Economia

Prisões de executivos podem levar empresas a saírem da Venezuela

Muitas empresas privadas e estrangeiras reduziram significativamente suas operações na Venezuela, segundo o Eurasia Group

Venezuela: no dia 3 de maio, a polícia venezuelana prendeu 11 executivos do Banesco (NatanaelGinting/Thinkstock)

Venezuela: no dia 3 de maio, a polícia venezuelana prendeu 11 executivos do Banesco (NatanaelGinting/Thinkstock)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de maio de 2018 às 13h01.

São Paulo - As detenções de executivos e funcionários do Banesco, maior banco da Venezuela, e da petroleira Chevron no último mês, ordenadas pelo presidente Nicolas Maduro, indicam desespero crescente do governo local diante da crise econômica do país e aumento da disposição para intervir no setor privado, aponta o Eurásia Group em relatório.

O grupo considera que as prisões poderiam levar mais empresas estrangeiras e privadas a saírem do país, apesar de descartar que os eventos provoquem uma corrida aos bancos por conta da escassez de dinheiro no mercado nacional e da hiperinflação. "As detenções podem levar empresas a reconsiderar sua presença local", disse o Eurasia Group.

Muitas empresas privadas e estrangeiras reduziram significativamente suas operações na Venezuela, em razão de desafios operacionais e preocupações com a segurança de seus funcionários, lembra o Eurasia Group. A Chevron informou ter retirado parte de seus executivos do país na semana passada, enquanto o CEO da Total insinuou que o projeto de petróleo Petrocedeno (que envolve também a Statoil e a estatal PDVSA) poderia ser encerrado também por temores quanto à segurança de empregados da companhia.

A queda na produção de petróleo na Venezuela se acelerou nos últimos meses, segundo o Eurasia Group, mas os campos exclusivos da PDVSA registraram quedas mais acentuadas que os administrados junto com outras empresas.

"Se os parceiros começarem a reduzir significativamente seu pessoal ou suspenderem as operações, haverá ainda mais pressão de queda da produção neste ano, reduzindo ainda mais o fluxo de caixa do governo e colocando Maduro em uma posição mais precária", disse o grupo.

No dia 3 de maio, a polícia venezuelana prendeu 11 executivos do Banesco, o maior banco do país, por suposto envolvimento no mercado paralelo de câmbio. Logo após o ocorrido, o governo sinalizou que assumiria o controle do banco por 90 dias e que este prazo poderia ser estendido. A medida foi adotada depois de dois empregados da Chevron terem sido presos em razão da disputa com a PDVSA por um contrato.

As motivações por trás dos dois incidentes são distintas, segundo o Eurasia Group. No caso do Banesco, o governo estaria buscando um "bode expiatório" para o colapso do sistema de pagamentos do país e a escassez aguda de dinheiro. O grupo lembra que a administração Maduro está se preparando para lançar o "bolívar soberano" em junho, que deve eliminar três zeros da moeda existente, e que o governo local tem sido mais proativo para tentar conter o mercado paralelo de dinheiro.

Além disso, o dono do Banesco, Juan Carlos Escotet, tem um histórico de tensão com o governo, em particular com o vice-presidente do PSUV (partido governista), Diosdado Cabello. "As prisões parecem ser tanto uma tentativa do governo de se mostrar proativo diante da piora da escassez de dinheiro e da crise inflacionária, quanto o reflexo de uma vingança pessoal", apontou o relatório.

No caso da Chevron, os dois funcionários foram detidos depois de uma disputa com a PDVSA na qual a empresa queria que a Chevron trabalhasse com uma empresa escolhida pela estatal. "O diretor da PDVSA Manuel Quevedo parece ter permitido as prisões na Chevron a fim de mandar um sinal de alerta a outros parceiros da PDVSA de que eles precisam cooperar com os fornecedores escolhidos pela PDVSA ou terão de enfrentar as consequências", avaliou o grupo.

Para o Eurásia Group, o fato de os casos terem aparentemente motivações diferentes sugere que eles não fazem parte de uma campanha mais ampla contra o setor privado.

"Entretanto, os dois incidentes mostram um governo com ferramentas escassas para lidar com uma crise econômica que se deteriora rapidamente e ameaça a unidade interna do país", diz o relatório. Na avaliação do grupo, o governo de Nicolas Maduro faz poucos esforços para mudar sua política de câmbio ou promover outros tipos de ajustes no sentido de conter a hiperinflação do país e, por isso, recorre à intervenção e ao "bode expiatório".

Ao mesmo tempo, o encolhimento da riqueza do país disponível para ser compartilhada por Maduro com públicos considerados essenciais ao governo, aumenta a importância das medidas adotadas pelo Executivo como forma de garantir a lealdade dos que ainda apoiam sua administração. Neste contexto, explica o Eurasia Group, existe a possibilidade de Maduro voltar a intervir no setor privado com maior frequência, à medida que aumenta a urgência de reforçar o apoio interno ao Executivo.

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