Economia

Preços dos alimentos bateram recordes em 2022 devido à guerra na Ucrânia

Poucos dias após o início da ofensiva russa, em 24 de fevereiro, os preços mundiais dos alimentos atingiram "seus níveis mais altos já registrados"

 (AFP/AFP Photo)

(AFP/AFP Photo)

A

AFP

Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 16h45.

Última atualização em 6 de janeiro de 2023 às 17h07.

Com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, que dificultou o comércio de trigo, milho e girassol, os preços dos alimentos básicos bateram recordes em 2022 — afirmou a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

A invasão da Ucrânia por parte da Rússia, quinto e primeiro exportadores mundiais de trigo, respectivamente, com 30% da oferta mundial, mergulhou os mercados de alimentos em uma era de incertezas desde fevereiro.

Poucos dias após o início da ofensiva russa, em 24 de fevereiro, os preços mundiais dos alimentos atingiram "seus níveis mais altos já registrados".

Em 2022, o índice de preços dos alimentos, que acompanha a variação dos valores internacionais de uma cesta de produtos básicos, estabeleceu-se em 143,7 pontos de média, “ou seja, mais 14,3% do que o valor médio de 2021”, indicou a FAO nesta sexta-feita, 6.

O recorde anterior remontava a 2011, quando houve crise alimentar e distúrbios pela fome na África, atingindo um índice de 131,9 pontos.

A invasão do centro do trigo da Europa destacou as fragilidades e dependências, especialmente dos países pobres, o que gerou temores de uma nova crise alimentar global.

O pior cenário, com "furacões de fome", como temia a ONU, foi evitado graças à retomada das exportações ucranianas neste verão. Mas os preços continuarão altos em 2023, sempre em meio à forte volatilidade.

“Os preços mundiais do trigo e do milho atingiram níveis recordes” em 2022, destacou a FAO.

No mercado europeu, o trigo subiu para € 438 (US$ 463) por tonelada em 16 de maio, depois de começar o ano cotado a € 270 (US$ 285). Com uma volatilidade sempre anormal, situou-se em cerca de € 315 (US$ 333) no final de dezembro, o que representa um aumento de quase 17% em um ano.

Como a Ucrânia também é um grande produtor de óleo de girassol, o valor médio do Índice de Preços dos Óleos Vegetais da FAO também bateu recorde ao longo do ano.

Os preços da carne e dos laticínios, por sua vez, atingiram "os níveis anuais mais altos desde 1990", segundo a agência da ONU.

Rússia como árbitro

Os preços dos alimentos voltaram a cair em abril e diminuíram de forma constante nos últimos nove meses. O índice da FAO de dezembro de 2022, com média de 132,4 pontos, caiu 1,9% em relação ao nível do mês anterior e ficou abaixo do nível de um ano atrás.

A tensão diminuiu ainda mais em julho, após a assinatura de um acordo para retomar as exportações de trigo ucraniano para o Mar Negro. Um "corredor" muito disputado e negociado sob os auspícios da ONU, que permitiu a retirada de 15 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas.

"É bom que os preços dos alimentos se acalmem após dois anos muito voláteis", disse Máximo Torero, economista-chefe da FAO.

Torero alertou que os preços mundiais dos alimentos "continuam altos, com muitos alimentos básicos próximos a níveis recordes, preços de arroz em alta e muitos riscos associados ao abastecimento futuro".

Os estoques mundiais de trigo são os maiores entre os exportadores, segundo a firma Agritel. Mas 35% estão na Rússia, que colheu mais de 100 milhões de toneladas de trigo e confirma assim sua posição de árbitro.

Em dezembro de 2022, o índice de preços do óleo vegetal caiu 6,7% em relação a novembro, chegando ao nível mais baixo desde fevereiro de 2021.

E o dos cereais recuou 1,9% em relação ao mês de novembro, devido à maior disponibilidade de trigo após as colheitas no Hemisfério Sul e à queda dos preços mundiais do milho.

LEIA TAMBÉM:

Acompanhe tudo sobre:Alimentoseconomia-internacionalPreçosUcrânia

Mais de Economia

Haddad: pacote de corte de gastos será divulgado após reunião de segunda com Lula

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos

Arrecadação federal soma R$ 248 bilhões em outubro e bate recorde para o mês