Economia

Polêmicas de Guedes tiveram efeito inesperado de destravar reforma

Ministro foi alvo de fortes críticas após comparar servidores públicos a parasitas e dizer que na época do dólar fraco até empregadas iam à Disney

Paulo Guedes entre os presidentes da Câmara e do Senado (Amanda Perobelli/Reuters)

Paulo Guedes entre os presidentes da Câmara e do Senado (Amanda Perobelli/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 20 de fevereiro de 2020 às 10h52.

Declarações controversas do ministro da Economia, Paulo Guedes, nas últimas semanas acabaram gerando um efeito inesperado: ajudaram a destravar a reforma administrativa.

Guedes foi alvo de fortes críticas após comparar servidores públicos a parasitas e dizer que na época do dólar fraco até empregadas domésticas viajavam para Disney. Essa reação fez o presidente Jair Bolsonaro a ampliar o apoio a Guedes e sua agenda de reformas, segundo três integrantes do governo que não estão autorizados a falar publicamente sobre o assunto.

Para mostrar apoio a Guedes, Bolsonaro veio a público na terça-feira para dizer que o ministro não pediu para sair do governo e que continuará no cargo até o fim de seu mandato. Horas depois, o presidente se reuniu com Guedes para bater o martelo sobre o envio da reforma administrativa ao Congresso.

O texto que altera as regras de contratação e de remuneração dos servidores públicos estava tecnicamente pronto. Na reunião de terça-feira, recebeu o apoio político que faltava ao projeto, segundo um integrante da equipe econômica.

O Ministério da Economia não quis comentar. O Palácio do Planalto não respondeu imediatamente o pedido de comentário.

Conveniência

“Por ora, segue o casamento, como gosta de dizer o presidente Bolsonaro”, diz a equipe da XP Política, em nota. “Bolsonaro e Guedes nunca esconderam que se juntaram mais por conveniência do que por amor. E por isso, o casamento permanece enquanto for conveniente para os dois.”

Guedes e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, sempre foram grandes defensores da reforma, voltada a reestruturar as carreiras do funcionalismo público, que consome 14% do PIB com servidores ativos e inativos. O pagamento de pessoal e encargos sociais representa quase 25% das despesas obrigatórias do governo federal, segundo o Ministério da Economia.

Bolsonaro e integrantes de seu gabinete, especialmente a ala militar, no entanto, eram refratários à ideia. Especialmente porque servidores públicos, além de terem um lobby organizado no Congresso, são apoiadores do presidente.

Não houve uma mudança sobre esta percepção, e sim a necessidade de Bolsonaro chancelar seu ministro diante de declarações controversas e polêmicas que indignaram aliados do governo e sua base eleitoral, especialmente nas redes sociais, segundo as fontes.

Após o afago público, Bolsonaro cancelou o lançamento do programa Brasil Mais, que tem o objetivo de beneficiar microempresas, para finalizar com Guedes a reforma administrativa na terça-feira. Em seguida, o ministro esteve com os presidentes da Câmara e do Senado para organizar a agenda de votação das reformas.

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