Economia

“Precisamos de âncora fiscal que nos permita ter maior previsibilidade”, diz CFO do Banco Mercantil

Segundo Paulino Andrade, crescimento econômico é positivo, mas juros altos e incertezas fiscais inibem investimentos e afetam expectativas do mercado e dos empresários

 (Banco Mercantil/Divulgação)

(Banco Mercantil/Divulgação)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 10 de outubro de 2024 às 13h47.

A alta da renda expandida ampliada, que inclui, além de salários, os benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais pagos pelo governo aos brasileiros, explica a surpresa com Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, impulsionado pelo consumo, que deve crescer acima de 3%. O nível de atividade tem ligação direta com o aumento de gastos públicos, que afeta as expectativas de inflação e eleva as perspectivas para endividamento do país em comparação com a geração de riquezas. As afirmações são do CFO do Banco Mercantil, Paulino Rodrigues, que espera uma alta de PIB de 3,1% neste ano.

“Precisamos de uma âncora fiscal que nos permita ter maior previsibilidade [sobre o ritmo de crescimento das despesas públicas]. Isso é especialmente importante quando olhamos para a dívida pública. A preocupação não é com o resultado desde ano, mas com a previsibilidade da execução fiscal do governo”, diz.

Essa incerteza fiscal, aponta Rodrigues, tem impedido que o Brasil capture os benefícios do ciclo de queda de juros nos Estados Unidos que, teoricamente, tenderiam a atrair capital estrangeiro para cá diante do aumento do diferencial de juros entre os dois países.

“O Brasil tem dificuldade de capturar esse benefício diante do risco fiscal. O endereçamento dessas questões requer uma ação do Executivo e do Legislativo. Falar é fácil, mas executar nem tanto. Uma coordenação entre os dois Poderes pode nos ajudar nesse processo, contribuir para a redução dos juros e da inflação”, afirma.

Reformas para equilibrar as contas públicas

Com as incertezas fiscais e aumento das expectativas de inflação, pondera o executivo, o Banco Central (BC) deve levar os juros para 11,75% no fim de 2024, elevá-los para 12,25% em 2025 e iniciar um processo de queda a partir em meados do ano que vem, o que fará a taxa a cair até 11,25%.

“Temos métricas positivas, com o crescimento surpreendendo, mas a sustentabilidade desse processo é posta em risco diante da questão fiscal e do cenário de juros altos que inibem investimentos e prejudicam o PIB potencial”, disse.

Rodrigues também alertou que a estratégia do governo equilibrar as contas públicas por meio de um viés arrecadatório tem limites, diante da carga tributária elevada do país.

Para ele, a previsibilidade nas contas públicas pode ser alcançada com uma reforma administrativa para racionalizar as despesas, pela desvinculação dos benefícios previdenciários, assistenciais e trabalhistas das regras de aumento real do salário mínimo.

Além disso, o executivo afirmou que é necessário um constante monitoramento no pagamento desses benefícios para que eventuais irregularidades sejam coibidas na concessão. “Na medida que o governo conseguir desatar esses nós, conseguiremos atrair mais capital para o Brasil”, disse.

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