Economia

Por que a queda do euro é uma dádiva para a Europa

Euro caminha para se igualar ao dólar muito antes do que o previsto; as exportações e a recuperação da economia europeia agradecem

Reformas do Euro (Getty Images)

Reformas do Euro (Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de março de 2015 às 17h28.

São Paulo - O euro está em queda livre: nesta quarta-feira, ele atingiu seu menor nível em relação ao dólar em 12 anos.

Há pouco tempo, bancos como o Goldman Sachs previam "ousadamente" que o valor das duas moedas iria se igualar daqui uns dois anos.

Hoje, há quem espere uma paridade já em 2015. Um euro estará valendo US$ 0,85 em 2017, diz o último relatório do Deutsche Bank. 

Prever taxa de câmbio é uma das tarefas mais inglórias para um economista, mas uma coisa é certa: mesmo que seja revertida em algum momento, a desvalorização do euro tem sido uma dádiva para os países que o usam.

Para começo de conversa, as razões para essa queda tem sido o fortalecimento generalizado da moeda americana e a injeção de recursos pelo Banco Central Europeu (BCE). No passado, o euro caía por razões bem mais preocupantes, como o risco de dissolução do bloco.

Com desemprego persistente e demanda enfraquecida, a zona do euro precisa desesperadamente tirar seu crescimento de algum lugar, e o setor externo apareceu como uma boa solução.

Competitividade

A economia europeia é bastante aberta: as exportações respondem por mais de um quarto do seu PIB, o dobro da taxa americana e mais até do que na China.

E a relação entre a moeda europeia e a de seus principais parceiros despencou 9% desde o início desse ano. O turismo também acabou sendo estimulado. Se existe alguma forma de ganhar competitividade no curto prazo sem reformas, é essa. 

Ao mesmo tempo, a queda do preço do petróleo aliviou o balanço da maior parte dos países do bloco, que precisam importar o recurso. Já em dezembro, a Capital Economics previa que a Europa teria em 2015 o maior superávit comercial do mundo, e ele está se materializando.

Desvalorização de moeda também tem impacto sobre a inflação, mas no caso da zona do euro, até isso é boa notícia, já que o risco atual é justamente o de cair em uma espiral deflacionária.

Combinados, todos esses fatores tem criado uma "mudança positiva no ímpeto de crescimento", segundo a OCDE. A indústria parou de cair, as vendas no varejo sobem mais que o esperado e os preços não caíram no ritmo previsto. O BCE já fala em rever para cima as projeções de crescimento.

Brasil

No Brasil, o real cada vez mais desvalorizado também deve dar uma força para as exportações e ajudar a balança comercial, que teve em 2014 seu pior resultado desde 2000.

Por enquanto, isso não está acontecendo, porque a queda nos preços das commodities exportadas pelo Brasil está tendo um impacto negativo maior do que o choque positivo entre os manufaturados.

O Brasil também não pode se dar ao luxo de absorver mais impacto sobre a inflação. De acordo com a consultoria Schwartsman e Associados, uma alta de 10% no dólar pode acrescentar 0,7 ponto percentual no IPCA do ano - e isso em uma taxa que já flutua bem acima do teto da meta

Vale lembrar também que ao contrário da Europa, o Brasil é uma das grandes economias mais fechadas do mundo. O que serve como escudo em tempos de crise internacional impede que o comércio exterior seja uma força positiva em tempos de recuperação como o atual.

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