Economia

Produto feito no Brasil chega a ser 30% mais caro que o produzido nos EUA

Nas duas edições anteriores do levantamento, apresentadas em 2010 e em 2013, essa diferença no chamado custo Brasil era de 37%

Um produto feito no Brasil é 30% mais caro do que o mesmo produto feito nos Estados Unidos ou na Alemanha (Bia Parreiras/Exame)

Um produto feito no Brasil é 30% mais caro do que o mesmo produto feito nos Estados Unidos ou na Alemanha (Bia Parreiras/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de julho de 2018 às 09h22.

Um produto feito no Brasil é 30% mais caro do que o mesmo produto feito nos Estados Unidos ou na Alemanha, países com os quais a indústria brasileira compete e que têm várias subsidiárias no País. O estudo comparativo do custo Brasil foi feito pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Nas duas edições anteriores do levantamento, apresentadas em 2010 e em 2013, essa diferença no chamado custo Brasil era de 37%. "Infelizmente a redução não foi consequência de um esforço do governo para diminuir nossos custos, mas da depreciação do real frente ao dólar e da redução da taxa de juros básicos da economia", explica o presidente da entidade, João Carlos Marchesan.

Sem o efeito câmbio, diz ele, a diferença ficaria próxima aos porcentuais dos anos anteriores. O estudo leva em conta as variáveis de juros sobre capital de giro, insumos básicos, impostos não recuperáveis na cadeia, logística, encargos sociais e trabalhistas, burocracia e custos de regulamentação, custos de investimentos e de energia.

"O grosso da nossa falta de competitividade é um problema do Brasil e não da indústria, pois é resultado de fatores sistêmicos, sobre os quais não temos controle", acrescenta Mário Bernardini, diretor de competitividade da Abimaq.

Única fabricante de compressores e equipamentos para refrigeração no Hemisfério Sul, a Bitzer, com fábrica em Cotia, na grande São Paulo, é um exemplo dessa falta de competitividade provocada por "fatores sistêmicos". A empresa já exportou cerca de 35% de sua produção no início dos anos 2000 para EUA e Europa, incluindo a matriz do grupo na Alemanha.

Agora, 15% do que produz vai para o exterior, mas a grande maioria para países da região, especialmente Argentina, onde o grupo também tem uma filial. "Da porta para dentro, somos tão competitivos quanto nossa fábrica alemã, mas, da porta para fora nosso produto custa em torno de 30% mais", diz o presidente da empresa no Brasil, Fernando Bueno.

Segundo ele, a fábrica local tem os mesmos equipamentos da matriz, opera de forma semelhante e os funcionários recebem o mesmo treinamento. "Temos produtividade, mas não temos competitividade", diz Bueno. "O câmbio valorizado, os impostos e os juros altos tiram nossa competitividade."

Como recuperar

A Abimaq defende uma política de Estado para recuperar a capacidade de produção das indústrias de transformação que, há dez anos, respondiam por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Hoje, participam com 12%. A capacidade de investimento, antes de 18% do PIB, agora está em 15,6% e o número de trabalhadores caiu de 350 mil pessoas, em 2008, para 294,6 mil em maio. No auge da produção, em 2013, o setor chegou a empregar 380 mil funcionários.

Muitas fábricas fecharam as portas. "Não temos mais fundições de alumínio no Brasil e as de ferro são poucas", diz Fernando Bueno, que precisa importar o produto da Alemanha.

"O ponto-chave para termos condições de investimento é recuperar a capacidade de competição da indústria local, o que obrigatoriamente passa pela redução do custo Brasil - o que não foi feito nos últimos 30 anos", afirma Marchesan.

Em mais uma tentativa de reverter esse quadro, a Abimaq preparou uma cartilha que vem sendo entregue e debatida com os candidatos à Presidência da República. Com 22 páginas, compara a situação econômica de dez países, incluindo o Brasil, e sugere medidas prioritárias para o desenvolvimento da indústria.

Uma delas é a necessidade de reformas estruturais (tributária, fiscal, da Previdência e monetária e cambial). As outras são uma política de desenvolvimento industrial e inserção no comércio global. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Custo BrasilEstados Unidos (EUA)Exportações

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs