Funcionário em posto de gasolina fora de serviço da PDVSA em Caracas no dia 29/01/2019 (Carlos Becerra/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 09h59.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 às 10h04.
A escassez de gasolina está começando a ser sentida nos arredores de Caracas após as sanções do mês passado que, na prática, criaram uma proibição à compra de petróleo venezuelano por parte dos EUA.
As filas estão se formando nos estados a oeste da capital, como Portuguesa e Barinas, onde os motoristas agora percorrem longos trechos sem achar um posto de gasolina aberto e são obrigados a fazer filas de uma hora para encher o tanque.
Com medo de que a escassez dure muito tempo, os motoristas também estão enchendo tambores de plástico com combustível para armazenar em casa.
Embora a Venezuela ainda receba importações da Espanha e do Caribe, é provável que o combustível não seja suficiente para atender à demanda local.
Com as sanções recentes dos EUA, que tentam privar o presidente Nicolás Maduro do dinheiro do petróleo, os funcionários da Petróleos de Venezuela estão lutando para achar vendedores de produtos refinados, como a nafta, que são essenciais para manter sua debilitada indústria em funcionamento.
Em janeiro, antes de o presidente dos EUA, Donald Trump, impor essas novas medidas à Venezuela, quase dois terços das importações de gasolina do país eram provenientes dos EUA.
Com mais reservas de petróleo do que a Arábia Saudita, a Venezuela vendeu por muito tempo a gasolina mais barata do mundo e encher o tanque custava menos de um centavo de dólar.
No entanto, anos de má administração, junto com a queda dos preços das commodities em 2014 levaram o país socialista a uma crise econômica marcada por uma grave escassez de alimentos, hiperinflação e paralisação dos serviços públicos.
A produtividade das refinarias da PDVSA na Venezuela, que tem a terceira maior capacidade da América Latina, caiu para 23 por cento nesta semana, segundo uma pessoa com conhecimento da situação. Em comparação, as refinarias nos EUA estão trabalhando a mais de 85 por cento de sua capacidade.
Em um evento perto de Nova Dhéli, o ministro do Petróleo, Manuel Quevedo, disse que o país não tinha problemas com o fornecimento de gasolina na semana passada.
A perspectiva é de que as sanções agravarão a escassez de combustível, que já se tornou comum à medida em que a produção da PDVSA cai para mínimos históricos e a falta de manutenção paralisa o sistema de refino do país.
A situação foi crítica pela última vez em dezembro passado, quando a escassez provocou longas filas e engarrafamentos na capital antes dos feriados de Natal.
A Venezuela obtinha combustível principalmente com transações de swap -- nas quais o país fornecia petróleo bruto em troca de gasolina, diesel e diluentes -- em operações com grupos como a Trafigura Group, a Litasco, o braço de trading da russa Lukoil, e a Reliance Industries. A Trafigura e a Litasco suspenderam novos acordos comerciais com a PDVSA em meio às sanções.
Enquanto isso, a produção de petróleo do país continuou caindo em janeiro, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Os dados do grupo, obtidos de fontes secundárias, mostraram uma produção de 1,11 milhão de barris por dia, uma queda de 31 por cento em relação ao ano anterior.