Economia

Produção industrial recua em dezembro, mas fecha 2024 com alta de 3,1%, diz IBGE

Veículos automotores e a fabricação de equipamentos de informática e produtos eletrônicos impulsionaram crescimento da indústria ao longo do ano passado

Movimento de três quedas consecutivas – outubro (-0,2%), novembro (-0,7%) e dezembro (-0,3%) – indica que a desaceleração da indústria deve seguir ao longo de 2025 (Governo do Rio/Divulgação)

Movimento de três quedas consecutivas – outubro (-0,2%), novembro (-0,7%) e dezembro (-0,3%) – indica que a desaceleração da indústria deve seguir ao longo de 2025 (Governo do Rio/Divulgação)

Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 11h36.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2025 às 11h58.

A produção industrial brasileira recuou em dezembro, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgada pelo IBGE nesta quarta-feira, 5. A queda, que marcou o terceiro recuo consecutivo do setor, foi de 0,3%, acumulando perda de 1,2% no período com o resultado negativo dos últimos dois meses. Mas, apesar da queda, a indústria encerrou 2024 com crescimento de 3,1%, depois de subir 0,1% em 2023.

A alta foi a terceira maior em 15 anos, de acordo com o IBGE. Atrás somente do resultado de 2010, que foi de 10,2%, e 2021, de 3,9%, em que o contexto era de recuperação da pandemia de covid-19 após queda de 4,5% um ano antes.

Os índices de produção industrial vieram também acima do esperado pelos analistas de mercado, que projetavam queda de 1,1% no mês e alta de cerca de 3% para o ano.

Perspectivas para 2025

O movimento de três quedas consecutivas – outubro (-0,2%), novembro (-0,7%) e dezembro (-0,3%) – que não ocorria desde fevereiro-abril de 2021, quando a perda acumulada foi de 5,3%, indica que a desaceleração da indústria deve seguir ao longo de 2025, como apontaram representantes industriais à EXAME.

O setor teme a redução do dinamismo da economia global e a manutenção de juros elevados. E projetam uma perda de fôlego nas atividades industriais, apesar de mitigadores como depreciação superacelerada e as emissões de letras de créditos pelo BNDES, que tendem a fortalecer o funding.

"O aumento dos juros tem o objetivo de desaquecer a economia, por isso não há blindagem possível. Os primeiros impactados são bens industriais, já que muitos são bens duráveis e, por isso, mais sensíveis ao custo do crédito. Depois sentem outros produtos mais sensíveis a renda corrente", afirmou à EXAME o economista Rafael Cagnin do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

"Para este início de 2025 há alguns mitigadores da alta da Selic, mas eles não são capazes de anular o efeito negativo. O setor deve manter certo dinamismo, mas vai perder fôlego".

De acordo com André Macedo, gerente da PIM, o contexto macroeconômico dos últimos três meses divergiu do cenário ao longo do ano, o que contribuiu para o resultado computado pelo instituto.

"Muito dessa perda de vigor, de dinamismo que o setor industrial mostrou nos três últimos meses de 2024, guarda uma relação com a perda do nível de confiança de empresários, de consumidores. E isso tem como pano de fundo a questão do aperto da política monetária, com aumento de taxa de juros, a questão cambial também trazendo impactos importantes para as empresas em termos de custos e de preços", afirmou Macedo.

Nos primeiro sete meses do ano, o setor industrial mostrou resultados positivos nas pesquisas do IBGE, o que foi atribuído ao aquecimento do mercado de trabalho e a redução do desemprego, que faz aumentar o consumo das famílias.

Mas a alta dos preços e da inflação, especialmente no setor de alimentos, tem comprometido a renda delas e impactado nas expectativas dos empresários e, consequentemente, no resultado da indústria, observa o pesquisador.

"É dentro desse contexto que podemos entender muito dessa perda de intensidade e vigor que a produção industrial mostrou nos últimos meses de 2024. Contrastando com o resultado final do ano, de crescimento de 3,1%, numa velocidade muito acima do que havia terminado no ano de 2023. E para esse crescimento tem muito o mercado de trabalho como pano de fundo, com taxa de desocupação em níveis baixos e uma massa de salários em níveis mais elevados", disse Macedo.

"O importante dentro dessa leitura do resultado da produção industrial para o mês de dezembro é entender essa diferença entre o retrato do final do ano e a velocidade que essa produção industrial encerra o ano de 2024, que são comportamentos distintos, explicados por movimentos diferentes", complementa.

Resultados por setor

A pesquisa do IBGE detalha que os bens de capital tiveram recuo de 1,1% em dezembro. Mas na comparação com igual período de 2023, a produção avançou 13,7%. De modo geral, a indústria de bens de capital encerrou o ano com alta de 9,1%.

Já a produção de bens intermediários, que representa 55% da indústria brasileira, apresentou crescimento mensal de 0,6%. Na comparação com dezembro de 2023, subiu 1,5%, encerrando 2024 com alta de 2,5%.

Houve crescimento na produção de bens duráveis na comparação anual, que teve alta de 9,8%, apesar de cair 1,6% em dezembro. O resultado de bens semi e não duráveis, por sua vez, foi de retração de 1,8% em no último mês do ano.

Na comparação com dezembro de 2023, houve queda também de 1,8%. Com isso, a atividade encerrou o mês passado com expansão de 2,4%.

Veículos e informática impulsionam avanço

O gerente da PIM destaca que o resultado do ano de 2024 foi bastante disseminado, com as 4 grandes categorias econômicas e 20 dos 25 ramos industriais apontando expansão na produção. Em 2021, até então um dos crescimentos mais altos, 18 das 25 atividades registraram taxas positivas.

As principais influências positivas no total da indústria foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (12,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,2%), produtos alimentícios (1,5%) e produtos químicos (3,3%).

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