Economia

Problema de países ricos, inflação baixa sugere cautela no Brasil

Um problema clássico dos países desenvolvidos chegou aos emergentes, que agora têm mais margem para cortar juros, mas não sem obstáculos no caminho

Moeda: o Brasil, em particular, já enfrenta o desafio da inflação mais baixa (Priscila Zambotto/Getty Images)

Moeda: o Brasil, em particular, já enfrenta o desafio da inflação mais baixa (Priscila Zambotto/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 5 de dezembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 5 de dezembro de 2019 às 07h00.

Durante anos, a inflação baixa parecia um problema clássico do mundo rico. Agora, muitas economias em desenvolvimento também têm sua própria versão.

Os bancos centrais reagiram como seus pares dos países desenvolvidos: cortando as taxas de juros. Autoridades monetárias de mercados emergentes têm mais margem para continuar com os cortes, mas também enfrentam mais obstáculos no caminho.

Uma das maiores dificuldades é o mercado de câmbio, que não tem o mesmo peso para os bancos centrais de países desenvolvidos (embora o presidente dos EUA, Donald Trump, pense o contrário.)

As taxas de câmbio de mercados emergentes oscilam à medida que o capital entra e sai, um fluxo que ganhou força depois de anos de dinheiro barato nos países desenvolvidos. E, quando o capital sai e as moedas enfraquecem, esse movimento tem um impacto maior nos preços do que nos países ricos.

As economias emergentes estão “à mercê dos grandes bancos centrais”, disse Nariman Behravesh, economista-chefe da IHS Markit. Têm “menos margem de manobra”.

"Não ser conservador"

Essa é uma das razões pelas quais os mercados emergentes não podem acelerar muito. Esses países devem ajudar a economia mundial com um pouco mais de afrouxamento monetário em 2020. Mas governos de países como México e Rússia, assustados por crises cambiais recentes ou do passado, relutam em reduzir os juros, mesmo com a inflação perto dos níveis mais baixos em décadas.

O resultado são juros altos relativos à inflação - e moedas fortes. É uma combinação atraente para investidores que não conseguem encontrar bons retornos em outros mercados.

Mas essa estratégia pode prejudicar as economias, mantendo uma política monetária desnecessariamente apertada, de acordo com Gabriel Sterne, da Oxford Economics.

A lição dos países ricos, onde a inflação tem consistentemente ficado abaixo da meta, é “não ser muito conservador”, disse Sterne, que trabalhou no Banco da Inglaterra por 20 anos. “Isso é muito difícil para bancos centrais em mercados emergentes, porque estão acostumados à inflação. Tendo conquistado essa credibilidade, você não quer perdê-la rapidamente.”

"Novo paradigma"

O México entrou em recessão este ano, e a Rússia não conseguiu crescer acima de 3% em nenhum trimestre desde 2012. Ambos os bancos centrais vêm cortando os juros muito lentamente. Mas têm espaço para ir além, segundo pesquisa do Goldman Sachs.

A Turquia (onde as empresas acumularam uma pilha de dívidas em moeda estrangeira) e o Brasil estão entre os países emergentes mais vulneráveis à desvalorização das moedas caso reduzam ainda mais os juros, de acordo com o Goldman.

O Brasil, em particular, já enfrenta o desafio. O Banco Central surpreendeu o mercado este ano com cortes acima do esperado. Mas, na semana passada, teve que surpreender novamente os investidores com intervenções no mercado de câmbio depois que o dólar subiu para nível recorde.

Isso ilustra a necessidade de cautela dentro do “novo paradigma” que os mercados emergentes enfrentam, segundo Christopher Dembik, chefe global de pesquisa macroeconômica do Saxo Bank.

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