Economia

Qual será o tamanho da queda do PIB do Brasil no 1º tri? Dado sai amanhã

Previsões de queda giram em torno -1%; para economistas, paralisação devido à pandemia do coronavírus em março deve derrubar taxa do trimestre inteiro

Comércio fechado em Recife: setor teve queda de -2,5% em março (Andréa Rêgo Barros/PCR/Fotos Públicas)

Comércio fechado em Recife: setor teve queda de -2,5% em março (Andréa Rêgo Barros/PCR/Fotos Públicas)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 28 de maio de 2020 às 15h39.

Última atualização em 28 de maio de 2020 às 16h59.

Mesmo que as medidas de isolamento social e paralisação das atividades devido ao coronavírus tenham começado apenas no fim de março, os dados da economia brasileira no primeiro trimestre já devem mostrar algum estrago.

Nesta sexta-feira, às 9h, o IBGE divulga o PIB do 1º trimestre, e aferições isoladas do instituto indicam que o mês de março deve contribuir negativamente para o cálculo.

No mês, o setor de serviços recuou -6,9%, o comércio -2,5% e a indústria teve queda de -9,1%, refletindo a atividade fraca.

Segundo a pesquisadora Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), as duas semanas de paralisação no fim de março foram suficientes para levar o primeiro trimestre para o negativo.

“Mesmo que a quarentena tenha envolvido só a metade de março, isso já foi suficiente para compensar o que crescemos em janeiro e fevereiro. Essa queda no trimestre não teria acontecido se não fosse a quarentena. O varejo sofreu bastante, mesmo que ele tenha tido uma compensação com aumento nas vendas em supermercados e farmácias, com as famílias fazendo estoque. O setor de serviços também teve queda muito forte, especialmente os serviços prestados às famílias. Esse setor envolve alimentação fora de casa, hotelaria. Tudo isso tem muito impacto no PIB.”

Para o economista Fernando Ribeiro Leite, do Insper, isso realmente deve acontecer, principalmente porque a crise do coronavírus paralisa a economia urbana.

“As paralisações dizem respeito à economia urbana. Não estamos passando por uma crise no campo. Portanto, a paralisação incide sobre a maior estrutura de produção do país.”

Em sua última projeção sobre o cenário econômico, de 28 de abril, o banco Bradesco previa uma queda de -1% nos três primeiros meses do ano sobre o trimestre anterior, assim como o Ibre, FGV.

Já o Itaú BBA prevê uma queda de -0,5% na mesma base. Para o segundo trimestre, a previsão da instituição é drástica: uma queda de -11,5%.

Nesta semana, o resultado do estrago causado pelo novo coronavírus na economia mundial tem sido mostrado por dados do primeiro trimestre. O PIB da Alemanha caiu 2,2% nos primeiros três meses do ano e o dos Estados Unidos chegou a despencar 5%.

Recessão em 2020

No último trimestre de 2019, o ritmo da economia brasileira subia a 1,7%, acima dos trimestres anteriores, o que levou o PIB do país no ano passado a fechar com alta de 1,1%, encerrando o terceiro ano de crescimento fraco após a recessão de 2015 e 2016. Agora, a crise está de volta.

Em janeiro, a expectativa média do mercado financeiro para o crescimento do PIB de 2020 era de 2,3% de acordo com o primeiro Boletim Focus do ano, de 3 de janeiro.

Mas os números foram desmoronando à medida que o coronavírus deixou de ser apenas um problema na China.

O último boletim Focus aponta que a expectativa do mercado é de uma queda de 5,89% no PIB deste ano. No entanto, bancos e economistas chegam a prever quedas maiores. O  Instituto Internacional de Finanças prevê uma queda de 6,9%. Para a agência Fitch, a queda da economia será de 6%.

Mesmo que o período mais duro de isolamento social dure cerca de três meses, como na Europa, os efeitos econômicos podem durar mais tempo. De acordo com o professor Fernando Ribeiro Leite, isso acontece devido às expectativas e outros fatores.

“A pandemia e a paralisação tem criado uma sensação de que o mundo será diferente. O que será diferente ninguém sabe, mas enquanto esperam por isso as empresas congelam investimentos. Esperam para ver como estarão seus setores e até as preferências dos consumidores. Uma segunda coisa é a duração do desemprego criado hoje. Porque esse desemprego significa redução de renda, redução de demanda.”

Para a economista Luana Miranda, o Brasil só deve se recuperar da crise causada pelo coronavírus em 2022.

“No ano que vem a gente não vai conseguir recuperar o que foi perdido esse ano. Na minha visão, o PIB só volta ao nível de 2019 em 2022. Apesar de ser uma crise sanitária, ela tem um impacto muito grande na atividade econômica. Isso porque as famílias reduziram o consumo, as pessoas ficaram desempregadas e o governo também se endividou.

De acordo com a economista, é preciso haver preocupação com as questões fiscais para garantir a recuperação após a pandemia. Devido aos gastos extras, o país precisou se endividar mais.

“Em algumas projeções, a dívida pública bruta chega a 100% do PIB. Esse cenário fiscal é muito ruim para o país. Esse cenário traz incerteza sobre como vamos consolidar as contas fiscais quando sairmos da recessão. Como vamos fazer para voltar ao equilíbrio fiscal?”

A previsão do Itaú BBA acompanha essa previsão de que em 2021 a economia ainda não se recuperará. O banco prevê queda de -4,5% neste ano e um crescimento de “apenas” 3,5% no próximo.

Mercado de trabalho

Mesmo com medidas para desestimular demissões, como a MP 936, que permite redução de salários e jornada dos trabalhadores sendo compensados pelo governo, o saldo de desempregados do país já é alto.

De acordo com dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta semana, o Brasil teve 1,45 milhão de demissões de vagas formais em abril, mais um reflexo da crise econômica que atingiu o país. Nos Estados Unidos, o número de solicitações de seguro-desemprego passam de 40 milhões desde o início da quarentena.

No Brasil, os casos de coronavírus já passaram de 400 mil, de acordo com o Ministério da Saúde e as mortes passam de 25 mil.

No mundo, já são cerca de 5,6 milhões de infectados e mais de 350 mil mortes, de acordo com o levantamento da universidade Johns Hopkins.

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