Economia

Previsão é de queda no investimento este ano

O intervencionismo do governo é apontado como um dos fatores que afasta os investidores do Brasil

Congelamento dos preços da gasolina para distribuidores por vários anos foi prejudicial não só para a Petrobras como para o setor de etanol (Marcello Casal Jr./ABr)

Congelamento dos preços da gasolina para distribuidores por vários anos foi prejudicial não só para a Petrobras como para o setor de etanol (Marcello Casal Jr./ABr)

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Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2012 às 08h39.

Rio - Os investimentos são a grande decepção na retomada do crescimento da economia. As principais causas estão ligadas ao ambiente externo ruim, à queda do preço das commodities, à redução da rentabilidade na indústria e ao excesso de intervencionismo do governo, na visão de economistas e investidores.

A maior parte das projeções para 2012 é de investimentos em queda de até 3%, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, no Rio. Nesse contexto, a projeção de um relatório do Bradesco, de 9 de novembro, de crescimento nulo do investimento em 2012 se destaca pelo otimismo.

Para 2013, as projeções são bastantes variadas. A gestora de recursos JGP, do Rio, prevê expansão do investimento de apenas 3,4%, enquanto o relatório do Bradesco estima 7%. O Itaú e o banco de investimentos J. Safra projetam 5%.

Tomando-se uma visão mais de longo prazo, a se confirmarem as projeções para 2012 e 2013, parece que ficaram para trás os anos de vacas gordas do investimento, quando ele crescia a um ritmo de dois dígitos. Em 2007 e 2008, a expansão foi de, respectivamente, 13,9% e 13,4%.

Em 2009, auge da crise global, o investimento despencou 6,7%, mas se recuperou de forma espetacular em 2010, com um salto de 21,3%. Em 2011, a velocidade recuou para 4,7%. "Acho que a fase do investimento crescendo muito mais do que o PIB ficou para trás", diz Fernando Rocha, economista-chefe da JGP.

O economista Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, no Rio, diz que o cenário externo é o fator mais importante no mau desempenho do investimento.


Para ele, o Brasil se beneficiou até há alguns anos pela alta das commodities, que puxou o investimento. Agora, explica Castelar, "com o minério de ferro despencando, você não vai ver a Vale investindo, e isso acontece com outros setores também".

Castelar também acha que a área de infraestrutura está "mal parada", com concessões vencendo e muitas mudanças de regras em setores como o portuário, de energia e de ferrovias. "O equacionamento está confuso, é muita mudança ocorrendo, com uma clara atitude do governo em forçar queda das tarifas e da rentabilidade, que obviamente não é uma coisa que estimula o investimento", critica. Ele aponta ainda fatores mais estruturais no mau desempenho dos investimentos, como a carga tributária alta e complexa e a própria precariedade da infraestrutura, que reduz a produtividade e inibe o investimento.

Para Tony Volpon, chefe de pesquisa de mercados emergentes para as Américas do banco japonês Nomura, "o próprio governo, com seu ativismo frenético, cria incertezas domésticas, e, quando estas se conjugam com as incertezas externas, o investimento fica muito complicado".

O recente pacote de redução do custo de energia e renovação de contratos, que provocou grandes perdas das empresas afetadas, pela indenização de investimentos e tarifas menores do que se esperava, é apontado por muitos como o tipo de ação do governo com efeitos dúbios.

Por um lado, o barateamento da energia estimula investimentos. Por outro, o temor dos investidores em infraestrutura com medidas súbitas do governo que reduzam o valor dos negócios pode refrear decisões de investir.


Em recente rodada de conversas com investidores internacionais, o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ouviu queixas explícitas sobre o pacote energético de gestores de um fundo soberano asiático e de um fundo de pensão americano, ambos interessados em investir em infraestrutura no Brasil.

Profissionais ligados ao setor elétrico, porém, não veem impacto tão grande. Para o professor Nivalde José de Castro, do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica da UFRJ, "a renovação dos ativos velhos não vai minar os leilões de energia nova e de novas linhas de transmissão".

Flávio Antônio Neiva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), diz que o pacote "não vai prejudicar o ritmo de entrada de novas usinas". Tanto Castro quanto Neiva destacam que há uma separação total entre o pacote de renovação de concessões e os contratos para empreendimentos que vão gerar energia nova.

Outro mau exemplo de intervencionismo apontado por economistas é o congelamento por vários anos do preço da gasolina para distribuidores. Além de prejudicar a Petrobrás, o congelamento do preço da gasolina foi prejudicial para o setor de etanol - o preço do produto é definido como 70% do da gasolina.

"Isso acabou reduzindo brutalmente o mercado de etanol", diz Marcos Jank, ex-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). Segundo ele, os investimentos no setor de etanol, que chegaram a US$ 20 bilhões em meados da década passada, praticamente pararam, e se limitam à recuperação de canaviais.

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