Economia

Por que o Brasil tem só 15 anos para ficar rico

País vive transição demográfica e poderia se beneficiar do maior número de pessoas em idade para trabalhar. O problema é o alto desemprego

Centro de São Paulo: a crise econômica gerada pela pandemia elevou o número de desempregados e impede que país se beneficie do grande número de pessoas em idade para trabalhar (Amanda Perobelli/Reuters Business)

Centro de São Paulo: a crise econômica gerada pela pandemia elevou o número de desempregados e impede que país se beneficie do grande número de pessoas em idade para trabalhar (Amanda Perobelli/Reuters Business)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 7 de agosto de 2020 às 12h52.

O Brasil tem até 2035 para tirar proveito do perfil etário mais jovem de sua população e enriquecer antes de envelhecer.

O país está na fase final do chamado bônus demográfico, fenômeno que ocorre quando há, proporcionalmente, um maior número de pessoas em idade ativa aptas a trabalhar, ante o grupo que não gera renda: o de crianças, jovens e idosos.

Isso gera um impulso natural na economia dos países e, se bem aproveitado, pode elevar o padrão de vida de uma nação. O Brasil, porém, tem desperdiçado esse momento, como mostra uma reportagem na última edição da EXAME.

“O bônus demográfico, que só acontece uma única vez na história de qualquer país, é temporário e precisa ser aproveitado para gerar um salto no desenvolvimento”, diz o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor na Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ele calcula que o melhor momento demográfico para o Brasil tenha sido entre os anos de 2015 e 2020, mas os próximos 15 anos ainda podem ser vantajosos do ponto de vista da transição etária da população.

Se hoje, para cada grupo de 100 brasileiros, 57 estão em idade de trabalhar, em 2035, o número dos que estarão aptos a produzir será de 51. A partir daí, o contingente das pessoas consideradas dependentes - crianças, jovens e idosos – passará a ser maior do que o dos em idade produtiva.

Isso ocorre porque as famílias brasileiras têm hoje um número menor de filhos e a população está envelhecendo, aumentando a parcela dos que têm mais de 65 anos.

O problema é que para aproveitar bem o bônus demográfico o país precisa gerar empregos. A taxa de desemprego subiu para 13,3% no trimestre que vai de abril a junho, uma alta de 1,1 ponto percentual em relação ao período anterior, findo em março, informou o IBGE nesta quinta-feira, 6.

Hoje, a população fora da força de trabalho chegou a 77,8 milhões de brasileiros, o maior contingente já registrado. Nesse número, além dos desempregados e dos que desistiram de procurar uma ocupação, estão as pessoas subutilizadas, aquelas que trabalham menos horas do que gostariam e somam 32 milhões de indivíduos.

“Chegamos ao melhor momento do bônus demográfico com uma conjuntura econômica muito ruim”, diz Diniz. A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus só piorou a situação: a recuperação do mercado de trabalho vinha em passos lentos desde a forte recessão que marcou os anos de 2015 e 2016.

Mas ainda dá tempo de reagir. Para o país tentar tirar o melhor do que resta do bônus demográfico, é preciso atacar algumas frentes, como elevar a oferta de emprego e universalizar a educação de qualidade.

A inspiração do que o Brasil ainda pode fazer vem de um país da própria América Latina. A Costa Rica teve a queda mais brutal da natalidade em todo o continente entre 1960 e 1975, mas diferenciou-se de seus vizinhos pelo investimento em educação e saúde e por uma estabilidade notável de políticas.

A China também tem se destacado em como aproveitar o bônus demográfico. Apesar de ter proibido em 1979 que as mulheres tivessem mais de um filho, política que só foi flexibilizada nos últimos anos, o país mais populoso do mundo investiu na geração de empregos e no desenvolvimento tecnológico para crescer ao ritmo de dois dígitos.

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