do litro chega a ultrapassar os R$ 7,50.
(Com Estadão Conteúdo)