Economia

Produtividade anêmica e Estado obeso: o nó brasileiro, por Otaviano Canuto

"A ilusão de que ficamos ricos sem precisar fazer nada da noite pro dia induziu uma deterioração na qualidade da governança", diz diretor do Banco Mundial

Otaviano Canuto, do Banco Mundial, em entrevista para a plataforma UMBrasil (YouTube/Divulgação)

Otaviano Canuto, do Banco Mundial, em entrevista para a plataforma UMBrasil (YouTube/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de dezembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 5 de dezembro de 2018 às 08h00.

São Paulo - "O Brasil está acometido por uma espécie de doença de anemia de produtividade e obesidade do setor público", diz Otaviano Canuto, que até o mês passado era diretor do Banco Mundial.

Seu diagnóstico é que o inchaço do Estado partiu de demandas legítimas, mas privilégios foram mantidos (ou até ampliados) e programas sociais se multiplicaram sem uma avaliação de custo-benefício, com uma importante exceção: o Bolsa Família.

Ele classifica a emenda do teto de gastos como uma "camisa de força" para um paciente que não controla seu apetite e vê margem para reformas estruturais que não prejudiquem os mais pobres.

Algumas das sugestões para isso estão em um estudo do Banco Mundial encomendado por Joaquim Levy, então ministro da Fazenda da ex-presidente Dilma Rousseff, e divulgado recentemente.

A análise de Canuto foi feita em entrevista da série “Brasil: ponto de partida?”, parceria da plataforma UM BRASIL, uma iniciativa da Fecomercio SP, com o Centro de Liderança Pública (CLP).

A série é parte do Projeto Visão Brasil 2030, idealizado em 2013 e que tem como objetivo pensar soluções para o país, em áreas prioritárias como saúde, educação e segurança pública, entre outras.

Canuto nota que com o fim do bônus demográfico, perde-se a possibilidade de crescer apenas incluindo pessoas na força de trabalho e a produtividade se coloca como único caminho.

O fator está estagnado há décadas no país, resultado de infraestrutura precária, ambiente de negócios ruim, descaso com a educação e fechamento comercial muito maior do que em economias similares.

O especialista aponta que dispor de recursos naturais pode ser a benção que se transforma em maldição se o país não souber transformar esses recursos em outros tipos de ativos.

Em referência ao pré-sal, diz que "a ilusão de que ficamos ricos sem precisar fazer nada da noite pro dia acabou induzindo uma deterioração na qualidade da governança". A consequência apareceu em investimentos errados e corrupção.

Veja a entrevista completa, antecipada com exclusividade para EXAME:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=cdZ5PayD3Js%5D

Acompanhe tudo sobre:Banco MundialFecomércioInfraestruturaReforma da Previdência

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs