São Paulo - A China abandonou a política de filho único e vai permitir que os casais tenham dois filhos.
A decisão, tomada pelo comitê central do Partido Comunista e comunicada pela agência estatal Xinhua, tem como objetivo "balancear o desenvolvimento populacional e enfrentar o desafio de uma população que envelhece".
A decisão não surpreende, mas representa o fim de uma era. A política do filho único foi imposta em 1979, quando a taxa de fertilidade era de 2,81 filhos por mulher e o governo temia que o crescimento populacional fosse fugir do controle.
Poucas exceções eram permitidas e a fiscalização era intensa. No longo prazo, a preferência pelo sexo masculino gerou um excedente de homens solteiros que deve chegar a 30 milhões já em 2020 e causa tensões sociais.
"Isso não tem paralelo no mundo e talvez seja um dos exemplos mais draconianos de engenharia social já vistos", diz Feng Wang, do centro de política pública Brookings-Tsinghua.
Em 2013, a taxa de fertilidade já havia caído para 1,17 filho por mulher, abaixo do nível de substituição, e o governo começou a flexibilizar a regra - mas não conseguiu atingir a meta de gerar 2 milhões de novos nascimentos desde então.
A preocupação é econômica: o boom demográfico do país já passou. Veja no gráfico: em azul estão os jovens, na cor salmão estão aqueles em idade de trabalhar e em verde estão os idosos.
Isso significa cada vez menos jovens sustentando cada vez mais idosos. É o desafio das pensões, generalizado nos países desenvolvidos e que agora chega aos emergentes.
Veja a evolução da taxa de dependência (proporção entre aqueles com mais de 65 anos e aqueles entre 15 e 64 anos) na China e no Leste Europeu:
"A política do filho único, estendida por tempo demais, significou que o apoio aos idosos ficou cada vez mais escasso. Com uma rede de proteção social insuficiente, a poupança pessoal cresceu como forma de guardar para a aposentadoria", diz um relatório recente do Morgan Stanley.
"Apesar de uma proporção maior dos idosos trabalhar na Ásia do que na Europa ou na América do Norte, o aumento da longevidade vai aumentar a taxa de dependência na China e em outros lugares. O resultado será um declínio na taxa de poupança pessoal e no balanço de conta corrente da China - o que já começou a acontecer".
O desenvolvimento vertiginoso da China nas últimas décadas foi baseado em um modelo de muita poupança e investimento - o oposto do Brasil, mas que nos favoreceu através do apetite voraz pelas nossas commodities.
Só que isso chegou em um limite e a China está desacelerando. As reformas no país, incluindo o fim da política do filho único, são tentativas de caminhar para um modelo com mais ênfase em consumo, serviços e inovação.
-
1. O mundo hoje
zoom_out_map
1/6 (Getty Images)
São Paulo - Crescimento, inflação, demografia e ambiente de negócios. Com apenas estes quatro dados dá para fazer um retrato robusto, ainda que parcial, da situação econômica de qualquer país. É isso que mostram os mapas de um relatório do
HSBC concluído no começo do mês e compartilhado com EXAME.com. A situação da
economia brasileira não é nada animadora. O país é um dos únicos do mundo efetivamente em
recessão e onde a inflação se aproxima dos dois dígitos anuais. No perfil populacional, não podemos contar mais com o bônus demográfico dos últimos anos, mas também não temos nada comparável à situação do leste europeu. O ambiente de negócios teve melhora, mas muito modesta, e segue lá em baixo na comparação mundial. Veja a seguir os 4 mapas que mostram a situação atual da economia global:
-
2. Crescimento
zoom_out_map
2/6 (HSBC)
O primeiro mapa traz as últimas taxas anualizadas de
crescimento do PIB. Em vermelho estão os (poucos) países com crescimento negativo, como Rússia, Venezuela, Grécia e Brasil. Os números da economia brasileira
mostraram uma queda do PIB no 2º trimestre de 1,9% em relação ao trimestre anterior e 2,6% em relação ao mesmo período de 2014, deixando evidente a
recessão já captada por todos os outros indicadores. Em cinza claro, escuro e preto ficam os países com crescimento acima de 2%. O grupo inclui Estados Unidos, boa parte da Europa e praticamente toda a Oceania, África e Ásia - incluindo
a estrela Índia e também a China, mesmo com desaceleração.
-
3. Inflação
zoom_out_map
3/6 (HSBC)
No mapa de
inflação, importam os extremos. Uma grande parte da América Latina e da África tem inflação anualizada acima de 4% - no caso do Brasil, ela
já bateu até agosto o teto da meta para o ano inteiro e está perigosamente próxima dos dois dígitos. Do outro lado, em vermelho ou rosa escuro, estão países com inflação muito baixa ou até deflação - o que também é um risco. Se as pessoas imaginam que os preços não vão subir, elas não tem nenhum incentivo para gastar hoje ao invés de amanhã e o dinheiro fica guardado. Além disso, a dívida não perde valor relativo, um risco em países muito endividados como os europeus e o Japão.
-
4. População em idade de trabalhar
zoom_out_map
4/6 (HSBC)
Este mapa mostra a taxa esperada de crescimento anual da população em idade de trabalhar entre 2015 e 2020, algo que vai contar a favor da África. A situação não é ideal mas também não ameaça países como Estados Unidos e Brasil. A Índia é o único dos
BRICS que ainda pode contar com o chamado "bônus demográfico"; na China, a política do filho único
começa a cobrar seu preço.
No Japão e boa partes da Europa, o envelhecimento da população é uma pressão considerável sobre as finanças públicas e o crescimento (e mais imigração é uma solução óbvia). Na Rússia e no leste europeu, a população está em queda e as perspectivas são sombrias.
-
5. Ambiente de negócios
zoom_out_map
5/6 (HSBC)
O útimo mapa toma como base o último relatório Doing Business do
Banco Mundial, que mede a facilidade de fazer negócios em cada país. O
top 10 está em preto: neste grupo ficam países como Singapura, Estados Unidos e Nova Zelândia.
Os últimos 30 estão em vermelho, a maior parte deles na África. O Brasil subiu 3 posições na última edição mas ainda
amarga o 120º lugar. Na abertura de uma empresa, o País é o 167º. Em conseguir permissão para construção, é o 174º. Chile e Colômbia são os latino-americanos mais bem posicionados.
-
zoom_out_map
6/6 (Reuters)