Economia

Por que Delfim Netto está pessimista com o Brasil

O economista vê apenas um nome para a Presidência capaz de articular um novo pacto com o Congresso e o STF para recuperar o protagonismo do Executivo

Delfim Netto, economista e ex-ministro da Fazenda, em maio de 2016 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Delfim Netto, economista e ex-ministro da Fazenda, em maio de 2016 (Paulo Fridman/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de julho de 2018 às 08h00.

Última atualização em 7 de julho de 2018 às 08h01.

O ex-ministro Antônio Delfim Netto está pessimista com o Brasil.

O problema fiscal, diz, é pior do que parece, deve ser carregado por um longo período e vai levar a uma escalada da dívida pública enquanto o Congresso, movido por interesses próprios, continua a aprovar medidas que agravam o rombo.

O país vive uma situação social "dramática", com 13 milhões de desempregados, e carece de alternativas políticas capazes de orquestrar uma solução e recuperar o protagonismo perdido pelo Executivo.

"Nós devíamos estar dizendo para a sociedade que a situação é dramática", afirma Delfim. "A solução para isso vai exigir sacrifícios de todos".

Um cálculo “grosseiro”, diz ele, indica necessidade de um ajuste da ordem de 5% do PIB apenas para estabilizar a dívida nos níveis atuais.

Mesmo diante desse quadro, o Brasil ainda não tem, segundo ele, um candidato a presidente com a vontade e o poder político necessários para implementar as medidas necessárias para recuperar as contas públicas, a começar por uma reforma da Previdência.

Delfim destaca ainda como essencial que o próximo mandatário tenha a capacidade de articular um novo pacto com o Congresso e o Supremo, a fim de recuperar o protagonismo do Executivo. "É preciso alguém com musculatura," afirma Delfim.

Novo impeachment?

O economista de 90 anos vê apenas um nome capaz de cumprir esse papel, nome este que ele prefere manter sob sigilo, mas que não figura entre os atuais pré-candidatos à presidência.

Ele vê ainda o risco de que as forças políticas de centro apenas tomam a decisão de se unir em torno de um único nome "quando for tarde demais".

Delfim afirma que os empresários também estão pessimistas diante do atual cenário. “A cabeça deles está em pânico, porque não veem nenhum futuro", diz. Antes dos primeiros 100 dias do próximo governo, “ninguém vai pensar em investimento no Brasil”.

“O próximo presidente tem de entrar com um programa realmente correto ou, então, pagar as consequências", diz. Quais seriam as consequências? O país não crescer mais, deteriorando ainda mais o ambiente político e levando o próximo presidente a sofrer um impeachment.

PIB e juros

Delfim cortou sua projeção de crescimento neste ano de 2,5% para até 1,2%, refletindo a piora generalizada na confiança dos investidores após a greve dos caminhoneiros que paralisou o país em maio.

Ele elogiou, contudo, a articulação entre Banco Central e Tesouro para conter a escalada do dólar, suavizando a volatilidade do câmbio e os movimentos dos juros futuros, diante da piora do ambiente externo.

“É a primeira vez que você tem uma ação de profissionais", diz. “O BC está se comportando bem, não caiu na conversa mole do mercado de subir os juros. Ele está no regime de metas inflacionárias, na qual a variável básica é a inflação”, conclui.

Acompanhe tudo sobre:Ajuste fiscalCongressoCrescimento econômicoDelfim Nettoeconomia-brasileiraEleições 2018ImpeachmentInflaçãoJurosPIBPIB do Brasil

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE