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Por que investir em mulheres no comércio, agora, faz sentido econômico

OPINIÃO | Apex aposta em equidade de gênero nas exportações

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 22 de outubro de 2024 às 06h06.

Por Jorge Viana, Ana Repezza e Pamela Coke-Hamilton *

Como já dizia o velho ditado, "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura." Grandes mudanças nem sempre vêm de forma abrupta, seja em decorrência de uma grande mudança política ou em resposta a uma crise global. As mudanças podem surgir por meio de ações coordenadas e sucessivas, que acontecem em menor escala, mas, quando somadas, conseguem de fato provocar alterações sociais significativas.

Em certa medida, é isso que vem acontecendo no Brasil no que diz respeito a questão de equidade de gênero. Hoje, vemos uma série de políticas direcionadas para a equidade de gênero e que vêm transformando o cenário social brasileiro. Esta semana, por exemplo, como parte da Reunião Ministerial de Comércio e Investimentos do G20, em Brasília, a Presidência Brasileira está destacando o papel das mulheres no comércio internacional como uma área prioritária. O governo também tem incorporado capítulos de comércio e gênero nas recentes negociações de acordos comerciais.

De forma mais ampla, o país – o maior em termos de economia e população da América Latina e Caribe – possui políticas que apoiam a igualdade de gênero em áreas como saúde e educação. Quase dois terços dos formados em universidades são mulheres.

No entanto, quando se trata dos elementos práticos para capacitar mulheres empreendedoras a venderem além das fronteiras, há bastante trabalho a ser feito.

Embora as mulheres representem mais da metade da população, apenas 14% das empresas exportadoras no Brasil possuem conselhos decisório majoritariamente compostos por mulheres, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Esses dados contrastam com o fato de que empresas exportadoras lideradas tendem a ganhar mais, pagar mais, empregar mais pessoas e serem mais produtivas do que empresas que operam apenas no mercado doméstico, segundo o Centro de Comércio Internacional (ITC). Contrasta também com o fato de que empresas exportadoras lideradas por mulheres também são mais produtivas ao compararmos com empresas exportadoras lideradas por homens.

Em resumo, capacitar mais mulheres para se beneficiarem e contribuírem para o crescimento econômico impulsionado pelo comércio– aqui no Brasil e além – não é apenas a coisa certa a se fazer, mas possui uma razão econômica. Investir em mulheres traz retorno.

Lançando o Hub SheTrades

É por isso que nós – a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e o Centro de Comércio Internacional (ITC) – nos unimos para lançar, em Brasília, um centro de recursos dedicado a apoiar mulheres empreendedoras de todo o país a expandirem seus negócios e a venderem seus bens e serviços para compradores internacionais: o SheTrades Brazil Hub.

Este ano, mais de 1.000 empresas lideradas por mulheres aprimoraram suas habilidades empresariais e comerciais por meio de treinamentos realizados pelos SheTrades Hubs espalhados por países na África, Ásia, América Latina e Caribe, Oriente Médio.

O SheTrades Brazil Hub, sediado pela ApexBrasil, torna-se o 19º Hub dessa natureza. Ele fornecerá às mulheres empreendedoras inteligência de mercado oportuna, treinamento de habilidades e acesso a redes necessárias para impulsionar sua participação no comércio global.

Os serviços do Hub estarão integrados ao programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI) da ApexBrasil, criado pela Agência no ano passado para apoiar mulheres empreendedoras por meio de treinamentos, mentoria e acesso a financiamento. Até agora, mais de 3.000 empresas lideradas por mulheres receberam apoio do Programa, incluindo aquelas das regiões mais carentes do Norte e Nordeste do país.

Embora as instituições nacionais já ofereçam serviços de apoio às mulheres que estão iniciando suas jornadas empreendedoras e disponibilizem balcões de atendimento sobre requisitos de exportação e importação, o SheTrades Brazil Hub reunirá esses serviços, além de recursos globais, ferramentas e serviços do ITC – a agência conjunta das Nações Unidas e da Organização Mundial do Comércio – sob um único guarda-chuva. O objetivo é responder às necessidades e oportunidades específicas das mulheres e relacionadas ao comércio. Como anfitriã do Hub, a ApexBrasil colaborará com outros Hubs para melhorar e expandir sua oferta de serviços.

Essa parceria destinada a criação do SheTrades Brazil Hub faz parte de uma colaboração mais ampla e contínua entre a ApexBrasil e o ITC, que aborda áreas prioritárias como conectividade digital e comércio eletrônico, desenvolvimento de modelos de negócios para bens e serviços da bioeconomia e integração de ferramentas de inteligência de mercado e comércio nas ofertas da ApexBrasil.

Criando um ambiente empresarial favorável às mulheres

No nível político, o SheTrades Brazil Hub está agindo com base nas percepções da ferramenta de política do ITC, o SheTrades Outlook, que mapeou o ambiente político para mulheres nos negócios e no comércio, com dados coletados de 23 entidades do setor público e privado.

Os resultados mostram, por exemplo, que o Brasil está progredindo na coleta de dados desagregados por gênero sobre empresas exportadoras e tem promovido empreendedorismo feminino por meio da Agenda Transversal Mulheres 2024–2027 e da Estratégia Elas Empreendem.

Os resultados também identificam áreas para progresso. Com base nessa ferramenta, as mulheres empreendedoras brasileiras estão prontas para expandir seus negócios e se envolver mais no comércio internacional, juntando-se a milhares de mulheres em todo o mundo. No início deste ano, o ITC conectou membros de sete SheTrades Hubs na África com 10 investidores do Reino Unido e 23 corporações africanas, o que resultou em negócios de US$ 161.000 em três meses.

"Consegui vender uma tonelada de sabão para Barbados, como resultado", diz Ruth Wewura Guribie, proprietária de uma pequena empresa em Gana chamada Shava Shea.

Agora é a vez das empresárias brasileiras expandirem. E a ApexBrasil em parceria com o ITC estará aqui para apoiá-las em cada passo do caminho rumo à conquista de novos mercados.

*Pamela Coke-Hamilton, Diretora Executiva, Centro de Comércio Internacional (ITC)

*Jorge Viana, Presidente, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil)

*Ana Repezza, Diretora de Negócios, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil)

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