Pico da produção de alumínio no Brasil foi em 2008, atingindo 1,7 mi de toneladas (Reprodução/Getty Images)
Reuters
Publicado em 22 de abril de 2019 às 20h38.
Última atualização em 22 de abril de 2019 às 20h40.
São Paulo — A produção de alumínio primário do Brasil teve em 2018 uma mínima desde a década de 90, quando o setor ainda fazia investimentos em capacidade produtiva, e depende da retomada da produtora de alumina Alunorte, no Pará, para se recuperar em 2019, uma vez que custos de energia pressionam o setor.
Após um sequência declinante a partir de 2008, quando atingiu produção recorde de quase 1,7 milhão de toneladas, o setor ainda sustentou-se entre 2015 e 2017, vindo a registrar recuo anual mais expressivo (17%) em 2018, para 659 mil toneladas, com problemas que atingiram a produção da Alunorte, fornecedora de matéria-prima para a Albras.
A avaliação é da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), que divulgou nesta segunda-feira um balanço do segmento e expectativas para 2019.
"Teve muito investimento no fim do século passado, o Brasil chegou a ser o quinto maior, e teve o máximo em 2008. De lá pra cá, teve aumentos expressivos de custo de energia, e alumínio primário é custo de energia mais alumina (matéria-prima)", disse à Reuters o presidente da Abal, Milton Rego.
A Albras, maior produtora de alumínio primário do Brasil, pertencente à norueguesa Norsk Hydro e à japonesa Nippon Amazon Aluminum, teve a produção afetada após a Alunorte ter sido obrigada a reduzir a fabricação de alumina pela metade por decisão judicial devido a um vazamento em fevereiro de 2018.
Há expectativas de que a Alunorte, maior produtora global de alumina, retome atividades em 2019, com especialistas garantindo que ações tomadas evitariam um novo problema.
Mas para o presidente da Abal é o preço da energia que tem mais pesado no setor, que fechou cinco unidades entre 2011 e 2015, sendo a Alcoa a última a encerrar atividades no país.
Atualmente, além da Albras, apenas a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do grupo Votorantim, que gera a energia para a unidade, produz o metal no país, segundo a Abal.
A energia elétrica responde por quase 70% do custo de produção do alumínio nacional.
"É um peso brutal, a conta simplesmente não fecha", disse o dirigente, que tem expectativa de que mudanças sejam implementadas pelo governo para trazer alívio ao segmento.
Para o dirigente da associação, não fosse o desastre com a barragem de minério de ferro da Vale, em Brumadinho (MG), que elevou a cautela para o setor mineral, a Alunorte já teria voltado à capacidade normal.
"A Alunorte já cumpriu tudo o que teria de cumprir, está nas mãos do juiz. É um sentimento equivocado colocar tudo (Brumadinho e Alunorte) como uma coisa só."
"Com a Alunorte, o setor voltaria a 800 mil toneladas/ano, níveis de 2017, porque basicamente a mesma estrutura industrial está lá."
Se a produção de alumínio primário tem caído, a demanda tem crescido, sendo atendida por importações e pela produção de alumínio secundário, oriundo da reciclagem.
No ano passado, o consumo de alumínio no país cresceu cerca de 10 por cento em relação a 2017, a 1,38 milhão de toneladas. Dos setores que usam o metal, os maiores aumentos foram em embalagens, transportes e eletricidade.
Segundo Rego, a demanda por alumínio cresceu acima do PIB do Brasil nos últimos 15 anos, e as importações crescentes deverão novamente preencher a lacuna da produção estagnada em 2019.
Em 2018, as importações de transformados de alumínio (chapas, folhas, etc) somaram quase 200 mil toneladas, aumento de cerca de 40 por cento. Considerando a importação do metal bruto, as compras externas totalizaram 355 mil toneladas.
Ele lamentou as importações crescentes, uma vez que o Brasil tem a terceira maior reserva de bauxita, mineral usado para a produção de alumina.