Dólares saindo pela janela: movimento de compra da moeda esperado para dezembro pode motivar atuação do BC (Hiroshi Watanabe/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 13 de novembro de 2020 às 12h03.
Acumulando quase 40% de desvalorização em 2020, o câmbio ainda deve passar por uma pressão extra neste ano.
Isso porque instituições financeiras deverão comprar uma grande quantidade de dólares, que nos cálculos de agentes de mercado, pode chegar a US$ 16 bilhões, para ajustar suas posições de overhedge — uma epécie de seguro extra contra mudanças cambiais. A operação perdeu eficácia diante de mudanças anunciadas pelo governo no meio do ano, ligadas à tributação de investimentos no exterior.
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Até o meio do ano, os principais bancos brasileiros tinham mais de US$ 50 bilhões em overhedge ligados a investimentos no exterior, mas já começaram a desfazer sua posição, antecipando o movimento de desmonte que deve seguir em dezembro.
"Grande parte dessa redução foi no segundo trimestre, quando o dólar chegou a fechar em R$ 5,90 ( maior patamar da história). O BC chegou a atuar várias vezes em função desse fluxo de compra de dólares, mas não impediu que ele chegasse nesse nível", diz Alfredo Menezes, executivo-chefe da Armor Capital e ex-diretor da tesouraria do Bradesco.
O movimento, já amplamente esperado, chegou, inclusive, a causar grande desconforto entre mercado e Banco Central na semana passada, devido à informação de que a autoridade monetária estaria planejando uma intervenção para garantir liquidez ao mercado.
O ruído aconteceu após comentário extraoficial feito por um diretor da instituição durante uma live com o Itaú. Em sua fala, ele teria dado a entender, inclusive, que o BC pode ser um pouco mais "pró-ativo" em sua ação em relação a intervenções realizadas mais cedo neste ano.
Uma eventual supervalorização da moeda americana em relação ao real nesse contexto seria temporária, mas se somaria a outras forças contrárias. Primeiro, há o fato de que, historicamente, a liquidez em dólares é reduzida no mercado no fim do ano, quando empresas e fundos ficam menos dispostos a correr riscos.
"A isso soma-se o cenário de incerteza fiscal agravado pela falta de clareza em relação às reformas, já que o prazo para que o governo divulgue seu plano de ação está perto do fim", diz Arthur Mota, economista da Exame Research, braço de investimentos da Exame.
No limite, se a a taxa de câmbio ficar por mais tempo num patamar depreciado, acrescenta Mota, pode afetar inflação interna. Mas não precisa chegar nesse nível para impactar negativamente a economia:
"Essa volatilidade faz mal para economia como um todo. Esse é o maior mal. Atrapalha as operações, as previsões, o próprio timing do hedge", explica Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da corretora Órama. "A pessoa que importa, ao invéz de comprar, espera. Atrapalha tudo que está vinculado à taxa de câmbio e às operações de comércio, e isso acaba afetando as contas externas", diz. "É isso que o BC mais teme".