Economia

Portugueses se preparam para agravamento da crise

Para 2013 já existem sinais de que crise e Troika serão palavras repetidas cotidianamente, tanto ou mais do que no ano que se encerra


	Moedas de Euro: essas previsões estão relacionadas à crise econômica que atinge a zona do euro
 (Gallup/Getty Images)

Moedas de Euro: essas previsões estão relacionadas à crise econômica que atinge a zona do euro (Gallup/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de dezembro de 2012 às 10h34.

Lisboa – Crise e Troika foram provavelmente as palavras mais ouvidas pelos portugueses em 2012. No Natal, por exemplo, até mesmo os “miúdos” (como os portugueses chamam as crianças) foram presenteados com o livro A Crise Explicada às Crianças, de João Miguel Tavares, ou com o jogo de tabuleiro Vem aí a Troika! - uma referência direta ao Fundo Monetário Internacional (FMI), à Comunidade Europeia (CE) e ao Banco Central Europeu (BCE), as três instituições internacionais que bancam o acordo de assistência financeira com Portugal.

Para 2013 já existem sinais de que crise e Troika serão palavras repetidas cotidianamente, tanto ou mais do que no ano que se encerra. O próprio governo português admite que haverá mais desemprego, com a taxa subindo para acima de 16%, além da redução de 2% no consumo das famílias e de recessão, com -1% de riqueza produzida pelo país.

Essas previsões estão relacionadas à crise econômica que atinge a zona do euro, mas também são efeitos colaterais dos remédios que Portugal está tomando para equilibrar suas receitas e despesas e poder voltar a vender no mercado financeiro os títulos do Tesouro, por meio do qual o Estado financia investimentos e fecha as contas.

O remédio tem a cifra de 183,7 bilhões de euros – valor previsto para o Orçamento de Estado 2013, tanto para o total de receita arrecadada quanto para o total de despesas que o governo projeta gastar no novo ano. O equilíbrio prometido é um feito raro em Portugal. Desde 1950, apenas duas vezes foi possível controlar e reduzir as despesas públicas.


Para acertar as contas e honrar compromissos assumidos com a Troika, o governo estabeleceu novas alíquotas do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares (equivalente ao Imposto de Renda Pessoa Física brasileiro), estabeleceu aumento linear de 3,5% para todos os contribuintes, restringiu o pagamento do seguro desemprego e cortou pensões e aposentadorias.

Há ameaças ainda de alteração dos financiamentos para a saúde e educação (o governo precisa eliminar mais 4 bilhões de euros de gastos). Segundo especialistas, vai aumentar a desigualdade social em Portugal. O governador do Banco de Portugal (cargo equivalente ao do presidente do Banco Central no Brasil), Carlos da Silva Costa, por exemplo, admite que a desigualdade social é “resultante do desemprego involuntário”.

Nesse contexto, as relações econômicas entre capital e trabalho estão se deteriorando. O jurista e professor de direito do trabalho do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Antònio Monteiro Fernandes, alerta que depois da crise há “mais poder patronal, menos repouso, menos rendimento para os trabalhadores”.

Para ele, “a legislação protetora dos assalariados (públicos e privados) é uma das grandes vítimas da operação política em curso. Quiseram, simplesmente, fazer regredir um conjunto de vantagens e garantias que (inclusive com base constitucional) se acumularam ao longo das últimas (muitas) décadas”.

As reformas, segundo o professor, estão sendo implementadas em nome da “competitividade”, mas “não existe nenhuma confirmação empírica para a eficácia dessas medidas”. Para o jurista “trata-se de uma questão de fé e ideologia pura”.

Acompanhe tudo sobre:BCECrise econômicaEuropaFMIPiigsPortugal

Mais de Economia

Governo reduz contenção de despesas públicas de R$ 15 bi para R$ 13 bi e surpreende mercado

Benefícios tributários farão governo abrir mão de R$ 543 bi em receitas em 2025

“Existe um problema social gerado pela atividade de apostas no Brasil”, diz secretário da Fazenda

Corte de juros pode aumentar otimismo dos consumidores nos EUA antes das eleições