Economia

Proposta da UE sobre carne e etanol decepciona Mercosul

A proposta pode inviabilizar um acordo até o final do ano, como era esperado, disse a fonte

UE: "O sentimento no Mercosul foi de viva decepção" (Neil Hall/Reuters)

UE: "O sentimento no Mercosul foi de viva decepção" (Neil Hall/Reuters)

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Reuters

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 21h26.

Brasília - A União Europeia ainda não entregou a proposta sobre mercado de etanol e carne, a que falta para a negociação de um acordo de livre comércio com o Mercosul, mas os números que devem ser apresentados causaram "viva decepção" e podem inviabilizar um acordo até o final do ano, como era esperado, disse à Reuters uma fonte que participa das negociações.

A proposta europeia para esses setores deve vir muito abaixo do que foi apresentado há 13 anos, em 2004, quando se iniciou uma negociação de livre comércio, interrompida dois anos depois e retomada em 2012.

Os europeus devem propor a importação anual de até 70 mil toneladas de carne e 600 mil toneladas de etanol, segundo informações não oficiais antecipadas aos negociadores sul-americanos, disse a fonte. Em 2004, a proposta era de 100 mil toneladas de carne e 1 milhão de toneladas de etanol.

"O sentimento no Mercosul foi de viva decepção, porque são números bastante abaixo do que estava na mesa em 2004. A reação aos indícios não foi das melhores", segundo a fonte.

Uma nova rodada de negociações começou nesta segunda-feira e deve seguir até a sexta, em Brasília. De acordo com a fonte, o que os sul-americanos ouviram é que a proposta está pronta, faltando apenas a assinatura mas faltaria uma autorização do "mais alto nível político" da UE.

Com autorização ou não, a proposta, se vier como prevista, deve emperrar as negociações. O setor de carne é uma dos setores mais fortes das exportações do Mercosul, e os produtores esperavam números próximos a 400 mil toneladas. No setor sucro-alcooleiro, além das 600 mil toneladas de etanol, esperava-se a abertura do mercado de açúcar, o que não deve ocorrer.

Os negociadores sul-americanos lembram, ainda, que em 2004 a UE era formada por apenas 16 países. Agora, são 28, e a oferta é menor.

Na troca de ofertas inicial, em 2016, os europeus afirmaram que ainda não estavam prontos para apresentar propostas nessas duas áreas, o que travou o avanço das negociações de acesso a mercados, parte central do acordo.

A UE se comprometeu a fazer uma oferta até essa reunião de outubro para que as negociações pudessem avançar, o que até agora não veio. Uma proposta muito abaixo do esperado, como parece que vai ocorrer, deve complicar a meta defendida pelos dois lados de fechar o acordo até dezembro deste ano.

Depois de dois anos parado, o acordo começou a andar em 2016, quando ficou claro para os europeus que a negociação transatlântica, com os Estados Unidos, teria pouca possibilidade de sucesso em um governo Trump. No entanto, há enormes dificuldades internas na Europa.

Na semana passada, 11 países, liderados por França e Irlanda, propuseram à Comissão Europeia que o acordo fosse adiado até que se tomassem providências para garantir que se evitasse competição desleal de produtos agrícolas mais baratos exportados pelo Mercosul.

Os países --que incluem ainda Áustria, Bélgica, Hungria, Lituânia, Luxemburgo, Romênia, Polônia, Eslováquia e Eslovênia--como pontos vulneráveis, além de etanol e carne, açúcar e aves.

Uma segunda carta, defendendo o acordo, foi enviada à Comissão em seguida por Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Dinamarca, Suécia, Portugal e República Tcheca.

As dificuldades internas na UE se refletem na disposição de negociar o acordo, diz a fonte. "As cartas são um reflexo das dificuldades internas deles", afirmou.

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