Economia

Prêmio Nobel, Stiglitz vê "descontos significativos" para dívida argentina

A segunda maior economia da América do Sul deve encolher pelo terceiro ano consecutivo em 2020

Guzmán e Fernández: o ministro da Economia argentina e o presidente ainda não revelaram a estratégia para renegociar bilhões de dólares em títulos e empréstimos com credores privados e com o FMI (Edgard Garrido/Reuters)

Guzmán e Fernández: o ministro da Economia argentina e o presidente ainda não revelaram a estratégia para renegociar bilhões de dólares em títulos e empréstimos com credores privados e com o FMI (Edgard Garrido/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 23 de janeiro de 2020 às 13h08.

O vencedor do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz tem um recado para investidores de dívida argentina: preparem-se para grandes perdas.

“A realidade é que terá que haver descontos significativos”, disse Stiglitz em entrevista na terça-feira durante o Fórum Econômico Mundial em Davos. “Não consigo conceber nenhum modelo razoável que exclua descontos significativos. Seria fantasia pensar de outra maneira.”

As palavras de Stiglitz certamente têm peso. O professor da Universidade Columbia foi orientador do ministro da Economia da Argentina, Martin Guzmán, encarregado de renegociar a dívida da Argentina. Eles também publicaram vários artigos juntos e, após a nomeação de Guzmán, Stiglitz escreveu um artigo elogiando seu antigo orientando.

O futuro econômico da Argentina depende muito da renegociação da dívida. A segunda maior economia da América do Sul deve encolher pelo terceiro ano consecutivo em 2020; o desemprego permanece na casa dos dois dígitos e a inflação está acima de 50%.

Estratégia da dívida

Guzmán e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, ainda não revelaram a estratégia para renegociar bilhões de dólares em títulos e empréstimos com credores privados e com o Fundo Monetário Internacional. Ainda assim, Fernández disse recentemente que deseja encerrar as negociações até 31 de março, porque os pagamentos da dívida aumentam após essa data.

Não está claro o que Stiglitz sabe sobre as opiniões atuais de Guzmán e seus planos para renegociar as dívidas. Os dois podem se encontrar durante um evento no Vaticano no início de fevereiro, de acordo com a agenda do Vaticano, embora Guzmán ainda não tenha confirmado presença.

Guzmán evitou uma pergunta sobre os comentários de Stiglitz durante conferência de imprensa em Buenos Aires, dizendo apenas que os detalhes das negociações da dívida “serão divulgados na hora certa”. Ele acrescentou que a Argentina não pode pagar a dívida nas condições atuais e que na terça-feira o governo enviará ao Congresso um plano para enfrentar a crise.

Stiglitz disse que a Argentina precisa de tempo para que a economia volte a crescer, uma frase frequentemente repetida por Guzmán, porque “sabemos o que acontece se seguirmos o outro caminho”. Ele acrescentou que os investidores deveriam saber no que estavam entrando quando compraram títulos argentinos e foram recompensados com retornos muito altos.

“Os credores deveriam saber sobre o risco; é por isso que cobram uma taxa alta”, disse. “Não estão sendo enganados. Provavelmente não fizeram a lição de casa, mas sabiam que havia um risco.”

A essa altura, os investidores de títulos argentinos já precificaram essas perdas. Os títulos de 100 anos do país, com vencimento em 2117, atualmente são negociados a 47,15 centavos de dólar, com retorno de 15,1%.

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